Pensando nos produtos típicos de Portugal, pensamos imediatamente no vinho, como o Porto ou o vinho da Madeira, ou nas esplêndidas cerâmicas, os azulejos pintados à mão que decoram casas e jardins.
Contudo, nem todos sabem que Portugal está em primeiro lugar no mundo no processamento de cortiça, com 53% da produção mundial. Na região do Alentejo, entre Lisboa e a costa atlântica, concentra-se 72% da produção total de todo o país e artesãos qualificados trabalham aqui.
O que obtém do processamento de casca? Praticamente tudo: bonés, acessórios para casa, acessórios de moda, roupas e sapatos, mas também bolsas e mochilas, móveis e revestimentos para pisos ou paredes.
A cortiça é um produto 100% natural, macio, resistente, versátil, recicláveis, hipoalergénico e com propriedades térmicas que mantêm o calor e o frio.
A cortiça é um elemento tão enraizado na história de Portugal que encontramos vestígios dela em muitos monumentos:
– O Convento de Santa Cruz do Buçaco e o Convento dos Capuchos de Sintra, por exemplo, onde os monges usavam cortiça para cobrir as paredes e tornar o ambiente mais confortável e é assim que encontramos algumas células e algumas áreas comuns com as paredes cobertas cortiça.
– Na Basílica da Estrela, em Lisboa, você pode admirar os berços do século XVIII com figuras de teracota em cenários de cortiça.
– Os batentes das portas, janelas e vigias do Chalet da Condessa d´Edla em Sintra estão decorados com elementos de cortiça.
– São Brás de Alportel (Algarve) deve o seu desenvolvimento à indústria da cortiça e hoje está localizada no centro da Rota da Cortiça, no meio de belas florestas de cortiça.
O cultivo de plantas de cortiça é uma arte que requer tempo e muita paciência. Um sobreiro leva 25 anos para ser produtivo e capaz de fazer a primeira “decapagem” (extração de cortiça). Entre um descortiçamento e outro devem passar 9 anos e somente a partir do terceiro teremos uma cortiça bastante compacta e utilizável. As placas de cortiça são empilhadas ao ar livre, depois são fervidas e divididas de acordo com a espessura e a qualidade. Com as melhores pranchas, as rolhas naturais são obtidas enquanto as pranchas inferiores são usadas para solas para sapatos ou rolhas para vinhos comuns. As árvores podem viver até 400 anos e garantir colheitas por 200 anos
Era uma vez três rios que nasceram em Espanha. Chamavam-se Douro, Tejo e Guadiana. Estavam um dia a contemplar as nuvens e perguntaram-lhes donde vinham.
– Do mar – responderam elas. – É o nosso pai e o nosso avô.
– Onde fica o mar? – perguntaram os rios.
– Lá longe, em Portugal – responderam as nuvens.
– É grande?
– É, é muito grande.
– Havemos de ir ver o mar.
E combinaram que no dia seguinte iriam os três ver o mar. Assim fizeram.
O Guadiana acordou primeiro e lá foi calmamente, contemplando os montes e as belezas que o espreitavam, e escolhendo os caminhos por onde passava, ao chegar a Vila Real de Santo António parou maravilhado. O segundo foi o Tejo. Quando acordou já o sol ia alto. Começou a andar depressa, quase não escolhendo caminho, mas, quando entrou em Portugal, pensou lá consigo que já deveria ter muito avanço e lembrou-se de gozar as campinas e os montes, espreguiçando-se nas margens planas, antes de se lançar nos braços do avô. O Douro, quando acordou e se viu só, nem esfregou os olhos. Partiu à pressa por desfiladeiros e precipícios, não escolhendo caminho, nem pensando em gozar a natureza.
Assim foi ele que, muito sujo e enlameado, chegou em primeiro lugar.
Decidi começar o nosso Blog assim, com uma historia que as crianças aprendem para explicar porque os três rios principais de Portugal têm características geográficas tão diferentes. Portugal é um pais com mil rostos diferentes, com muitas almas, onde há sempre uma surpresa a nossa espera. E este é o pais que quero contar, um pais que amo e onde encontrei a minha casa. E talvez um dia, numa viagem juntos, vos explicarei porque Portugal tem um lugar tão especial no meu coração.