
Se você perguntar a um português o que é uma comida de rua típica em Portugal, ele responderá: uma bifana. Agora a pergunta é “O que é isso?”
Em Portugal, encontrará muitas sandes que têm como função servir de refeição rápida, por vezes com apenas uma tigela de sopa a complementar. Sei que, para muita gente, um sanduíche é o suficiente, mas gostamos de ter refeições mais fartas.
Você saberá que um dos principais sanduíches do país, apreciado de norte a sul, é a bifana. Simplificando, é um sanduíche de bife. Um bife de porco, para ser mais específico, temperado com alho e especiarias, depois colocado dentro de um pãozinho.
Parece básico o suficiente, não é?
No entanto, em todos os lugares que você experimentará, um terá um sabor diferente.
E essa é a beleza disso! Como é possível que um pedaço de bife possa caber tão perfeitamente em um pãozinho e apresentar a você uma mistura de sabores que vai agradar o seu paladar ?!
No Norte do país, geralmente é feito com pedacinhos de bife temperados numa panela grande com molho e costuma ser um pouco picante. O pão é um pãozinho branco simples, que acaba umedecido com o molho do bife. À medida que você vai mais para o sul, porém, o bife não é mais cortado e, em vez disso, é batido com um martelo, ele é principalmente com alho e nem um pouco picante – em vez disso, eles sugerem que você o coma simples ou com mostarda. Além disso, o pão é torrado levemente. E, infelizmente, há menos molho também.
Mas qual é o original?
Diz-se que o original provém da localidade de Vendas Novas, no Alentejo, no sul do país.
De qualquer forma, é tão típico em Portugal que também o Mac Donald teve de introduzir um Mac Bifana no seu menu.
Como você pode fazer uma Bifana?
Ingredientes
4 pão (papo seco português)
1 kg de bife de porco, em fatias muito finas
5 dentes de alho picados
60 gr banha
½ chavena de vinho branco
3 folhas de louro
Suco de limão
1 colher de chá de páprica
Sal
Pimenta moída na hora
Instruções
Num recipiente, coloque uma camada de costeletas e tempere com sal, pimenta, louro, colorau, suco de limão e alho.
Se necessário, faça várias camadas com todas as costeletas, temperando-as da mesma forma em cada camada.
Por fim, regue as costeletas com o vinho branco e deixe marinar 3 horas no frigorífico.
Em uma frigideira grande, ouça a banha em fogo médio.
Escorra as costeletas e reserve a marinada. Frite-os na banha em fogo alto, virando-os constantemente.
Assim que as costeletas estiverem fritas, adicione a marinada reservada e cozinhe em fogo médio até que o líquido tenha evaporado pela metade.
Torre os pães.
Encha cada pão com costeletas e regue com o molho restante.

O molho que reveste as amêijoas é preparado com azeite (de muito boa qualidade porque é o ingrediente estrela do molho), alho, coentro, sal, pimenta e às vezes, como é o caso aqui, um pouco de vinho branco seco para levar até mais sabor. Em seguida, rega-se o suco do limão antes de ser servido.
Os Lisboetas e os viajantes que regressam do rio Tejo vão falar-vos com alegria do infinito prazer de saborear amêijoas à Bulhão Pato à beira-mar e de terminar o prato com um bom pão para absorver o maravilhoso sumo das amêijoas intimamente misturadas com a azeitona óleo, alho e coentro. Uma receita fácil e rápida para uma pequena pausa para o almoço ou no final do dia, ao pôr do sol, no Porto de Lisboa.
Muitos dos pratos emblemáticos da gastronomia portuguesa são preparados com peixe ou marisco. Nada surpreendente para um país banhado pelo Oceano Atlântico e cuja capital fica numa baía.
O Algarve, região mais meridional de Portugal, goza de grande reputação pela variedade e frescura dos seus peixes, mariscos e crustáceos. É desta região que provém grande parte do marisco consumido em Portugal, incluindo amêijoas. Algumas são cultivadas e outras apanhadas pelos mariscadores, criadores de moluscos.
Em Portugal, as amêijoas estão no centro de muitas receitas como a cataplana (marisco com especiarias, vinho branco, tomate, etc.) ou a carne de porco à alentejana (composta por porco, amêijoas e acompanhada de batata). E muitos outros.
Mas hoje, resolvi apresentar a receita das amêijoas à Bulhão Pato.
Tem o nome de Raimundo António de Bulhão Pato, poeta, gastrônomo e epicurista, que foi uma figura importante na vida intelectual e artística da sociedade portuguesa de meados a finais do século XIX. Participou até num livro de culinária, “O Cozinheiro dos Cozinheiros” (O Cozinheiro dos Cozinheiros) de Paulo Henrique Plantier, publicado pela primeira vez em 1870, que trazia um capítulo de receitas inventadas e feitas por famosos artistas portugueses da época .
Portanto, esta é uma bela homenagem a este epicurista e amante da boa comida, que este prato tão popular ainda tenha o seu nome até hoje, e continue a desafiar os curiosos foodies como nós.
Amêijoas à Bulhão Pato – Receita
Amêijoas à Bulhão Pato é um delicioso prato tradicional da cidade de Lisboa que se prepara com amêijoas revestidas com um molho à base de azeite, alho, coentro e vinho branco.
Tempo de preparação
10 minutos
Hora de cozinhar
5 minutos
Tempo total
15 minutos
Ingredientes
1 kg de amêijoas frescas
120 ml de azeite
6 dentes de alho, descascados e fatiados
1 cacho de coentro picado
120 ml de vinho branco seco
1 colher de sopa de sal
Pimenta
1 limão
Instruções
Mergulhe as amêijoas em uma grande quantidade de água com sal grosso por 3 horas. Eles vão dessalinizar e se livrar da areia que contêm. Coloque na geladeira.
Enxágüe bem e várias vezes em água fria para se livrar completamente da areia.
Use um pincel para raspar as cascas para remover os últimos vestígios de areia, bem como quaisquer resíduos marinhos.
Despeje o azeite numa grande panela. Adicione o alho e o coentro. Cozinhe em fogo médio por alguns minutos.
Adicione o vinho branco seco e leve para ferver. Adicione as amêijoas. Tempere com sal e pimenta.
Tampe e cozinhe em fogo médio até que as amêijoas abram, cerca de 5 a 10 minutos.
Depois que todas as amêijoas estiverem abertas, coloque-as na travessa e deixe o molho ferver em fogo alto por 2 minutos. Despeje o molho sobre as amêijoas.
Ponha suco de limão antes de comer.

Açorda, é um prato tipico alentejano. É uma dádiva da presença dos árabes pelas nossas terras. Parece também que a açorda é um prato de subsistência, provavelmente na sequência de crises alimentares. E a sua chegada deve-se à sua facilidade de confecção e sobretudo à mistura simples de produtos de base. O pão foi sempre, e ainda é, um alimento fundamental.
Na época árabe na península encontramos muitas sopas às quais se adicionava pão esfarelado ou cortado grosseiramente. Parece ser esta a origem das açordas. No entanto quase só na zona sul do país assumimos a designação açorda. Este termo nunca aparece associado às sopas de pão que ainda hoje se confeccionam nas Beiras ou Trás-os-Montes.
E temos a grande variante da açorda, que já não é sopa, e que se transformou num prato de referência em Portugal. Num tratado de cozinha árabe, de Ibn Abd al-Ra’uf, se refere a açorda, com a designação de Tarid [thari:d] ou Tarida, em árabe, que quer dizer pão migado, ao qual se junta alho, coentros e água quente.
Em consulta de dicionários de árabe encontramos ainda o termo Ath thurdâ, que significa sopa com pão.
O pão, ainda hoje, é um elemento estruturante da nossa alimentação. E no passado o pão teria que ser consumido na sua totalidade pelo seu valor de apoio permanente ao consumo. A sua aplicação na sopa seria uma forma de utilizar o pão mais velho e mais seco. Seria a sua absorção integral.
Em 1876 publica João da Mata o seu “Arte de Cozinha” especialmente destinado aos profissionais. Encontramos aqui a açorda com bacalhau, uma sopa de pão à portuguesa e ainda outras sopas com pão.
Mas é com Carlos Bento da Maia, edição de 1904, com o título “Tratado Completo de Cozinha e Copa”, que as açordas aparecem como confecção culinária e ilustradas com onze receitas, e fazendo bem a separação das muitas sopas com pão.
Mas qual é a realidade das açordas na cozinha portuguesa? Primeiro temos a açorda/sopa de que a Açorda Alentejana é o melhor exemplo. Depois a glorificação das açordas como prato completo e a imensa variedade de receituário desde o Douro, toda a costa atlântica com peixes e mariscos, da Beira ao Alentejo com o bacalhau, e o Alentejo com as carnes de porco e enchidos. Temos ainda o conceito de açorda como guarnição, ou complemento, de que saboreamos o excelente exemplo com sável e respectiva açorda de ovas.
A autêntica açorda é feita com alho, pequenas fatias de pão do dia anterior molhadas em água bem quente, temperadas com azeite cru, alho, sal, e coentro picado. Existem variações onde a açorda é finalizada com ovos cozidos ou escalfado, bacalhau, pescada e sardinhas assadas. De comida de pessoas pobres, hoje a açorda é uma das melhores sopas portuguesas.

Hoje vamos falar de um petisco português delicioso e com uma historia muito original: Os peixinhos da horta
No século XVI, mais concretamente em 1543, um navio chinês com três marinheiros portugueses a bordo, António da Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto, dirigia-se a Macau. Quis o destino meteorológico, traduzido numa tempestade, que o navio se afastasse para a ilha do sul do Japão, Tanegashima. A dupla de antónios e Francisco foram os primeiros europeus a pisar no solo japonês.
O país enfrentava uma guerra civil e começou a efetuar trocas comerciais com os portugueses.
Dessa forma, foi criado um posto no país, onde eram comercializadas armas, tabaco, sabão, lã… e receitas!
Em 1639 quando os nossos antepassados foram banidos do Japão haviam deixado uma marca indelével na cozinha local, uma receita de feijão-verde, envolto em polme e, depois, frito, os nossos peixinhos da horta. Um preparo que, nas longas travessias oceânicas, permitia aos navegadores conservar os vegetais por períodos mais dilatados.
E a coisa pegou no Japão, tanto que hoje se chama tempura.
O termo “tempura” tem origem no latim “tempora”, que dizia respeito a um período de jejum imposto pela Igreja.
Os católicos não podiam comer carne e assim surgiu o prato.
Na época em que entravam no Japão os nossos peixinhos já traziam carreira feita em território luso. Não se conhece, contudo, a origem deste petisco arreigado à região da Estremadura, singelo na confeção, o que é exemplo de uma cozinha criativa tendo por base poucos ingredientes.
Um preparo que substituiria o peixe em períodos de restrições alimentares e que terá ido cunhar o nome precisamente ao formato semelhante ao de espécies marítimas.
Peixinho da Horta é um um prato que tanto serve para petisco como para uma refeição.
Basicamente é feijão verde tenro frito num polme, podemos fazer assim bem crocante e fino ou podemos fazer peixinhos da horta com colheradas de polme como se fosse uma patanisca.
Receita
Ingredientes
- 400g de feijão-verde
- 150g de farinha com fermento
- 2 ovos
- 1 dl de agua com gás bem gelada
- 1 c .s de azeite
- Sal Marinho
- Pimenta q. b
- Óleo para fritar
Preparação
Limpe o feijão-verde, retire o fio e leve-o a cozer em água temperada com sal durante 5 minutos.
Depois, escorra e deixe arrefecer.
Prepare o polme.
Deite a farinha para uma tigela, tempere com sal e pimenta, junte os ovos, o azeite e a água em fio, mexendo sempre até ficar um polme liso.
Leve ao lume um tacho com óleo abundante e deixe aquecer.
Mergulhe o feijão-verde, um a um, no polme, deixe escorrer um pouco, deite no óleo e deixe fritar até ficarem douradinhos.
Retire e deixe escorrer.

A cozinha portuguesa possui inúmeros tesouros gastronómicos, mas, na minha opinião, um dos mais deliciosos é a Francesinha à moda do Porto.
Este prato típico da cidade do Porto consiste numa sanduíche que pode ser realizada de diferentes formas mas que, normalmente, tem na sua constituição: duas fatias de pão, salsicha fresca, linguiça, bife de vaca e fiambre.
No topo desta delicia para o coração, há uma cobertura quase totalmente feita com queijo que, no forno, fica derretido
Mas é o molho seguramente o seu componente mais importante, diríamos mesmo: a alma da Francesinha! Existem diversas variantes do molho mas, habitualmente, usa-se pelo menos tomate, cerveja e piripiri. Como o segredo da Francesinha está no molho, existem inúmeras variantes como, por exemplo, incluir molho de marisco, licores, vinho do Porto, whisky ou diversas especiarias.
A cereja no topo do bolo é o ovo estrelado em cima desta torre de pão, carne e queijo. Além disso, há as batatas fritas e a cerveja bem fresquinha.
Mas qual é a historia deste prato tão bom pelo nosso paladar (e um pouco menos pelo nosso colesterol)?
Sendo a Francesinha um prato tradicional tão emblemático e popular, de uma cidade tão marcante como é o Porto, é natural que surjam diferentes estórias em torno da história do famoso petisco portuense.
Alguns defendem que o autor desta criação foi Daniel David Silva que, após ter estado emigrado em França, terá confecionado um produto nacional, tendo por base todas as influências da cidade parisiense, inspirando-se nomeadamente no croque-monsieur ou madame (com ovo no topo).
Já em 1953, aproximadamente, surge a Francesinha no restaurante A Regaleira, situado na rua do Bonjardim no Porto. O estabelecimento publicita que o notável petisco foi criado no seu espaço.
A lenda que ficou para a história é que o nome “Francesinha” se deve a este ser um petisco com piri-piri e, por isso, picante, característica que Daniel David Silva relacionaria com as mulheres francesas, para ele as mais “picantes”.
O sucesso da Francesinha é tanto que é fácil haver a tentação de colocar o nome de “Francesinha” às mais variadas invenções: com diferentes tipos de carne, com camarão, vegetarianas, entre outras. Existe, assim, diversidade e, embora algumas variantes possam ser consideradas legítimas, outras deviam ser consideradas uma verdadeira heresia e blasfémia.
Eu defendo a clássica, refeição obrigatória para mim quando fico na cidade invicta. E vocês? Quando vem visitar o Porto comigo e experimentar uma francesinha?

Se pensarmos na cozinha portuguesa, a cozinha mediterrânea típica vem à mente imediatamente. Mas, na realidade, não é exatamente assim.
Portugal pela história e posição geográfica, por um lado ligado ao Mediterrâneo e por outro ao Oceano Atlântico, foi o berço de muitas civilizações diferentes e local de passagem para inúmeras culturas, preservando, ao longo dos anos, as muitas influências gastronómicas que hoje constituem o sua identidade na cozinha.
Se no século II aC, a chegada dos romanos marcou radicalmente os hábitos alimentares portugueses, e introduziu alimentos como trigo, cebola, alho, azeitonas (azeite) em toda a península, a cultura árabe, no século VIII dC estabeleceram-se na parte sul da península, espalhando novos alimentos e influenciando as técnicas de preparação de alimentos e técnicas de cultivo. Eles introduziram novos sistemas de irrigação que permitiram transformar solos áridos em locais ideais para amendoeiras, figos e plantas cítricas. Foram introduzidas especiarias e novas técnicas de cozimento, uma das quais ainda é praticada no sul do país, a Cataplana (cozinhar em uma panela de cobre com selo hermético). No século XV, a expansão do império levou ao conhecimento de novas especiarias e condimentos, como coentro, açafrão, gengibre, pimenta, salsa e noz-moscada, além de novos produtos, como tomate, batata, pimenta, o feijão, o pimentão, o peru e o abacate, provenientes do Novo Mundo. E será o momento das grandes viagens que introduzirão o rei indiscutível da gastronomia portuguesa nas mesas lusitanas: o bacalhau.
Na sua variante seca e salgada, antes de ser cozido, o bacalhau precisa ser imerso em água, idealmente por três dias, trocando a água a cada 5-8 horas. Neste ponto, após ter reidratado e espalhado um odor intenso na sua cozinha, ele estará pronto para ser cozido. Entre as muitas receitas (uma para cada dia do ano, segundo a tradição), há o Baccalà à Gomes da Sà, uma caçarola com bacalhau, batatas, cebola e ovos cozidos, e o Baccalà a Bras, que consiste em ovos mexidos, bacalhau, combinado com batatas e cebolas.
O bacalhau não falta nem na véspera de Natal, quando é servido cozido, com batatas cozidas, ovos cozidos e couve. E o que resta é reciclado no dia de Natal no tradicional “roupa velha” combinado com legumes, batatas e ovos cozidos, passados numa panela.
Um alimento fundamental da tradição portuguesa são as sopas, como o Caldo Verde, caldo de couve, com batatas, com uma fatia de chouriço, caldeirada, sopa de peixe, tomate e batatas, a Canja de galinha, que é um caldo de galinha e a Açorda, uma sopa de pão, alho e coentro.
Por fim, não se pode falar da gastronomia portuguesa sem mencionar os petiscos, o equivalente português das tapas espanholas. Entre os muitos pasteis de bacalhau, rissois camarão ou croquetes (de carne), saladas de atum, ovas de peixe, polvo e meia-desfeita (bacalhau e grão de bico com cebola e alho) e no verão os tradicionais caracóis.
E se só tiver tempo para um almoço rápido, não perca a comida de rua portuguesa: uma bifana (sanduíche com carne de porco marinada, também servida no prato), também disponível na versão com carne bovina (prego) e leitão e, para acompanhar, uma cerveja.
Uma gastronomia a descobrir e, como disse o escritor Eça de Queirós: “O homem põe tanto do seu caráter e da sua individualidade nas invenções da cozinha, como nas da arte”