A Festa dos Tabuleiros realiza-se de 4 em 4 anos no princípio de julho. A sua origem remonta ao Culto do Espirito Santo, instituído no Séc. XIV, mas nela se vislumbram as origens remotas das antigas festas das colheitas, seja pela profusão de flores, seja pela presença do pão e das espigas de trigo nos tabuleiros.
A Festa inicia-se no Domingo de Páscoa, com a Saída das Coroas e Pendões de todas as freguesias em procissão animado por gaiteiros, tamborileiros, fogueteiros e bandas de música.
A partir daí, repetir-se-á sete vezes tal Procissão, apresentando apenas as Coroas e Pendão da Cidade e algumas das freguesias. Vedada a participação das crianças no Grande Cortejo, o Cortejo dos Rapazes é a solução encontrada para que às crianças seja dada a possibilidade de viverem intensamente a sua Festa. O Cortejo dos Rapazes é um cortejo à imagem da Grande Cortejo, que ocorre na domingo anterior a este, nele participando os alunos dos Jardins de Infância e Escolas Básicas.
Na sexta-feira anterior ao Cortejo dos Tabuleiros tem lugar o Cortejo do Mordomo, o qual simboliza a entrada na cidade dos bois do sacrifício que, no passado, viriam a ser abatidos para distribuição da carne.
Antigamente chamava-se Cortejo dos Bois do Espírito Santo; hoje é um importante cortejo de carruagens e cavaleiros, com as parelhas de bois à cabeça.
As ruas do Centro Histórico são ornamentadas com milhões de flores de papel confeccionadas durante muitos meses de labor apaixonado.
No sábado anterior ao do Grande Cortejo, de manhã, chegam das freguesias, nos Cortejas Parciais, as centenas de Tabuleiros que no dia seguinte irão desfilar. À tarde têm lugar os jogos Populares Tradicionais (corrida de bilhas e pipas, tração de cordas, subida do pau ensebada, chinquilho,…).
O Cortejo é um caudal imenso e serpenteante de cor e música. Centenas de pares fazem o cortejo: o traje feminino compõe-se de vestido comprido, com uma fita colorida a cruzar o peito, levando no alto os Tabuleiros; o traje masculino é uma simples camisa branca e mangas arregaçadas, calças escuras, barrete ao ombro e gravata na cor da fita da rapariga.
A fechar o Cortejo vão os carros triunfais do pão, da carne e do vinho puxados pelos bois do sacrifício simbólico.
O Tabuleiro é o Símbolo e principal alfaia da Festa dos Tabuleiros. Deve ter a altura da rapariga que o carrega. Ornamenta-se com flores de papel, verdura e espigas de trigo. É constituído por 30 pães de formato especial e 400 gramas cada, enfiados equitativamente em 5 ou 6 canas.
Na base, um lençol branco símbolo de pureza, os 30 pães representam as 30 moedas de Judas
Os Flores representam fertilidade e colheita (agora são realizados em papel)
Estas saem de um cesto de vime envolvido em pano bordado e são rematadas, no topo, por uma coroa encimada pela Cruz de Cristo ou Pomba do Espírito Santo.
Só as mulheres podem trazer o tabuleiro sobre à cabeça. Se o rapaz quiser ajudá-la, pode levar o tabuleiro mas tem que ser no ombro.
O Natal é uma oportunidade de se encontrar com a família e o momento mais importante é mesmo o jantar do dia 24 onde a família se reúne para jantar e depois assistir a Missa du Galo que é a Missa que celebra o nascimento de Jesus.
Durante o jantar várias tradições são respeitadas e o bacalhau não pode faltar. Dependendo da região, também existem alternativas gourmet ao bacalhau
No Algarve: galo com cabidela (preparado com adição de sangue de galo e vinagre)
Na Beira litoral: o polvo é muito apreciado
Lisboa e Vale do Tejo: também comem peru assado
Tràs-os-montes e Alto Douro: também preparam polvo, pescada e peixe frito
Nos Açores existe canja
Na ilha da Madeira tradicionais espetadas de carne
A tradição da noite de Natal é servir bacalhau cozido acompanhado de couve, batata e legumes no vapor
No dia 25 comem o cordeiro ou o peru no forno e a “roupa velha” que é a mistura de bacalhau, batata e couve da noite anterior, com alho e bastante azeite e e passado na frigideira
Na mesa de Natal não pode faltar os bolos … muitos bolos!
Claro o Bolo Rei de que falamos no artigo anterior, mas também os bolos fritos.
Os fritos são talvez as mais tradicionais do Natal e em cada região existem variações e as receitas têm sido passadas de geração em geração.
Normalmente são preparados em grandes quantidades e com antecedência. Além disso, dizem que quando “cheira a frito, cheira a Natal”
Segundo a tradição, no final do jantar não se deve tirar a mesa e nem lavar a louça. E as sobras do jantar também não devem ser retiradas da mesa. Ele deve ficar como durante o jantar para respeitar os membros mortos da família.
E qual é a sua tradição de Natal?
Dentro de poucos dias será Natal e uma tradição que muitas famílias respeitam é aquela do arvore de Natal. Mas como nasceu esta tradição? E como chegou em Portugal?
No passado, a Igreja Católica não celebrava o Natal, embora celebrasse o nascimento de Jesus
Foi no século VI com o Papa Júlio I que fixou-se a data do nascimento de Jesus para o dia 25 de dezembro, e começamos a celebrar esta festa.
Muito antes, para os romanos, era o dia da Saturnália, festas dedicadas ao deus Saturno e ao solstício de Inverno celebrado pelos celtas e pelos povos germânicos. Foi assim que uma antiga festa pagã transformou-se na maior festa cristã.
Mas falamos da arvore de Natal, que em Portugal, junto ao presépio, não pode faltar.
Esta tradição é quase obrigatória em todas as casas e é preparada normalmente entre o 1 e o 8 de dezembro.
Na realidade a tradição já existia ao tempo dos romanos que preparavam abetos para as Saturnais.
As primeiras árvores de Natal eram decoradas com papel, frutas secas e bolos
Segundo a historia, a arvore deve ser um pinheiro pela sua forma triangular que representa para os cristãos a Trindade. A primeira referência à árvore de Natal é em 1510, na Lituânia, atribuída a Lutero que teria decorado uma árvore com velas e uma estrela.
E no século XVI, essa tradição jà presente em Alemanha e da Alemanha passou para toda a Europa e chegou em Portugal no século XIX.
Em 1835, como D. Maria II enviuvou meses depois do seu primeiro casamento com o príncipe Augusto de Beauharnais, foi escolhido para novo esposo da soberana D Fernando de Saxe Coburgo Gotha.
D Fernando II e D Maria II tiveram um casamento feliz coroado par 11 filhos ( a rainha faleceu no dar a luz ao ultimo filho). Ele introduziu o romantismo em Portugal, é conhecido pelo seu gosto para a literatura e a arte e pela construção do palácio da Pena em Sintra. Mas foi ele também que introduziu a arvore de Natal em Portugal.
Em 1844 decidiu surpreender a sua família e preparou uma árvore de Natal decorada com bolas colorada e bolos e presentes ao lado da arvore. A partir de là a tradição da arvore foi introduzida em Portugal.
Uma curiosidade: Cada Natal, D Fernando dava os presentes aos seus filhos vestido de São Nicolau. O seu primo, Albert (marido da Rainha Vitória na Inglaterra) fazia exactamente o mesmo para a sua família em Inglaterra .
A ‘cantarinha dos namorados’ de Guimarães é uma prenda muito oferecida por alturas de São Valentim, mantendo-se assim viva uma tradição antiga que atualmente é alimentada pelas mãos de mestres da olearia.
Segundo a tradição, quando um rapaz se dispunha a fazer o pedido oficial de casamento oferecia primeiro à namorada uma cantarinha, moldada em barro. Se a prenda fosse aceite, estava formalizado o pedido particular, passando a depender apenas da vontade dos pais o anúncio do noivado. Uma vez dado o consentimento, a cantarinha servia então para guardar as prendas que o noivo e os pais da noiva ofereciam, designadamente peças em ouro.
Atualmente, as cantarinhas já não são propriamente usadas para pedir a mão a alguém nem para guardar jóias, mas assumem-se como “guardiãs” de segredos e de histórias de amor. “Quem as oferece, fá-lo pelo simbolismo que elas encerram”, é feita em barro vermelho polvilhada de mica branca.
Existem as Cantarinhas grandes, símbolo da abundância, do futuro, da esperança. E a Cantarinha pequena, símbolo da vida real, das incertezas do futuro e das pequenas felicidades do quotidiano.
A Cantarinha era utilizada, assim como os lenços dos namorados, (artigo do 14 de outubro) como símbolo de aceitação ou rejeição de um pedido de namoro/noivado. Se houvesse consentimento dos pais, o noivado era anunciado e o dote tratado, e as prendas oferecidas aos noivos eram colocadas na Cantarinha (cordões de ouro, tranceletes, cruzes, corações). Outra versão diz que, dentro da Cantarinha eram colocadas rifas. A rapariga, tirava depois uma ao acaso que correspondia a uma prenda. Cantarinha dos Namorados é o nome mais comum, mas acrescentem-se outros dois: Cantarinha das Prendas e Cantarinha de Guimarães.
Além do seu significado enquanto objecto casamenteiro, que é o seu atributo magno, a Cantarinha dos Namorados não deixa de ser um produto oleiro de excelência no que toca ao artesanato português. Feita em barro vermelho cozido por sete horas, e ornamentada com pequenos floreados de mica esmigalhada, há uma elegância inegável ao olharmos para ela, e percebemos o porquê de fazer derreter as meninas que recebiam tal artefacto nas mãos.
É composta por três partes: a cantarinha da base, claramente maior, representando a prosperidade do casal; a cantarinha que se sobrepõe a essa, visivelmente mais pequena, simbolizando os problemas que qualquer par de noivos ou casados tem de enfrentar; e por fim, o remate é feito com um pássaro, que alguns dizem ser o guarda-segredos da relação.
Nossa Senhora da Nazaré é uma imagem esculpida em madeira, com cerca de 25 cm de altura, representando a Virgem Maria sentada num banco baixo a amamentar o Menino Jesus, com as caras e as mãos pintadas de cor “morena”. Conforme a tradição oral terá sido esculpida por São José carpinteiro quando Jesus era ainda um bébé, sendo as caras e as mãos pintadas, décadas mais tarde, por São Lucas. É venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio da Nazaré, em Portugal.
A história da imagem foi publicada, em 1609, pela primeira vez, por Frei Bernardo de Brito, na Monarquia Lusitana. Este monge de Alcobaça, cronista mór de Portugal, relata ter encontrado no cartório do seu mosteiro uma doação territorial, de 1182, na qual constava a história da imagem, a qual terá sido venerada nos primeiros tempos do cristianismo em Nazaré na Galileia, cidade natal de Maria. Daí a invocação de Nossa Senhora – da Nazaré. Da Galileia terá sido trazida, no século quinto, para um convento perto de Mérida, em Espanha, e dali, em 711 para o Sítio (de nossa Senhora) da Nazaré, onde continua a ser venerada.
A história desta imagem é indissociável do milagre que salvou D. Fuas Roupinho, em 1182, episódio a que se convencionou chamar de “a Lenda da Nazaré”.
Durante a Idade Média apareceram centenas de imagens de Virgens Negras por toda a Europa a maioria das quais, tal como esta, esculpidas em madeira, de pequenas dimensões e ligadas a uma lenda miraculosa. Hoje, existem cerca de quatrocentas destas imagens, antigas ou as suas réplicas, em igrejas por toda a Europa, bem como algumas mais recentes no resto do mundo.
A verdadeira e sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré ainda não foi sujeita a uma perícia laboratorial para a datar cientificamente e paralelamente obter a confirmação de se estar perante uma imagem bi-milenar, ou de uma réplica produzida posteriormente.
Conta a Lenda da Nazaré que ao nascer do dia 14 de setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, caçava junto ao litoral, envolto por um denso nevoeiro, perto das suas terras, quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus. Rogou então, em voz alta: Senhora, Valei-me!. De imediato, miraculosamente o cavalo estacou, fincando as patas no penedo rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.
D. Fuas desmontou e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida mandou os seus companheiros chamar pedreiros para construírem uma capela sobre a gruta, em memória do milagre, a Ermida da Memória, para aí ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem. Antes de entaipar a gruta os pedreiros desfizeram o altar ali existente e entre as pedras, inesperadamente, encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho, no qual se identificavam as relíquias como sendo de São Brás e São Bartolomeu e se relatava a história da pequena imagem representando a Santíssima Virgem Maria. Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, decorrendo esta denominação, do seu lugar de origem, a aldeia de Nazaré na Galileia.
A popularidade desta devoção na época dos Descobrimentos era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, vieram em peregrinação ao Sítio da Nazaré. Entre os muitos peregrinos da família Real destacamos, a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, futura rainha de França, que permaneceu no Sítio alguns dias, em 1519, num alojamento de madeira construído especialmente para esta ocasião. Também S. Francisco Xavier, padre jesuíta, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação à Nazaré antes de partir para Goa. Foram aliás os Jesuítas portugueses os grandes propagadores deste culto em todos os continentes.
Nos séculos dezassete e dezoito ocorreu a grande divulgação do culto de Nossa Senhora da Nazaré em Portugal e no Império Português. Ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem e existem várias igrejas e capelas dedicadas a esta invocação espalhadas pelo Mundo. É de destacar a imagem de Nossa Senhora da Nazaré que se venera em Belém do Pará, no Brasil, cuja festa anual recebeu o nome de Círio de Nazaré e é uma das maiores romarias do mundo atingindo os dois milhões de peregrinos em um só dia.
Em Portugal, existem dois santos casamenteiros. Um com o seu trono em Lisboa que é Santo António, e outro situado a norte, S. Gonçalo de Amarante. Para não haver concorrência desleal entre os dois, Santo António encarrega-se das mais novas, enquanto S. Gonçalo trata das “velhas”. É esta a crença popular, mas não é só por esse motivo que a igreja de São Gonçalo é local de paragem obrigatória.
S. Gonçalo tem honras de Padroeiro de Amarante e a sua memória é festejada em duas ocasiões no ano: a 10 de janeiro data do seu falecimento e no primeiro fim de semana de junho, com as grandiosas festas da cidade.
Oriundo da nobre família dos Pereira, Gonçalo nasceu no Paço de Arriconha, por volta de 1187 e herda de seus pais a nobreza no sangue e a grandeza na Fé.
É educado nos bons princípios cristãos e, quando atinge a mocidade, opta pela vida eclesiástica, estudando as primeiras letras, crê-se, no mosteiro beneditino de Santa Maria de Pombeiro de Ribavizela, prosseguido estudos no Paço Arcebispal de Braga, onde viria a ser ordenado sacerdote. Não satisfeito com a vida paroquial e ardendo no desejo de conhecer os lugares mais Santos do Cristianismo, decide encetar uma longa peregrinação a Roma, para estar junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, seguindo, depois, para a Palestina.
Após catorze anos, Gonçalo regressa à sua paróquia de S. Paio de Vizela que, durante a sua ausência, fora dirigida por um sobrinho que, o não reconhecendo, o expulsa de casa. Desiludido com a vida opulenta e faustosa do seu substituto e deparando-se com o desrespeito aos ensinamentos e à humildade cristã, decide abandonar a vida paroquial e opta por um modus vivendi mais contemplativo, eremítico e evangelizador. Toma o hábito da Ordem de S. Domingos.
Foi através desta nova forma de vida que chegou ao vale do Tâmega. Deparando-se com uma ermida arruinada dedicada a Nossa Senhora da Assunção, localizada num local ermo, junto ao rio e nas imediações de uma ponte devoluta, aí se instala e recupera o velho templo.
Calcorreando as povoações do vale do Tâmega e da Serra do Marão, Frei Gonçalo, evangeliza e abençoa uniões matrimoniais, apoia e protege os mais desfavorecidos e realiza alguns prodígios, que lhe vão conferindo aura de santidade. No decorrer destas ações pastorais, depara-se com as dificuldades e com o perigo que os seus fiéis corriam ao aventurarem-se a atravessar o rio, principalmente nas alturas em que este se apresentava mais caudaloso e, na falta de alternativas, decide empreender, ele próprio, o restauro ou a reedificação da velha ponte romana, nos idos de 1250.
Para a sua reconstrução terá contado com a participação de todos, desde os mais abastados que contribuíram com alguns numerários e matéria-prima e os mais pobres que, com o seu esforço, executaram a obra. Consta que o arquiteto fora o próprio santo. A ponte medieval haveria de perdurar até ao dia 10 de fevereiro de 1763, altura em que sucumbe face à turbulência das águas do Tâmega, durante uma cheia, desmoronando-se por completo, tendo apenas sobrevivido o cruzeiro biface de Nossa Senhora da Ponte.
Após a construção da ponte e do restabelecimento do tráfego, o frade dominicano continuou com a sua vida de pregador até ao dia da sua morte, ocorrida a 10 de janeiro de 1259.
A partir de então, muitos foram aqueles que acorreram ao seu túmulo, instalado na mesma ermida onde residiu para, junto aos seus restos mortais, pedirem ou agradecerem a sua intercessão.
Em 1540, D. João III manda construir, no lugar da velha ermida medieval, um convento que entrega aos frades pregadores de S. Domingos, Ordem à qual o Santo estava vinculado.
No dia 16 de setembro de 1561, Gonçalo de Amarante é beatificado pelo papa Pio IV e, algum tempo depois, já no reinado de D. Filipe I de Portugal (II de Espanha), inicia-se o seu processo de canonização, que acaba por ficar sem efeito.
O Papa Clemente X, em 1671, estende o ofício da sua festa litúrgica a toda a Ordem Dominicana, que é celebrada no dia do seu falecimento, a 10 de Janeiro.
Daí para cá o seu culto jamais parou de se difundir e propagar em Portugal e nos países lusófonos, destacando-se o Brasil, onde várias localidades o têm por padroeiro.
São Gonçalo então não é santo. Para a Igreja Católica é considerado beato, Beato Gonçalo de Amarante. Mas para a população é santo e a devoção por ele não é menor, seja qual for a denominação utilizada. O seu túmulo, onde se acredita estar o seu corpo sepultado, pode ser visitado na capela-mor do mosteiro.
São Gonçalo é considerado o “casamenteiro das velhas”, o que parece não agradar às mais jovens que não querem esperar, e terá sido por isso que nasceu a famosa quadra popular de Amarante:
S. Gonçalo de Amarante,
Casamenteiro das velhas,
Porque não casas as novas?
Que mal te fizeram elas?
Na igreja, ainda existe a estátua de São Gonçalo, do século XVI, em que existe a famosa corda de São Gonçalo. A corda rodeia a cintura da estátua e, segundo crença popular, “as encalhadas” deveriam puxar a corda três vezes, para pedir um casamento ao santo.
Em conclusão se ja passaste a idade para pedir a ajuda a Santo Antonio, aqui tens a oração de casamento para São Gonçalo:
“São Gonçalo do Amarante, Casamenteiro que sois, Primeiro casais a mim; As outras casais depois.
São Gonçalo ajudai-me, De joelhos lhe imploro, Fazei com que eu case logo, Com aquele que adoro.”
Uma curiosidade:
São Gonçalo de Amarante está enraizado na cultura da Princesa do Tâmega, com doces peculiares com formas fálicas, com quadras picantes que e com uma história rica de conquistas e actos heróicos importantes na construção da história de Portugal. Segundo a lenda popular, São Gonçalo é casamenteiro e é, por isso, que durante as festas são vendidos e apreciados “os doces fálicos” de S. Gonçalo, de todos os tamanhos e feitios.
A região do Minho, ao norte de Portugal, é conhecida pela qualidade de seus bordados, portanto, não é de se admirar que tenha sido o local em que a tradição do Lenço dos Namorados tenha começado.
Diz-se que antigamente, as moças minhotas em idade de se casar tinham por hábito bordar o seu enxoval, mas entre uma peça e outra, elas bordavam às escondidas um pequeno quadrado, geralmente com versinhos de amor e alguns desenhos.
O dito quadradinho ficava guardado com ela até que tivesse a oportunidade de fazê-lo chegar ao rapaz que amava. Isso geralmente acontecia nas missas de domingo, quando ela “distraidamente”, deixava-no cair próximo ao rapaz. Depois de bordado, o lenço era entregue ao namorado ou “conversado” e o fato dele usar publicamente ou não, que se decidia o namoro. Se ele aceitasse, poria o lenço por cima do seu casaco domingueiro, colocava-o ao pescoço com o nó voltado para a frente, usava-o na aba do chapéu.
Caso contrário, o lenço voltaria às mãos da menina. Se por acaso, ele aceitasse mas, mais tarde, trocasse de parceira, fazia chegar à sua antiga pretendida o lenço, e outros objetos que lhe pertencessem, como fotografias, cartas.
Os lenços, representam o sentimento da menina em relação ao rapaz, no qual ela escreve pequenos versos de amor, ou símbolos.
O auge dessa prática foi entre 1850 e 1950, em especial nas cidades de Viana do Castelo, Guimarães, Vila Verde, Telões e Aboim da Nóbrega. A escrita era marcada pelos erros ortográficos, visto que, em sua grande maioria, as raparigas que os bordavam eram de famílias humildes e com poucos estudos.
Hoje o lenço dos namorados virou um engraçado souvenir e alguns mais antigos, quando não são relíquias de família, encontram-se expostos em museus.
Basicamente o Lenço dos Namorados é um lenço fabricado a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados.
Damos conta muitas vezes, de erros ortográficos nestes lenços, que denunciam a falta de instrução da época.
Sendo bordados a ponto cruz, estes lenços eram muito trabalhosos e morosos, obrigando a “bordadeira” a ser muito paciente e cuidadosa na sua confecção. Com o passar dos tempos, foram-se adotando outros tipos de pontos mais fáceis e rápidos de bordar. Com esta alteração a decoração inicial dos lenços modifica, as originais cores de preto e vermelho, vão dar origem a uma série de outras cores e outros motivos de decoração. Porém, não se perdendo nunca, o objetivo principal.
Pensa-se que foi a partir destes lenços que surgiram mais tarde os Lenços de Casamento, muito maiores, que a noiva levava na cabeça, ou que envolviam o ramo, bem como as algibeiras usadas à cintura bordadas com missangas e fitas de veludo.
Felizmente este património não foi esquecido e, nos dias de hoje, mantém-se como um dos símbolos da cultura e tradição portuguesa.
As andorinhas são aves que apesar do seu pequeno porte fazem uma viagem de milhares de quilómetros para nidificar. Todos os anos, obedecendo a um instinto voam do Norte de África até Portugal e ficam até o final do Verão. Este pequeno animal voador é muito querido pelos portugueses porque elas são o prelúdio da primavera e do bom tempo.
São aves associadas não só ao bom tempo, como ao lar. Devido a sua capacidade de criar a sua prole, os portugueses vêm neste pássaro um exemplo de tudo o que de melhor a natureza pode trazer.
A paixão é tal que os portugueses penduram replicas de bandos de andorinhas nas paredes das suas casas como sinal de bonança.
Esta ligação nacional a esta ave de asas negras, deve-se a Rafael Bordalo Pinheiro que, no final do século XIX produziu pequenas andorinhas em cerâmica na sua fábrica das Caldas da Rainha e que ele mesmo tinha desenhado.
Foi ele que em 1891 pendurou andorinhas de cerâmica nos fios telefónicos que decoram a maravilhosa Tabacaria Mónaco, ainda hoje no Rossio em Lisboa (e alçando o olhar, no tecto, há também um bando delas pintadas a voar). Espalharam-se alegremente pelo país ao longo do século XX. Diz-se que as andorinhas são símbolos de amor e lealdade, mas também de lar e família, sentimentos estes que estão bem enraizados na cultura portuguesa. Após voos de longa distância à procura de climas mais amenos, as andorinhas constroem o seu ninho no mesmo sítio ano após ano. São também criaturas que, ao longo das suas vidas, têm um único parceiro.
Embebidas em tal significado, as andorinhas de cerâmica de Bordalo Pinheiro e outras representações desta ave são commumente trocadas entre pessoas enamoradas, realçando a conotação das mesmas com os sentimentos de amor, lealdade, lar e família.
São, também, significado de harmonia e felicidade nos lares onde estas se encontram penduradas.
Hoje vamos falar de um instrumento tipicamente português que teve grande difusão em muitos países como as Hawai e o Brasil: o cavaquinho.
Parecido a uma guitarra mas de pequenas dimensões, com quatro cordas, este instrumento é muito usado na musica popular e ligada ao folklore.
Existem atualmente em Portugal continental dois tipos de cavaquinhos, que correspondem a outras tantas áreas: o tipo minhoto e o tipo de Lisboa.
É sem dúvida fundamentalmente no Minho que o cavaquinho aparece hoje como uma espécie tipicamente popular, ligada às formas essenciais da música característica desta província.
O cavaquinho é um dos instrumentos favoritos e mais populares das rusgas minhotas partilhando com elas, e com o género musical que lhe é próprio, um carácter lúdico e festivo do qual se excluem outros usos cerimoniais ou austeros. Usando-se sozinho, com função harmónica e para acompanhamento do canto, o cavaquinho aparece frequentemente acompanhado pela viola ou outros instrumentos – para além de alguns instrumentos a percussão como o tambor.
As dimensões do instrumento diferem pouco de caso para caso, não excedendo os 52 cm de comprimento total num exemplar comum. A altura da caixa é o elemento menos constante – com 5 cm na generalidade dos casos -, embora apareçam com frequência cavaquinhos muito baixos, que têm um som mais gritante.
O cavaquinho existe também nas ilhas portuguesas e em outros países que tiveram contacto com Portugal em momentos diferentes da sua historia.
Relativamente à sua expansão geo cultural, o cavaquinho parece constituir uma espécie fixada entre nós primordialmente no Minho, de onde irradiou para outras regiões – Coimbra, Lisboa, Algarve, Madeira, Açores, Cabo Verde e Brasil.
Desse modo, o cavaquinho ter-se-á difundido na Madeira por mão do emigrante minhoto. Longe do seu foco de origem e da sua tradição mais castiça, ele modifica a sua forma por influência e associação a outras espécies ali existentes, conservando o seu carácter popular mas adquirindo um novo status mais elevado na cidade do Funchal.
Será assim que ele regressa ao Continente, Algarve e Lisboa, em mãos de gentes dessas áreas que o conhecem ali apenas sob esse aspecto. O mesmo poderá ter acontecido com o Brasil; embora aí seja também de admitir o estabelecimento de relações diretas entre a Madeira e esse país.
O cavaquinho no Brasil, figura em todos os conjuntos regionais de choros, emboladas, bailes pastoris, sambas, ranchos, chulas, etc., com carácter popular mas urbano.
O cavaquinho existe também em Cabo Verde, num formato maior do que o do seu congenere português ligado às formas tradicionais da música local.
Nas ilhas do Hawai existe um instrumento igual ao cavaquinho – o «ukulele» – que parece ter sido para ali levado pelos emigrantes portugueses em 1879. Tal como o nosso cavaquinho, o «ukulele» havaiano tem quatro cordas e a mesma forma geral.
A navegação portuguesa também levou o cavaquinho para a Indonésia. A sua adaptação local ganhou o nome de kroncong, nome também dado a um estilo musical com influências do fado e criado no século XVI.
E agora que conhecem mais da historia deste instrumento, está na hora de aproveitar da sua musica!
A Romaria de Nossa Senhora da Agonia, que realiza-se em Viana do Castelo, no Minho, é uma das festas mais conhecidas do pais: é grandiosa em programação, no número de visitantes, na força da tradição do traje à vianesa, no peso do ouro que as mordomas exibem ao peito.
A história da festa junta-se à história da Igreja da Agonia. Em 1674 foi edificada, em honra da padroeira dos pescadores uma capela em invocação ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário e, um pouco acima, uma capelinha devota a Nossa Senhora da Conceição.
Hoje, o nome está associado à rainha das romarias, nascida em 1772 da devoção dos homens do mar vindos da Galiza e de todo o litoral português. Mais tarde, em 1783, a Sagrada Congregação dos Ritos permitiu que fosse celebrada nesta capela (conhecida agora como Capela de Nossa Senhora da Agonia) uma Missa Solene, todos os anos no dia 20 de agosto.
Em 1861 a Festa Solene é ultrapassada pela Romaria d’Agonia, e esta última assume mais importância e torna-se tão grandiosa que acaba por extravasar a festa religiosa. Torna-se um arraial repleto de cantares ao som de violas, de danças, um arraial extravagante.
Em 1862, a romaria assumiu tamanha popularidade que se calculava que só o fogo de artifício era já contemplado por mais de cinquenta mil pessoas. Nove anos mais tarde, foi anexado ao programa a tourada (que desde 2009 ja não faz parte da festa).
Em 1906, nesta romaria nasce a Festa do Traje e, dois anos depois, em 1908, dá-se a primeira Parada Agrícola (nos dias de hoje é o tão famoso cortejo etnográfico).
A partir de então a romaria deixou de estar limitada ao Campo da Agonia e invadiu toda a cidade de Viana do Castelo. Durante os dias da romaria o programa é completo. Todos os anos existe uma Feira de Artesanato, um espetáculo musical com artistas conhecidos, há fogo-de-artifício todos os dias às 24h00 sempre em locais diferentes da cidade, encontros de Bandas Filarmónicas, um Desfile da Mordomas que se realiza num dos dias da romaria às 10h00, o Cortejo Etnográfico que se realiza normalmente no sábado à tarde e um festival de Concertinas e Cantares ao Desafio. No dia 20 há sempre a celebração solene eucarística (no Adro da Senhora d’Agonia) seguida de procissão ao mar, sendo que no dia anterior à noite há a confecção dos “Tapetes Floridos” nas ruas da Ribeira.
As Mordomas: no Alto-Minho são as mulheres encarregadas de recolher fundos para a realização da romaria ao santo padroeiro da sua terra. Os trajes das mordomas era geralmente pretos ou azuis-escuros. Este traje serviria mais tarde como vestido da noiva (com a casaca e véu) e ainda para com eles serem enterradas. O lenço ‘tapete’ na cabeça em seda, colete, algibeira, avental (com brasão Real), chinelas pretas e saia na cintura.
Os trajes tem varias características e significado:
Traje de noiva: negro. A noiva troca o lenço de mordoma (colorido e de seda), por um lenço de fina cambraia (tecido leve feito em algodão ou em linho) bordado, cruzado à frente. Mas também (e mais usual) existe o véu de renda ou tule bordado. A vela votiva ou palma da Páscoa, são agora trocadas pelo ramo de noiva.
Traje de lavradeira: coloridos e devem os seus tons às diversas regiões do Alto-Minho. Os azuis são associados as terras viradas ao mar, os verdes das terras montanhosas e verdejantes, o traje vermelho é ‘à vianesa’ ou ‘à moda do Minho’ por excelência. É um traje de festa, o avental é franzido na parte superior. Existem dois lenços: um traçado no peito e apertado atrás, na altura da cinta; outro trespassado sobre a nuca e atado no alto da cabeça.
Traje de meia senhora/morgada: a lavradeira que, podendo já estar casada (portanto a sua posição social e económica já evoluiu) , ainda não atingiu o reconhecimento social, e assim sendo era uma ‘meia senhora’. Leva a casaca de mordoma/noiva, a saia de chita com estampado de flores, adornada com bastas e folhos, mas pode também ser de uma saia de fazenda preta com uma basta e um galão bordado a vidrilho da mesma cor, a rematar as chinelas pretas. Sobre os ombros um lenço de seda natura estampado (normalmente usado na cabeça enquanto mordoma), bem como a “casaca de confeitos” a pender-lhe das mãos a substituir a algibeira, ou um xaile.