By : Janeiro 26th, 2021 Reis e Rainhas 0 Comments

Já alguma vez se indagou porque razão o Rei D. Pedro era conhecido como “o justiceiro” ou como “o cruel”? Este Rei, que ficou famoso na História de Portugal por ter mandado arrancar o coração dos homens que assassinaram a sua amante Inês de Castro (post do 10 agosto 2020) e por ter exigido que beijassem o seu cadáver estando ela sentada no trono, costumava fazer justiça pelas próprias mãos, um pouco por todo o país.

D. Pedro I deslocava-se frequentemente por Portugal e gostava de ouvir as histórias e as queixas de quem tinha sido injustiçado e, em vez de recorrer aos tribunais, era ele próprio quem proferia as sentenças  e, muitas vezes, praticava as mesmas. São várias as histórias de justiça pelas próprias mãos a ele atribuídas.

Em Santarém habitava um lavrador rico com quem o rei se dava. Um dia, estando nessa cidade e como não visse o homem, perguntou por ele e apurou que o filho o atacara à facada, deixando-lhe uma cicatriz na cara. O rei ordenou então que o chamassem e pediu-lhe que contasse como as coisas se tinham passado.

O lavrador narrou a discussão que tivera com o filho e a agressão de que fora vítima, na presença da mulher. “Ora, manda-me cá a tua mulher e o teu filho”, ordenou o monarca. Quando a mulher chegou, perguntou-lhe: “Ouve lá, de quem é o filho?” Ela gaguejou: “Meu e do meu marido, senhor.” O rei cofiou a barba. “Hum!, não acredito. Se o teu marido fosse o verdadeiro pai, ele não o teria acutilado daquela forma.”

A lavradora acabou por admitir que o rapaz era filho de um frade confessor que a teria violado. No dia seguinte, D. Pedro foi ouvir missa na igreja onde em tempos ocorrera a violação. Concluída a cerimónia, mandou chamar o religioso.

Após curta troca de palavras, o rei mandou meter o violador num caixote e serrá-lo ao meio. Como o rei não era um ilusionista daqueles que serram mulheres sem que estas sofram beliscadura, o desgraçado teve uma morte horrorosa. 

O episódio do bispo do Porto ainda é bastante recordado. Constou a D. Pedro, sem ter provas, que o prelado mantinha relações íntimas com uma mulher casada. Tanto bastou para que entrasse pelo paço episcopal e, pegando no chicote, o punisse. De outra vez, ao saber que uma mulher enganava o marido, condenou-a à morte. E de nada valeu ao enganado implorar de joelhos o perdão da esposa, que decerto amava.

Mas há um aspecto da vida de D. Pedro I menos conhecido. Narra o cronista Fernão Lopes que o arrebatado soberano teve uma assolapada paixão… pelo escudeiro Afonso Madeira, ao qual “amava mais do que se deve aqui dizer”.

Como este tivesse um caso com uma tal Catarina Tosse, o rei, furioso, “mandou-lhe cortar aqueles membros que os homens em maior apreço têm, de modo que não ficou carne até aos ossos que tudo não fosse cortado”. O pobre Afonso, segundo Lopes, foi tratado, “curou-se, engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos engelhado de rosto e sem barba e morreu depois de sua natural morte”.

By : Dezembro 30th, 2020 Reis e Rainhas 0 Comments

Manuel I Rei de Portugal, conhecido como O Venturoso, o Bem-Aventurado ou O Afortunado. Nasceu em Alcochete, uma vila perto de Lisboa em 1469 e morreu em Lisboa no ano de 1521. Nono filho dos Infantes D. Fernando, 2º Duque de Viseu e de D. Beatriz, casou com D. Isabel, filha dos Reis Católicos.

Com a morte da Rainha por parto, casou em segundas núpcias com a Infanta D. Maria de Castela, irmã de D. Isabel, com que teve dez filhos, além do primeiro filho com sua anterior esposa. De novo viúvo, casou com a Infanta D. Leonor, tendo mais dois filhos.

Com a morte de D. Afonso, sucessor legítimo ao trono do seu padre o Rei D. João II, D. Manuel I foi aclamado como seu legatário ao trono em 1495.

A política do Rei D. Manuel I foi uma linha de continuação dos anteriores governos. Prosseguiu com as campanhas de exploração ultramarina portuguesa, expedições determinantes para a expansão do império e que levou as descobertas do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500, do caminho para a Índia por parte de Vasco da Gama em 1498 e das Molucas pelo almirante D. Afonso de Albuquerque em 1511.

Igualmente, recebeu do seu antecessor um governo poderoso e centralizado com uma forte tendência para o absolutismo. D. Manuel dedicou-se ás reformas de tipo tributário, legislativo e administrativo. Estas reformas foram fundamentais para configurar o Reino de Portugal como um estado moderno.

Mas da historia deste rei que tanto significou para a historia de Portugal, faz parte também uma parte digna das melhores telenovelas.

A princesa D. Leonor estava destinada para esposa do príncipe D. João, herdeiro da coroa de Portugal, e eram ambos ainda muito crianças. O rei D. Manuel, porém, que enviuvara pela segunda vez, vendo o retrato da jovem princesa, que apenas contava dezanove anos, e diz a tradição ser de rara formosura, tanto se agradou dos seus encantos que resolveu escolhê-la para sua esposa, preterindo as pretensões do príncipe seu filho, realizando-se assim as suas terceiras núpcias.

Carlos V fora aclamado como imperador da Alemanha, e viera de Flandres para Saragoça, onde se reunira a corte, e D. Manuel, com o pretexto de o felicitar por ter cingido a coroa imperial, mandou a Saragoça como embaixador o seu camareiro, e armador-mor Álvaro da Costa, mas o fim principal desta embaixada era tratar do casamento, muito em segredo, atendendo às circunstancias que se davam. 

Álvaro da Costa desempenhou-se da sua missão com muita diligência e diplomacia, a proposta foi bem aceita pela corte de Castela, e as negociações depressa se concluíram.

Os desposórios efectuaram-se na mesma cidade de Saragoça em 16 de Julho de 1518, sendo nomeados procuradores, para tratar com o embaixador Álvaro da Costa, o cardeal Florent, bispo de Tortosa, que depois foi o papa Adriano VI, Guilherme de Croy, duque de Sora; e João le Sauvage, senhor de Strambeque.

Este casamento de D. Manuel causou um certo espanto em Portugal, porque o monarca mostrara-se inconsolável pela morte de sua segunda mulher, dizendo que abdicava a coroa em seu filho, e se recolhia ao convento de Penha Longa. 

O príncipe sentiu grande desgosto, porque se apaixonara também pelo retrato da sua prometida, que se tornara agora em madrasta. 

Concluídos os contratos matrimoniais, a nova rainha D. Leonor partiu de Saragoça, e entrou em Portugal por Castelo de Vide com o acompanhamento de fidalgos.

O monarca esperava-a no Crato, e em 24 de Novembro ali se celebraram pomposas festas . Como em Lisboa havia peste, partiram os régios esposos com toda a corte para Almeirim, onde se demoraram até ao Verão seguinte, passando em seguida a Évora, voltando para Lisboa só quando a epidemia estava completamente extinta

D. Manuel I faleceu em dezembro de 1521, deixando mais dois filhos com o seu terceiro casamento. Segundo se diz, após enviuvar, D. Leonor recuperou o destino. A mulher de 23 anos viveu uma relação secreta com o seu enteado, D. João III. O amor secreto pelo seu ex-noivo foi uma forma de recuperar as linhas do destino que lhe tinham sido desfeitas por D. Manuel I.

By : Outubro 5th, 2020 Historia, Reis e Rainhas 0 Comments

Filho de Dona Maria II e D Fernando II, D. Pedro V teve uma educação moral e intelectual esmerada, estudando entre outras disciplinas, ciências naturais, filosofia, escrita e línguas. Desde cedo demonstrou ter notável inteligência, aos dois anos falava alemão e francês e aos doze anos dominava o grego e o latim sabendo também falar inglês.

Viajou para diversos países e tentou trazer para Portugal a modernidade e evolução que encontrava nestas viagens, era liberal e inovador mas também caridoso e preocupado com o seu povo. Inaugurou o primeiro telégrafo em Portugal e também o caminho de ferro entre Lisboa e Carregado e foi chamado “O rei Santo” porque se recusou a sair de Lisboa durante as epidemias de cólera e febre amarela de 1853 a 1857 onde prestou auxilio direto às vitimas e criou o asilo D. Pedro V para acolher os seus órfãos , dando-lhes instrução primária e ensinando-lhes um oficio.

D. Pedro V não tinha grandes interesses matrimoniais, recusando a sua primeira prometida esposa mas aceitando por fim a segunda, Estefânia de hohenzollern-Sigmaringen.

Em Abril de 1858, o rei D. Pedro V e a rainha D. Estefânia casaram-se por Procuração, mas só se conheceram um mês depois.

O casamento foi a 18 de maio de 1858, na Igreja de São Domingos, em Lisboa. Toda a cidade estava pronta para receber o evento. 

Para agradar a sua futura esposa D. Pedro V manda fazer uma das jóias mais caras da Coroa Portuguesa em seu nome e propositadamente para o seu casamento. Um diadema com mais de 4.000 diamantes e é aqui, que segundo o povo, o infortúnio desta historia de amor começa.

Na época os diamantes não deveriam ser utilizados por mulheres virgens no casamento e como se isso não fosse já um presságio, a jóia era de tal maneira pesada que fez uma ferida aberta na testa da Rainha. Ao sair do seu casamento com sangue a escorrer o povo ditou a sua sentença: “Ai coitadinha…vai morrer!

No entanto, para D Pedro V, depois de conhecer D. Estefânia, tudo mudou: o casal parecia apaixonado, passeavam de mãos dadas pelos jardins de Sintra e Benfica.
Mas faltava a rainha engravidar. Um ano depois do casamento, a rainha sentiu-se mal e foi internada. Com apenas 22 anos de idade a rainha faleceu de difteria que terá sido contraída numa inauguração de caminhos de ferro no Alentejo.

O marido ficou à cabeceira da sua cama, sem dormir, durante dois dias inteiros. Os médicos da casa real fizeram uma autópsia, mas o seu resultado só foi tornado público 50 anos mais tarde num artigo do famoso médico Ricardo Jorge: a rainha morreu virgem!

No dia do enterro D. Estefânia levava consigo a tão preciosa jóia que à chegada ao local foi trocada por uma coroa de flores de laranjeira… a jóia, no valor de 86.953,645 reis nunca mais foi vista.

D. Pedro não conformado com a perda do seu grande amor acabou por morrer a 11 de novembro de 1861, aos 24 anos. Morreu de febre-tifóide que contraiu por beber água contaminada durante uma caçada. 

By : Setembro 17th, 2020 Reis e Rainhas 0 Comments

É o Rei conhecido pela epoca de esplendor, do barroco, pela construção do maravilhoso palácio e convento de Mafra, mas também pelas suas relações extraconjugais. E o que há de estranho num rei que tem amantes? Na aparência nada, aparte o facto que D João V tinha uma preferencia pela freiras…

E de todas as amantes, a mais famosa terá sido a madre Paula Silva, uma jovem morena, freira do Convento de Odivelas, para quem D. João V mandou construir aposentos sumptuosos, com tectos em talha dourada, onde era servida por nove criadas. Segundo o livro “Amantes dos Reis de Portugal”, as camas eram de dossel, forradas com lâmina de prata e rodeadas de veludos vermelhos e dourados, e os jarros onde urinava eram de prata.

Ao longo dos 10 anos que durou esta relação, o Rei deu-lhe um rendimento anual de 1708$000 réis, mas apenas podia ir para Odivelas ter relações com a freira quando o médico do paço o autorizava.

Em 1720, quando a madre Paula tinha 19 anos, deu à luz José, que era já o quarto filho bastardo do Monarca. 

O primeiro tinha nascido já após o casamento com D. Maria Ana de Áustria e era filho da sua primeira namorada, D. Filipa de Noronha, irmã do marquês de Cascais, seduzida quando D. João tinha apenas 15 anos e ela 22. Era dama da rainha Maria Sofia de Neuburgo, mãe do fogoso príncipe. Para a conquistar, D. João(zinho) serviu-se de meios loucamente insensatos, incluindo uma promessa de casamento. Galanteios e oferta de jóias fortaleceram o amor da dama, que acalentou a desculpável ilusão de vir a ser rainha de Portugal. Compreende-se a sua frustração ao saber das negociações com vista à união com a princesa Maria Ana de Áustria. 

Seguiram-se os três bastardos que ficaram conhecidos como os Meninos de Palhavã (por terem vivido num palácio nessa zona de Lisboa). Antes da madre Paula, nas suas primeiras visitas ao Convento de Odivelas, o Rei foi íntimo de uma freira francesa, que deu à luz D. António, e de outra religiosa portuguesa, mãe de D. Gaspar, que chegou a ser arcebispo de Braga. O Rei reconheceu estes seus três filhos ilegítimos numa declaração assinada em 1742.

Quando se cansou das visitas a Paula, D. João V passou a frequentar um palacete do século XVII que ainda existe em Lisboa, na esquina das ruas do Poço dos Negros e de São Bento. Morava ali D. Jorge de Menezes, senhor de propriedades no Algarve, mas o rei escolhia para lá ir os dias (ou as noites) em que sabia que ele não estava. Com quem ia avistar-se – furtivamente – era com D. Luísa Clara de Portugal, a mulher de D. Jorge. 

Mas, enquanto visitava Luísa Clara, D. João V galanteava também uma criada dela. E chegou até a nomear diplomata junto da Santa Sé, em Roma, um irmão da rapariga, sapateiro de ofício, o que foi uma grande loucura. 

E o previsível aconteceu: Luísa Clara engravidou durante uma das ausências do marido. Abatido, D. Jorge retirou-se para uma quinta de Sintra, onde viria a morrer. Quanto à rainha, ficou a ferver e tentou impedir – em vão – a entrada da rival nas festas do Paço. O fruto destes amores foi uma menina, mandada para o Convento de Santos.

Livre dos filhos e do marido, Luísa Clara ficou com tempo para tudo, inclusive para ser amante de um meio-irmão do rei, filho bastardo de Pedro II. Furioso, D. João V pensou em mandar castrar o atrevido parente, e só o confessor conseguiu aplacar-lhe a ira, evocando-lhe as penas do inferno.

D. João V envolveu-se ainda com uma cigana, Margarida do Monte, mas enviou-a para um convento, de forma a que deixasse de receber outros amantes.

A última amante de D. João V, quando este dobrara o cabo dos 50, seria a cantora de ópera italiana Petronilla Basilli. Para se manter à altura do desempenho lírico requerido, o rei começou a tomar afrodisíacos. E quando, dois anos depois, virou costas à Basilli, começou a murmurar-se que estava acabado. A verdade é que, na década final da vida, o Magnânimo se dedicou sobretudo aos gestos de beneficente que lhe justificaram o epíteto.