By : Dezembro 14th, 2020 Tradições 0 Comments

Nossa Senhora da Nazaré é uma imagem esculpida em madeira, com cerca de 25 cm de altura, representando a Virgem Maria sentada num banco baixo a amamentar o Menino Jesus, com as caras e as mãos pintadas de cor “morena”. Conforme a tradição oral terá sido esculpida por São José carpinteiro quando Jesus era ainda um bébé, sendo as caras e as mãos pintadas, décadas mais tarde, por São Lucas. É venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio da Nazaré, em Portugal.

A história da imagem foi publicada, em 1609, pela primeira vez, por Frei Bernardo de Brito, na Monarquia Lusitana. Este monge de Alcobaça, cronista mór de Portugal, relata ter encontrado no cartório do seu mosteiro uma doação territorial, de 1182, na qual constava a história da imagem, a qual terá sido venerada nos primeiros tempos do cristianismo em Nazaré na Galileia, cidade natal de Maria. Daí a invocação de Nossa Senhora – da Nazaré. Da Galileia terá sido trazida, no século quinto, para um convento perto de Mérida, em Espanha, e dali, em 711 para o Sítio (de nossa Senhora) da Nazaré, onde continua a ser venerada.

A história desta imagem é indissociável do milagre que salvou D. Fuas Roupinho, em 1182, episódio a que se convencionou chamar de “a Lenda da Nazaré”.

Durante a Idade Média apareceram centenas de imagens de Virgens Negras por toda a Europa a maioria das quais, tal como esta, esculpidas em madeira, de pequenas dimensões e ligadas a uma lenda miraculosa. Hoje, existem cerca de quatrocentas destas imagens, antigas ou as suas réplicas, em igrejas por toda a Europa, bem como algumas mais recentes no resto do mundo.

A verdadeira e sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré ainda não foi sujeita a uma perícia laboratorial para a datar cientificamente e paralelamente obter a confirmação de se estar perante uma imagem bi-milenar, ou de uma réplica produzida posteriormente.

Conta a Lenda da Nazaré que ao nascer do dia 14 de setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, caçava junto ao litoral, envolto por um denso nevoeiro, perto das suas terras, quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus. Rogou então, em voz alta: Senhora, Valei-me!. De imediato, miraculosamente o cavalo estacou, fincando as patas no penedo rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.

D. Fuas desmontou e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida mandou os seus companheiros chamar pedreiros para construírem uma capela sobre a gruta, em memória do milagre, a Ermida da Memória, para aí ser exposta à veneração dos fiéis a milagrosa imagem. Antes de entaipar a gruta os pedreiros desfizeram o altar ali existente e entre as pedras, inesperadamente, encontraram um cofre em marfim contendo algumas relíquias e um pergaminho, no qual se identificavam as relíquias como sendo de São Brás e São Bartolomeu e se relatava a história da pequena imagem representando a Santíssima Virgem Maria. Em 1377, o rei D. Fernando (1367-1383), devido à significativa afluência de peregrinos, mandou construir, perto da capela, uma igreja para a qual foi transferida a imagem de Nossa Senhora da Nazaré, decorrendo esta denominação, do seu lugar de origem, a aldeia de Nazaré na Galileia.

A popularidade desta devoção na época dos Descobrimentos era tamanha entre as gentes do mar, que tanto Vasco da Gama, antes e depois da sua primeira viagem à Índia, quanto Pedro Álvares Cabral, vieram em peregrinação ao Sítio da Nazaré. Entre os muitos peregrinos da família Real destacamos, a rainha D. Leonor de Áustria, terceira mulher do rei D. Manuel I, irmã do imperador Carlos V, futura rainha de França, que permaneceu no Sítio alguns dias, em 1519, num alojamento de madeira construído especialmente para esta ocasião. Também S. Francisco Xavier, padre jesuíta, o Apóstolo do Oriente, veio em peregrinação à Nazaré antes de partir para Goa. Foram aliás os Jesuítas portugueses os grandes propagadores deste culto em todos os continentes.

Nos séculos dezassete e dezoito ocorreu a grande divulgação do culto de Nossa Senhora da Nazaré em Portugal e no Império Português. Ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira imagem e existem várias igrejas e capelas dedicadas a esta invocação espalhadas pelo Mundo. É de destacar a imagem de Nossa Senhora da Nazaré que se venera em Belém do Pará, no Brasil, cuja festa anual recebeu o nome de Círio de Nazaré e é uma das maiores romarias do mundo atingindo os dois milhões de peregrinos em um só dia. 

By : Outubro 23rd, 2020 Personalidades 0 Comments

Hoje falamos de um dos santos mais disputados da história, um santo que para os italianos é sem dúvida Santo António de Pádua. Mas cuidado  a afirmar isso em Lisboa! Aqui é Santo Antônio de Lisboa. Durante os meus passeios, convido os meus turistas a fazerem uma pequena experiência: procurar Santo Antonio na Wikipédia. Experimente e verá que, se em todas as línguas é Santo António de Pádua, em português é Santo António de Lisboa. Mas então, qual é a verdade?

É um dos santos mais queridos do cristianismo, mas Santo Antônio de Pádua, como é conhecido hoje, sempre carregou consigo essa curiosa polémica ligada ao seu nome.

Para ser justos, é preciso dizer que António  viveu em Pádua apenas 3 anos, os últimos de sua vida cheia de aventuras. Fernando Martins de Bulhões – este é o seu verdadeiro nome – nasceu numa família rica em 1195 em Lisboa; nessa altura a cidade tinha regressado ao cristianismo desde cerca de 40 anos, após Alfonso Henriques a ter conquistado aos mouros tornando-se assim o primeiro rei de Portugal. O pai Martinho, cavaleiro do rei, vivia com a família numa casa perto da Sé de Lisboa, onde Fernando foi baptizado.

Em 1210, com apenas quinze anos, entrou para a Ordem dos Agostinianos na Abadia de São Vicente, em Lisboa. Após cerca de 2 anos foi transferido para o Convento de Santa Cruz em Coimbra, onde permaneceu cerca de 8 anos, durante os quais estudou assiduamente teologia. Em 1219, chegaram ao convento os corpos decapitados de 5 frades enviados por Francisco de Assis a Marrocos com a missão de converter os muçulmanos. Fernando ficou tão chocado com o incidente que decidiu deixar os agostinianos para ingressar na Ordem Franciscana. Ele, portanto, escolheu mudar o seu primeiro nome para António, e partir como missionário.

Antonio embarcou para o Marrocos no outono de 1220. Porém, ao chegar à África, contraiu uma febre tropical que o obrigou a retornar à Europa. Mas na viagem de volta para a Península Ibérica, o navio encontrou uma forte tempestade que desviou o seu curso em direção ao Mediterrâneo.

O barco naufragou na Sicília. Aqui, Antonio refugiou-se no convento franciscano de Messina, onde soube que em maio daquele ano (1221) Francisco convocou a assembleia eletiva e legislativa dos frades da Ordem. Depois de uma longa viagem, Antonio chegou a Assis, onde conheceu pessoalmente o futuro padroeiro da Itália. Antonio recebeu a ordem de pregar e de lá partiu para uma nova missão de conversão, desta vez para o norte da Itália, e no final de 1224 mudou-se para o sul da França.

Depois de passar 2 anos na França, retornou à Itália em 1226 quando soube da morte de Francisco. Os seus sermões começaram a ser seguidos por muitas pessoas, e ele nem parou quando, exausto pelas viagens contínuas e longos jejuns a que foi submetido, ficou doente o suficiente para ser forçado a ser carregado em seus braços até o púlpito. Ele morreu em 13 de junho de 1231, aos 36 anos.

Graças à fama que conquistou, desde o dia do funeral o seu túmulo tornou-se destino de peregrinação para milhares de devotos que desfilaram em frente ao sarcófago dia e noite pedindo graças e curas. Tantos milagres foram atribuídos à sua intercessão que o bispo de Pádua “por aclamação popular” teve que submetê-los ao julgamento do Papa Gregório IX. Em junho de 1232, exatamente um ano após sua morte, Antônio foi nomeado Santo com “53 milagres aprovados” e a denominação de Santo António  de Pádua. Nesse mesmo ano, iniciaram-se as obras da Basílica destinada a preservar os restos mortais da capital veneziana e que hoje recebe milhões de visitantes todos os anos.

E os lisboetas, seus concidadãos? Têm de se contentar com um fragmento de osso do braço esquerdo, cedido pelos franciscanos paduanos e guardado na cripta da mais humilde, mas igualmente bela, Igreja de Santo António de Lisboa, que se ergue a poucos passos da Sé, no mesmo local onde, como conta o lenda, havia a casa de seus pais.

Por outro lado, a maior festa popular da cidade é dedicada ao santo, a famosa Noite de Santo António  que todos os anos entre 12 e 13 de junho (aniversário de sua morte) enche todos os bairros com marchas, cantos, danças e os característicos cheiro de sardinha grelhada e comida ao ar livre por milhares de fregueses. Mas isso fica para uma próxima historia!

By : Setembro 25th, 2020 Historias e lendas, Lugares e Monumentos 0 Comments

Independentemente da fé e das crenças próprias, não podemos falar de Portugal sem falar de Fátima.

Localizada a 130 km de Lisboa, Fátima, a “Cidade da Paz” é o mais importante santuário mariano em Portugal e um dos mais importantes do mundo.

Entre 1916 e 1917, numa época marcada pela guerra e pelos tumultos do início do século XX e pela Primeira Guerra Mundial, três crianças que estavam com o seu rebanho de ovelhas na “Cova da Iria”, testemunharam a aparição da Mãe de Deus e do Anjo. Desde o dia 13 de maio até outubro de 1917, as aparições marianas repetiram-se. Através dos três pastorinhos e da sua fé e dedicação à Virgem Maria, bem como da oração do rosário, foi transmitida ao mundo uma grande mensagem de paz.

Será Lúcia, a mais velha dos três filhos, que contará na suas memórias o que aconteceu naquela época.

Em 13 de maio de 1917, as crianças relataram ter visto uma mulher “mais brilhante que o sol, emitindo raios de luz mais claros e mais fortes do que uma taça de cristal cheia da água mais cintilante e perfurada pelos raios ardentes do sol”. A mulher vestia um branco manto debruado com ouro e segurava um rosário em sua mão. A história continua: “Não tenha medo, eu não quero te magoar”, disse a senhora; Lúcia, espantada, perguntou: “De onde você vem, senhora?”. “Venho do céu”, respondeu Ela, pedindo aos três pastorinhos que fossem àquele mesmo lugar no dia 13 de cada mês, durante seis meses consecutivos até outubro, recomendando também que rezassem o rosário para que terminasse a Primeira Guerra Mundial .

Jacinta contou à família sobre ter visto a mulher bem iluminada. Lúcia havia dito anteriormente que os três deveriam manter essa experiência privada. A incrédula mãe de Jacinta contou aos vizinhos como se for uma mentira e, um dia depois, toda a aldeia soube da visão das crianças.

A segunda aparição ocorreu em 13 de junho. Nesta ocasião a senhora revelou que o Francisco e a Jacinta seriam levados para o Céu brevemente, mas a Lúcia viveria mais para divulgar a sua mensagem e devoção ao Imaculado Coração de Maria.

No dia 13 de julho as crianças voltaram para a Cova d’Irìa: desta vez, cerca de cinco mil pessoas estavam reunidas lá, muitas das quais estavam ansiosas para rir das crianças; foi nesse encontro que a visão do inferno foi mostrada aos três pastorinhos, relatada literalmente nos escritos da Irmã Lúcia:

“Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo, que parecia subterrâneo. Imersos naquele fogo, os demônios e almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou de bronze, com forma humana que flutuava no fogo, carregados pelas chamas que saíam de si junto com nuvens de fumaça, caindo de todas as partes semelhantes ao cair das faíscas nas grandes fogueiras, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que causavam horror e faziam tremer de medo “

No dia 13 de agosto de 1917, o administrador provincial interveio, por acreditar que esses eventos foram politicamente disruptivos no país conservador. Ele levou as crianças sob custódia, prendendo-as antes que pudessem chegar à Cova da Iria. Ele interrogou e ameaçou as crianças para que divulgassem o conteúdo dos segredos. A mãe de Lúcia esperava que os funcionários pudessem persuadir as crianças a encerrar o caso e admitir que mentiram. Naquele mês, em vez da habitual aparição na Cova da Iria em 13 de agosto, as crianças relataram que viram a Virgem Maria em 19 de agosto, um domingo, na vizinha Valinhos.

Na ocasião, Nossa Senhora prometeu-lhes que o mês de outubro faria um milagre para confirmar a autenticidade das suas declarações.

Depois que alguns jornais noticiaram que a Virgem Maria havia prometido um milagre para a última de suas aparições em 13 de outubro, uma grande multidão, possivelmente entre 30.000 e 100.000, incluindo repórteres e fotógrafos, se reuniu na Cova da Iria. O que aconteceu então ficou conhecido como o “Milagre do Sol”.

Várias afirmações foram feitas sobre o que realmente aconteceu durante o evento. Segundo relatos, após um período de chuva, as nuvens escuras se dissiparam e o Sol apareceu como um disco opaco giratório no céu. Dizia-se que era significativamente mais opaco do que o normal e lançava luzes multicoloridas na paisagem, nas pessoas e nas nuvens ao redor. O Sol foi então relatado como tendo inclinado em direção à Terra antes de ziguezaguear de volta à sua posição normal. Testemunhas relataram que suas roupas molhadas ficaram “repentinamente e completamente secas, assim como o solo úmido e lamacento que antes estava encharcado por causa da chuva que caía”.

O que torna Fátima tão especial é o segredo e o poder da mensagem. A mensagem foi transmitida a três crianças pobres que estavam simplesmente com os seus rebanhos de ovelhas na Cova da Iria. Uma mensagem sobre paz, fé e consagração. É esta mensagem e este conforto que os peregrinos em Fátima procuram quando visitam o santuário.

Esta mensagem é concretizada no Santuário durante as procissões e manifestações religiosas pelos fiéis. Na Procissão das Luzes, que acontece de maio a outubro todos os meses, na noite de 12 para 13, a imagem de Nossa Senhora passa por milhares de velas e relembra aquelas aparições marianas dos três pastorinhos videntes em 1917.

By : Setembro 7th, 2020 Tradições 0 Comments

Na cidade de Lamego, no distrito de Viseu, acontece no mês de setembro a mais antiga romaria do pais.

As tradicionais festas em honra da padroeira da cidade de Lamego remontam ao século XIV, mais concretamente ao ano de 1361, quando o então Bispo de Lamego instituiu o culto a Santo Estêvão. No alto do Monte dos Fragões, hoje Monte de Santo Estêvão, nome que lhe ficou exatamente pela fundação da ermida, foi edificada por este Bispo uma capela em honra desse santo mártir. Esta localização permitia ao ilustre prelado avistá-la do seu paço Episcopal, edifício que é atualmente ocupado pelo Museu.

Nessa época, haviam duas procissões por ano a Sto. Estêvão: uma em Maio, no dia da Santa Cruz e outra a 3 de Agosto, dia de Santo Estêvão. As romagens assim continuaram até 1564, quando foi edificada uma nova capela dedicada ao culto de Nossa Senhora dos Remédios, imagem que o mesmo Bispo terá mandado vir de Roma a expensas suas.

A referência mais antiga sobre as Festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios é de 1711. Tudo terá começado, precisamente, com a novena, que ainda hoje se mantém de 30 de agosto a 7 de setembro. Os peregrinos com muita devoção rumam madrugada adentro de todos os pontos da cidade e arredores ruma à casa da Mãe.

Realiza-se no dia 6 de setembro a Grandiosa Marcha Luminosa, que consiste num desfile de carros alegóricos pelas principais ruas da cidade iluminando a noite com o brilho e a animação própria deste dia. No dia seguinte, 7 de setembro realiza-se a Batalhas da Flores que tal como no dia anterior faz desfilar pelas ruas da cidade os carros alegóricos, mas com uma pequena diferença: como é realizada de dia, as luzes são substituídas por papelinhos de todas as cores, que dá a sensação de estarem a voar flores pelo ar. Neste mesmo dia, realiza-se a Grande Noite da Romaria, onde há arruadas por rusgas populares, cantigas ao desafio, bombos e concertinas, esta noite é vulgarmente conhecida pelos Lamecenses como “Noitada”, onde estes percorrem as ruas até ao sol nascer, convivendo com os amigos de sempre fazendo cumprir a tradição.

Mas  o momento mais alto desta celebração é a Majestosa Procissão do Triunfo, realizada a 8 de setembro, na qual os andores que percorrem a Igreja das Chagas até à Igreja de Santa Cruz, ostentam imagens sagradas puxadas por juntas de bois, como manda a tradição. Nesta altura, as ruas ficam ricamente ornamentadas, ganhando uma nova dinâmica, onde a componente religiosa adquire toda a sua plenitude.

Uma curiosidade: A Procissão do Triunfo tem uma autorização especial do Vaticano, porque é a única no mundo em que se pode ver uma imagem da Virgem transportada por animais.