By : Maio 7th, 2021 Gastronomia 0 Comments

A bola de Berlim é um bolo muito tradicional em Portugal, normalmente vendido na praia. 

De facto, há algo de alemão nestas bolas. A verdade é que a base desta receita foi trazida por algumas famílias judias alemãs que, por altura da 2ª Guerra Mundial, encontraram refúgio em Portugal. Por terras germânicas são mais conhecidas por “Berlinesa” (Berliner/Berliner Pfannkuchen/Berliner Ballen).

Mas não se pense que este bolo se mantém fiel à receita original. O recheio de um doce à base de frutos vermelhos foi substituído por um dos doces mais comuns e apreciados em Portugal – o doce de ovos.

Isto, já para não falar nas mais que muitas variedades de recheio que têm surgido nos últimos anos. Além disso, as Berlinesas são mais pequenas e costumam ser polvilhadas com um açúcar mais fino do que o usado nas bolas de Berlim.

Ao longo dos anos em que durou a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, vários milhares de refugiados fugiram para Portugal — um pais oficialmente neutro —, com o objetivo de viajarem para outros países e continentes através dos navios transatlânticos. Muitas famílias judias alemães, por exemplo, encontraram no nosso País um abrigo temporário — antes de rumarem para uma nova vida, fosse nos EUA ou, depois, no recém-fundado estado de Israel. De qualquer forma, durante o período que viveram aqui e enquanto esperavam pelos papeis necessários para partirem novamente, estes refugiados tiveram de trabalhar para sustentarem as famílias 

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Muitos judeus tornaram-se funcionários de empresas nacionais, como pastelarias e cafés. Por isso, vários destes espaços, sobretudo em Lisboa e no Porto, começaram a vender doces tipicos germanicos, incluindo a bola de Berlim.

Tendo em conta o tamanho e a forma redonda (ideal para agarrar com uma mão), as bolas de Berlim começaram a ser vendidas na rua. Mais tarde, chegaram аs praias

Ingredientes

Para a massa

600 g de farinha tipo 55

150 ml de leite meio-gordo

100 g de açúcar

100 g de margarina

30 g de fermento de padeiro fresco

4 ovos

½ colher de café de sal fino

Para o creme

500 ml deleite meio-gordo

125 g de açúcar

75 g de farinha tipo 55

4 gemas de ovo

1 casca de limão

½ l de óleo vegetal (para fritar)

Modo de Preparação

1 – Numa tigela, coloque a farinha peneirada.

2 – No centro, faça uma cova e junte o leite morno, o açúcar e o fermento, mexendo com as mãos até dissolver.

3 – Faça outra cova e junte, agora, os ovos, a margarina e uma pitada de sal.

4 – Envolva e, lentamente, vá juntando a farinha.

5 – Quando a massa estiver homogénea, amasse-a numa bancada, polvilhada com farinha.

6 – Coloque novamente na tigela e tape com película aderente. Deixe levedar até dobrar de volume.

7 – Divida a massa em 15 partes iguais e modele com o formato de bolas.

8 – Disponha num tabuleiro polvilhado com farinha e deixe levedar novamente, até ficar com o dobro do tamanho.

9 – Entretanto, numa taça, misture o açúcar, a farinha e as gemas, juntando um pouco de leite frio. Reserve.

10 – Ferva o restante leite com a casca de limão e verta sobre a mistura, mexendo sempre.

11 – Leve ao lume, até engrossar. Retire, verta para um tabuleiro e deixe arrefecer.

12 – Frite as bolas de massa em óleo, vire-as a meio da fritura e escorra.

13 – Passe por açúcar, corte as bolas a meio e recheie com o creme.

By : Fevereiro 1st, 2021 Gastronomia 0 Comments

Açorda, é um prato tipico alentejano. É uma dádiva da presença dos árabes pelas nossas terras. Parece também que a açorda é um prato de subsistência, provavelmente na sequência de crises alimentares. E a sua chegada deve-se à sua facilidade de confecção e sobretudo à mistura simples de produtos de base. O pão foi sempre, e ainda é, um alimento fundamental.

Na época árabe na península encontramos muitas sopas às quais se adicionava pão esfarelado ou cortado grosseiramente. Parece ser esta a origem das açordas. No entanto quase só na zona sul do país assumimos a designação açorda. Este termo nunca aparece associado às sopas de pão que ainda hoje se confeccionam nas Beiras ou Trás-os-Montes.

E temos a grande variante da açorda, que já não é sopa, e que se transformou num prato de referência em Portugal. Num tratado de cozinha árabe, de Ibn Abd al-Ra’uf, se refere a açorda, com a designação de Tarid [thari:d] ou Tarida, em árabe, que quer dizer pão migado, ao qual se junta alho, coentros e água quente.

Em consulta de dicionários de árabe encontramos ainda o termo Ath thurdâ, que significa sopa com pão.

O pão, ainda hoje, é um elemento estruturante da nossa alimentação. E no passado o pão teria que ser consumido na sua totalidade pelo seu valor de apoio permanente ao consumo. A sua aplicação na sopa seria uma forma de utilizar o pão mais velho e mais seco. Seria a sua absorção integral.

Em 1876 publica João da Mata o seu “Arte de Cozinha” especialmente destinado aos profissionais. Encontramos aqui a açorda com bacalhau, uma sopa de pão à portuguesa e ainda outras sopas com pão. 

Mas é com Carlos Bento da Maia, edição de 1904, com o título “Tratado Completo de Cozinha e Copa”, que as açordas aparecem como confecção culinária e ilustradas com onze receitas, e fazendo bem a separação das muitas sopas com pão. 

Mas qual é a realidade das açordas na cozinha portuguesa? Primeiro temos a açorda/sopa de que a Açorda Alentejana é o melhor exemplo. Depois a glorificação das açordas como prato completo e a imensa variedade de receituário desde o Douro, toda a costa atlântica com peixes e mariscos, da Beira ao Alentejo com o bacalhau, e o Alentejo com as carnes de porco e enchidos. Temos ainda o conceito de açorda como guarnição, ou complemento, de que saboreamos o excelente exemplo com sável e respectiva açorda de ovas.

A autêntica açorda é feita com alho, pequenas fatias de pão do dia anterior molhadas em água bem quente, temperadas com azeite cru, alho, sal, e coentro picado. Existem variações onde a açorda é finalizada com ovos cozidos ou escalfado, bacalhau, pescada e sardinhas assadas. De comida de pessoas pobres, hoje a açorda é uma das melhores sopas portuguesas.

By : Janeiro 23rd, 2021 Gastronomia 0 Comments

Hoje vamos falar de um petisco português delicioso e com uma historia muito original: Os peixinhos da horta

No século XVI, mais concretamente em 1543, um navio chinês com três marinheiros portugueses a bordo, António da Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto, dirigia-se a Macau. Quis o destino meteorológico, traduzido numa tempestade, que o navio se afastasse para a ilha do sul do Japão, Tanegashima. A dupla de antónios e Francisco foram os primeiros europeus a pisar no solo japonês.

O país enfrentava uma guerra civil e começou a efetuar trocas comerciais com os portugueses.

Dessa forma, foi criado um posto no país, onde eram comercializadas armas, tabaco, sabão, lã… e receitas!

Em 1639 quando os nossos antepassados foram banidos do Japão haviam deixado uma marca indelével na cozinha local, uma receita de feijão-verde, envolto em polme e, depois, frito, os nossos peixinhos da horta. Um preparo que, nas longas travessias oceânicas, permitia aos navegadores conservar os vegetais por períodos mais dilatados.

E a coisa pegou no Japão, tanto que hoje se chama tempura.

O termo “tempura” tem origem no latim “tempora”, que dizia respeito a um período de jejum imposto pela Igreja.

Os católicos não podiam comer carne e assim surgiu o prato.

Na época em que entravam no Japão os nossos peixinhos já traziam carreira feita em território luso. Não se conhece, contudo, a origem deste petisco arreigado à região da Estremadura, singelo na confeção, o que é exemplo de uma cozinha criativa tendo por base poucos ingredientes.

Um preparo que substituiria o peixe em períodos de restrições alimentares e que terá ido cunhar o nome precisamente ao formato semelhante ao de espécies marítimas.

Peixinho da Horta é um um prato que tanto serve para petisco como para uma refeição.

Basicamente é feijão verde tenro frito num polme, podemos fazer assim bem crocante e fino ou podemos fazer peixinhos da horta com colheradas de polme como se fosse uma patanisca.

Receita

Ingredientes

  • 400g de feijão-verde
  • 150g de farinha com fermento
  • 2 ovos
  • 1 dl de agua com gás bem gelada
  • 1 c .s de azeite
  • Sal Marinho
  • Pimenta q. b
  • Óleo para fritar

Preparação

Limpe o feijão-verde, retire o fio e leve-o a cozer em água temperada com sal durante 5 minutos.

Depois, escorra e deixe arrefecer.

Prepare o polme.

Deite a farinha para uma tigela, tempere com sal e pimenta, junte os ovos, o azeite e a água em fio, mexendo sempre até ficar um polme liso.

Leve ao lume um tacho com óleo abundante e deixe aquecer.

Mergulhe o feijão-verde, um a um, no polme, deixe escorrer um pouco, deite no óleo e deixe fritar até ficarem douradinhos.

Retire e deixe escorrer.

By : Janeiro 11th, 2021 Gastronomia 0 Comments

 

Quando estiveres em Portugal, não esquece d’experimentar os petiscos tradicionais. Come-se à mão, com garfo ou colher, pão ao lado e copo servido. De preferencia uma cerveja bem fresca.

E por favor não os chamem de tapas – uma expressão espanhola, e não portuguesa. Os portugueses têm muito orgulho do seus petiscos, porque a comida é acerca das pessoas – o tipo de experiência que inclui lamber dedos, refrescar a alma com cerveja, provar vinhos e conviver até dizer chega.

O povo português é petisqueiro, não há nada a fazer e quem lhe tira essa etapa inaugural que vai de uma ou duas coisas a vinte, tira-lhe a boa disposição. Os cozinheiros portugueses sabem perfeitamente como uns bons peixinhos da horta, fritos na perfeição, põem os portugueses felizes. Dois imperativos apenas para que se cumpra a prática lusa: mesa e companhia. Um voo rasante pelo muito que nos é posto na mesa, com os olhos postos nas harmonizações felizes.

A lista dos petiscos pode ser mesmo muito comprida, mas vamos tentar conhecer os mais famosos.

-Caracóis – os caracóis de Lisboa são, sem dúvida, algo a provar no verão. Encontrarás doses de diversos tamanhos em várias petisqueiras, pequenos restaurantes familiares e alguns cafés

-“Iscas” – fígado de porco salteado com alho e vinho branco denominado “Iscas com elas”, por vezes encontra uma versão com cebolada. Geralmente servido com batata frita ou cozida.

-Favas – quando chega a época da fava, basta uma tigela desta iguaria simplesmente guisada para saber bem. Sejam elas cozidas a sós, ou enriquecidas com rodelas de chouriço e outras carnes, é uma delícia.

-Peixinhos da Horta – um petisco vegetariano, nada mais nada menos que feijão verde panado e frito.

-Ovos verdes – ovos cozidos, cortados ao meio, recheados, panados e fritos. A receita tradicional consiste na gema emulsionada com azeite, vinagre, temperos e salsa.

-Sardinhas – a partir de Junho é a altura ideal para saboreá-las. É a altura delas, por chegarem à nossa costa bem gordas e, por consequência, mais saborosas.

-Pasteis/bolinhos de bacalhau: As pequenas queneles fritas, feitas de proporções variáveis de batata e bacalhau, ligadas com azeite e ovo batido, são uma das grandes glórias da cozinha portuguesa. Estes pastéis tanto se comem à mão como acompanhados com arroz. Quentes, mornos ou frios não perdem a identidade.

-Presunto: O fumeiro nacional é uma instituição e num pratinho de presunto bem cortado assentamos a conversa e o convívio para uma tarde inteira.

-Torresmos: Normalmente feitos a partir de partes do porco ricas em gordura e com o propósito principal de extrair a fabulosa banha que felizmente permanece viva no receituário quotidiano. Em nada ameaça o igualmente fabuloso azeite virgem extra que veneramos na cozinha e na mesa. Os pedaços crocantes e compactos que se extraem são petisco incontornável

-Pataniscas de bacalhau: Chama-se patanisca a diversas preparações hoje em dia, mas quando aqui lhe chamamos petisco é aquela que pela fritura das lascas finas de bacalhau em ovo e polme ganha estrutura firme e come-se à mão.

-Gambas a guilho: Ou lhes chamamos gambas al ajillo, como os espanhóis, ou simplesmente gambas com alho. Sabemos que corruptelas como “guilho” são disparates que nada significam e devemos ser-lhes indiferentes, honrando este petisco de garfo e pão pondo-nos em festa quando vem no azeite ainda fervente, o aroma do alho e coentros a oferecer um exercício respiratório fundador e reparador.

-Queijo curado: Quanto mais pequeno e seco, melhor configura petisco o queijo. Nisa e Évora fatiam bem e fininho, com o sabor concentrado pela evaporação lenta da água retida, ao mesmo tempo que por efeito directo concentram o sal. Serpa e Serra da Estrela também envelhecem muito bem e prestam-se ao petisco horas a fio.

– Salada fria de polvo:Gostamos de polvo de todas as formas, mas picar com o garfinho ou palito os toros de tentáculo cozidos no ponto e bem regados de azeite é assunto quase transcendental.

-Morcela de arroz assada: Uma delícia que é praticamente uma refeição inteira, terá nascido entre Leiria e Santarém, mas hoje é petisco nacional, ombreando com a morcela de sangue da grande tradição. Assa-se no forno, e há quem a coza, isso já fica a cargo de cada um e em casa a liberdade é total.

-Choriço frito:Faz-se em tachinhos de barro a linguiça frita, que pinga e cheira um pouco por todo o território nacional. Ataca-se de palito e é sempre partilhado logo que o fogo se extingue à mesa. Precisa de pão de trigo cortado grosso, para se impregnar com o suado do enchido.

Pica Pau: O pica pau é um prato de origem bem portuguesa composto por ingredientes simples: carne de porco frita – embora também possa ser feito com carne de vaca – e picles. Pode ainda incluir azeitonas e piripiri. Originária do Ribatejo, a carne deste petisco deve ter uma textura macia. O petisco é uma das especialidades de muitas tascas e tasquinhas na generalidade do país. Mais saboroso em boa companhia, não dispensa o pão para aproveitar o molho.

-Pregos e bifanas: A bifana é um prato típico com origem em Vendas Novas. Integram este petisco, febras de porco, cozinhadas à base de alho e vinho. A febra deve depois ser colocada num pão aquecido. Podem ser temperadas com mostarda ou molho picante. Este é um dos pratos que não faltam nas festas populares, em particular no Verão, um pouco por todo o país. As variantes são muitas e podem em alguns casos incluir queijo e fiambre ou outros complementos. Semelhante, mas de carne de vaca é o prego. Outo petisco típico de Portugal. Tal como a bifana é normalmente é temperado com mostarda ou molho picante.

– Alheiras: Alheira, tabafeira ou “chouriço judeu” são os nomes para um enchido com uma história de mais de 500 anos. Com origem em Trás-os-Montes é um prato que os portugueses comem em qualquer altura do ano como petisco ou como prato principal. É um clássico das gastronomia portuguesa, em particular a versão da Mirandela.

– Pipis: “Há moelas e pipis”. Lê-se nas portas e montras de dezenas de tascas, cafés e restaurantes da capital e de todo o país. Os pipis são miúdos de galinha estufados com molho rico de tomate, cebola e alho.

-Moelas estufadas: As moelas estufadas são uma iguaria que tem por base um pequeno refogado de cebola e tomate a que se juntam as moelas de galinha ou de pato. Para alguns são uma versão reduzida dos pipis, dizem alguns. Tal como os pipis, para acompanhar este petisco, só um bom pãozinho para aproveitar o molho.

E qual é o teu favorito?

By : Dezembro 22nd, 2020 Gastronomia, Tradições 0 Comments

O famoso Bolo Rei é uma das tradições de Natal mais conhecidas de Portugal. Não há praticamente nenhuma família portuguesa que não respeite essa tradição. Redondo, com um buraco no meio e recheado de frutas cristalizadas e frutos secos fazem as delícias de toda a família.

Até alguns anos atrás, este bolo típico trazia um brinde – objeto de metal que foi, entretanto, proibido por questões de segurança en 1999 – e ainda uma fava (que também saiu da sua composição). Segundo a tradição portuguesa, a pessoa a quem calhava a fatia de bolo com a fava era a pessoa responsável por, no ano a seguir, comprar o Bolo Rei.

Com o passar do tempo, também esta tradição foi adaptada, existindo agora várias variantes deste doce tradicional de natal, como é o caso do Bolo Rainha para quem não gosta de fruta cristalizada, Bolo de Rei de Chocolate para os mais gulosos e ainda o Bolo de Rei de Gila ou com maçã.

Conta a história que o filho de Baltasar Castanheiro, dono da Confeitaria Nacional na Praça de Figueira, durante uma viagem na Loire, na França, provou pela primeira vez a galette des rois e, apaixonado pelo bolo e pela tradição da fava, que decidia quem comprava o bolo o ano seguinte, importou a tradição em Lisboa. Hoje em dia, podemos experimentar este bolo mais ou menos entre novembro e fevereiro na Confeitaria Nacional onde, no dia 23 de dezembro, a fila de espera é uma prova da importância desta tradição. 

No Porto, a receita é introduzida pela Confeitaria Cascais que importou a tradição direitamente de Paris. 

Com a proclamação da república o bolo correu o risco de desaparecer por causa do nome “rei”

Outros nomes foram propostos: bolo nacional segundo a Confeitaria Nacional ou ex-bolo rei. Os republicanos propuseram Bolo Presidente, Bolo Republicano ou mesmo Bolo Arriaga em relação ao primeiro presidente da República

Mas a tradição deste bolo de Natal, alem de ser portuguesa, encontra-se en formas diferentes em muitos outros países: 

– Galette des rois na França em versão brioche ou versão frangipane avec creme de amêndoas 

– Dreikönigkuchen (o bolo dos três reis) na Suíça 

– Roscón de reyes (galette des rois) em Maiorca, muito parecido a versão portuguesa 

– Brioche des rois nos Alpes provençais

– Rosca de Reyes no México

– Bolo Rei em Nova Orleans, bolo oficial do Mardi Gras (Carnaval) com açúcar colorido. 

– Tortell de reis na Catalunha que pode ser simples ou recheado 

E qual será o vosso bolo de Natal?

By : Dezembro 4th, 2020 Gastronomia 0 Comments

O polvo à lagareiro é uma receita muito típica da gastronomia portuguesa na que o polvo, ingrediente principal de muitos pratos da cozinha lusa, se converte aqui em protagonista. Primeiro é cozido e em seguida levado à grelha onde adquire a estaladiça e deliciosa textura. O nome desta receita vem da figura do lagareiro (um indivíduo que trabalha num lagar na produção de azeite) e se aplica nesta receita devido à grande quantidade de azeite que se utiliza para regar o polvo.

Em termos históricos, o lagar era um tanque rústico onde se faziam azeitonas artesanalmente amassadas e transformadas em pastas, para proceder com a sua prensagem em grandes mós para a extração do azeite. O lagareiro, portanto, era o responsável pelo andamento de todo o processo.

Para além da degustação, saboreando o azeite, algumas preparações eram feitas como teste para conferir e classificar as propriedades e qualidades do óleo. Serviam também como controlo do desempenho dos trabalhadores, excepto se registados desastres climáticos e/ou ataques de pragas. Outro dos fatores que poderia comprometer a qualidades das olivas e do azeite, mas não menos importante, era o manuseamento inadequado dos frutos, desde a colheita e do transporte até à prensagem e armazenamento.

O processo de fabrico do azeite é bastante delicado e solicita agilidade, que requer a atenção máxima dos que nele trabalham. O prazo entre a colheita das olivas e processamento das mesmas, deve ser efectuado o mais rapidamente possível, para que estas não fermentem. Caso isso aconteça, existe grande probabilidade de multiplicação de bactérias, com consequências que podem ser trágicas para o grau de acidez do produto final.

Um prato que passou a ser bastante apreciados a partir da primeira safra de azeite a ser produzida, foi o bacalhau à lagareiro, que nas versões originais, que remontam à muitos séculos atrás, conta que este peixe era dessalgado, empanado com restos de pão moído, frito no azeite retirado directamente dos lagares, acabando por ser saboreado com alho cru ou assado.  Esta receita, teve a sua origem nas Beiras, entre o Sul do Rio Douro e o Norte do Rio Tejo onde se situam os mais antigos núcleos urbanos e aldeias constituídas antes mesmo da consolidação oficial da nação portuguesa.

A preparação do bacalhau nos lagares, quando o óleo das olivas correspondia às expectativas dos produtos, extrapolava o que deveria ser um teste simples, adquirindo contornos festivos.

Celebrava-se, assim, os meses de trabalho árduo. Reza a história que assim que as naus portuguesas e espanholas trouxeram as batatas, foi encontrada a junção perfeita e daí nasce a expressão de que em Portugal, um prato com bacalhau, tem batata. Mais tarde, o bacalhau acabou por ser substituído pelo Polvo, chegando a um maior número de consumidores.

Para que esta receita fosse batizada de “lagareiro”, os ingredientes predominantes passavam pelas batatas cozidas, coradas e esmurradas, a cebola, o alho e no final, tudo mergulhado em azeite, o ingrediente principal deste prato.

Receita de Polvo à Lagareiro

Ingredientes

  • 1 Kilo e meio de polvo
  • 250 ml de azeite
  • 2 cabeças de alho
  • 1 cebola
  • Sal q.b.
  • 900 gramas de batatas pequenas
  • 2 folhas de louro
  • Pimenta branca
  • SalsaPreparação
  • Pré-aquecer o forno a 160 graus.
  • Pôr o polvo numa panela grande com 5 litros de água,  5 ml de azeite, uma cabeça de alho troceada e uma cebola com casca e cozer durante 40 minutos até que fique terno.
  • Verificar espetando com um garfo nos tentáculos mais grossos.
  • Temperar com sal e deixar arrefecer na própria água.
  • Separar a cabeça dos tentáculos e reservar numa travessa ótima para horno.
  • Lavar bem as batatas e envolvê-las em sal.  Para ficarem macias, levar ao forno a 160 grados durante 35 minutos.
  • Sacudir bem o sal das batatas e agregar aos tentáculos. Aumentar a temperatura do forno até 180 graus.
  • Regar o polvo e as batatas com 200 mililitros de azeite, distribuir os dentes de alho esmagados e as folhas de louro pela travessa e polvilhar com pimenta branca molida.
  • Levar ao forno e quando o polvo estiver bem douradinho, será quando fique pronto.
  • Polvilhar a travessa com salsa picada e servir o polvo de imediato.
By : Novembro 25th, 2020 Gastronomia 0 Comments

Não podemos falar de gastronomia portuguesa sem falar dos  enchidos. Desde o chouriço à morcela, passando pela farinheira, ninguém recusa uma boa salsicha. 

Mas entre os vários enchidos, existem dois que podemos encontrar só em Portugal: a alheira e a farinheira. A diferencia com os outros enchidos está no facto que, quando foram inventadas, essas duas salsichas foram produzidas sem carne de porco. Hoje em dia a receita original não sempre é respeitada, mas na sua origem a farinheira era preparada com farinha, vinho e especiarias e a alheira com carne de caça ou de aves, pão e especiarias. 

Mas qual é a origem da ideia de produzir um chouriço sem carne de porco?  

A história começa em 1492, quando Fernando de Aragão e a mulher, a rainha Isabel de Castela, conquistam o último bastião mouro da Península Ibérica – Granada – e invadiram o Palácio da Alhambra. Profundos católicos, os reis acreditavam que os judeus praticantes podiam incentivar aqueles que se converteram ao cristianismo a regressar à sua religião original. Contrataram interrogadores para perseguir judeus no seu reino: estamos a falar da Inquisição espanhola.

Diante da Inquisição Espanhola, os judeus espanhóis fugiram para Portugal, onde o rei D. João II deu-lhe hospitalidade até o século XVI. Na época das Grandes Navegações, os judeus exerciam em Portugal um papel importante nos descobrimentos, colaborando com a abertura de novas rotas marítimas e comerciais.

Esse foi o motivo principal para que D. João II permitisse a entrada dos refugiados em território português. O número superou 120 mil pessoas, segundo o site oficial da Rede de Judiarias do país. Alguns foram para ficar e outros utilizaram Portugal como local de passagem.

Sem ter para onde ir, os judeus da península ibérica encontraram uma forma de burlar as punições dos reis fingindo-se cristãos. Assim, participavam das missas, discutiam trechos da Bíblia e escreviam os seus textos em hebreu, nunca em aramaico. A partir de 1496, os judeus portugueses também foram forçados a converter-se ou, em alternativa, sair do país. Durante os dez anos seguintes, cidadãos mais conservadores, matavam judeus diariamente. Em 1536, a Inquisição chegou formalmente a Portugal e tanto judeus como judeus convertidos eram capturados e queimados vivos na pira, diante de um mar de gente, no Rossio.

Os judeus começaram a esconder-se e a formar comunidades em que se faziam passar por cristãos: escreviam em hebreu e fingiam rituais católicos para não levantar suspeitas. 

Mas em Trás-os-Montes, o disfarce foi mais original. 

Uma das principais maneiras que os membros da Inquisição tinham para descobrir os fugitivos era perceber se estes comiam carne de porco ou não – porque a religião judaica proíbe o seu consumo. Em Mirandela, a 426 km de Lisboa, era comum que as famílias deixassem ao ar livre cachos de linguiças de porco e, assim, era fácil identificar os “estrangeiros”. Os judeus criaram, então, uma “linguiça” feita com pão e frango, que se parecia com a tradicional linguiça de porco, a alheira, que enganou por muitos anos os oficiais da realeza.

As receitas originais exigem muitos pedaços de pão, porque era a forma encontrada pelos judeus para dar consistência à linguiça. Dentro dele, iam carne bovina, de frango, de coelho, de peru ou de pato. Depois, quando a inquisição acabou, a linguiça alternativa teria caído no gosto dos próprios cristãos ibéricos, que passaram a comê-la e incorporaram-na aos pratos típicos — hoje, é considerada uma das sete maravilhas gastronómicas de Portugal.

E das montanhas de Trás-os-Montes difundiu-se para o resto do país.

Hoje-em-dia, a alheira é servida acompanhada de batatas fritas, arroz e um ovo estrelado encima. 

By : Outubro 17th, 2020 Gastronomia 0 Comments

A história dos Ovos Moles tem origem conventual no século XVI. Terá sido no Convento de Jesus de Aveiro que este doce típico terá sido elaborado pela primeira vez. Enquanto que as claras dos ovos eram usadas para tarefas domésticas — para engomar a roupa, por exemplo —, às gemas não se sabia que uso dar. Até ao dia em que lhe juntaram o açúcar!

A cana de açúcar foi trazida para Portugal pelos árabes no século VIII e depressa começaram a tentar plantá-la. No entanto, só após alguns séculos descobriram que o local ideal para o fazer era a ilha da Madeira. Dessa produção, uma parte ia directamente para a casa real que, por sua vez, distribuía outra parte como esmola por várias instituições e conventos. 

Doceiras prendadas, as freiras do convento rapidamente criaram um delicioso doce de ovos que, mais tarde, resultaria nos Ovos Moles de Aveiro.

Os Ovos Moles são servidos em hóstia (obreia), por influência conventual, em formas que remetem para a cidade de Aveiro e a sua tradição piscatória e proximidade com o mar — os peixes, os búzios ou as conchas. Mas também são apresentados dentro de pequenas barricas pintadas à mão.

Desde a implantação da linha de caminho de ferro Porto-Lisboa que é tradicional a venda de ovos moles na paragem dos comboios da estação de Aveiro, por mulheres vestidas com trajes regionais. O doce é tradicionalmente comercializado em barricas de madeira pintadas exteriormente com barcos moliceiros e outros motivos da Ria de Aveiro. 

Já Eça de Queiroz n’Os Maias fazia referencia aos Ovos Moles de Aveiro!

Na capital, esta iguaria também tem lugar de destaque — A Casa dos Ovos Moles em Lisboa. Em hóstia ou nas barricas decoradas a rigor, os Ovos Moles fazem parte de uma lista de doces conventuais que aqui são servidos com toda a tradição e onde os ovos são reis. Fidalgo, Trouxas de Ovos, Celestes ou Toucinho do Céu acompanhados por uma Ginjinha, um Vinho do Porto ou um Moscatel.

E como fazer ovos moles? É só espreitar a receita já a seguir…

 

Ingredientes: (24 unidades)

  • 12 gemas
  • 12 colheres (sopa) de açúcar
  • 12 colheres (sopa) de água
  • 4 folhas de hóstia com moldes
  • claras p/ selar as folhas

Confecção:

  1. Coloque as as gemas, o açúcar e a água num tacho e leve ao lume, mexendo sempre até o creme espessar. Deixe arrefecer.
  2. Deite pequenas porções do creme de ovos, já frio, em 2 folhas de hóstia (deixe um pouco de creme para barrar as outras folhas). Com uma faca, espalhe bem o creme, de forma a preencher os espaços entre os moldes.
  3. Barre os moldes das outras folhas de hóstia e coloque-as por cima das anteriores.
  4. Recorte os moldes de hóstia já cheios.
  5. Molhe os dedos polegar e indicador em clara para unir bem as bordas. Corte as aparas dos moldes e terá prontos os seus ovos-moles de Aveiro.

Agora é só colocar em prática! Bom apetite!

By : Outubro 11th, 2020 Gastronomia 0 Comments

A cozinha portuguesa possui inúmeros tesouros gastronómicos, mas, na minha opinião, um dos mais deliciosos é a Francesinha à moda do Porto. 

Este prato típico da cidade do Porto consiste numa sanduíche que pode ser realizada de diferentes formas mas que, normalmente, tem na sua constituição: duas fatias de pão, salsicha fresca, linguiça, bife de vaca e fiambre. 

No topo desta delicia para o coração, há uma cobertura quase totalmente feita com queijo que, no forno, fica derretido

Mas é o molho seguramente o seu componente mais importante, diríamos mesmo: a alma da Francesinha! Existem diversas variantes do molho mas, habitualmente, usa-se pelo menos tomate, cerveja e piripiri. Como o segredo da Francesinha está no molho, existem inúmeras variantes como, por exemplo, incluir molho de marisco, licores, vinho do Porto, whisky ou diversas especiarias.

A cereja no topo do bolo é o ovo estrelado em cima desta torre de pão, carne e queijo. Além disso, há as batatas fritas e a cerveja bem fresquinha.

Mas qual é a historia deste prato tão bom pelo nosso paladar (e um pouco menos pelo nosso colesterol)? 

Sendo a Francesinha um prato tradicional tão emblemático e popular, de uma cidade tão marcante como é o Porto, é natural que surjam diferentes estórias em torno da história do famoso petisco portuense.

Alguns defendem que o autor desta criação foi Daniel David Silva que, após ter estado emigrado em França, terá confecionado um produto nacional, tendo por base todas as influências da cidade parisiense, inspirando-se nomeadamente no croque-monsieur ou madame (com ovo no topo).

Já em 1953, aproximadamente, surge a Francesinha no restaurante A Regaleira, situado na rua do Bonjardim no Porto. O estabelecimento publicita que o notável petisco foi criado no seu espaço.

A lenda que ficou para a história é que o nome “Francesinha” se deve a este ser um petisco com piri-piri e, por isso, picante, característica que Daniel David Silva relacionaria com as mulheres francesas, para ele as mais “picantes”.

O sucesso da Francesinha é tanto que é fácil haver a tentação de colocar o nome de “Francesinha” às mais variadas invenções: com diferentes tipos de carne, com camarão, vegetarianas, entre outras. Existe, assim, diversidade e, embora algumas variantes possam ser consideradas legítimas, outras deviam ser consideradas uma verdadeira heresia e blasfémia.

Eu defendo a clássica, refeição obrigatória para mim quando fico na cidade invicta. E vocês? Quando vem visitar o Porto comigo e experimentar uma francesinha? 

By : Setembro 15th, 2020 Gastronomia 0 Comments

É o rei do menu de qualquer restaurante de comida portuguesa, segundo a tradição existem 365 receitas diferentes mas os portugueses prometem que são mais de 1000. É a estrela dos jantares do Natal  e também do almoço do dia de Natal, onde os restos de bacalhau e legumes são misturados com ovos e fritos na frigideira, um interessante “reciclagem” do jantar anterior na tradicional “roupa velha”. 

Um verdadeiro prato nacional! Mas poucos sabem que na verdade o bacalhau pesca-se a milhares de quilómetros das águas de Portugal!

Mundialmente apreciado, a história do bacalhau é milenar. Existem registros de existirem fábricas para processamento do Bacalhau na Islândia e na Noruega no Século IX.  Os Vikings são considerados os pioneiros na descoberta do cod gadus morhua, espécie que era farta nos mares que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.

Mas deve-se aos bascos, povo  que habitava as duas vertentes dos Pirineus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, o comércio do bacalhau. Os bascos conheciam o sal e existem registros de que já no ano 1000, realizavam o comércio do bacalhau curado, salgado e seco. O bacalhau foi uma revolução na alimentação, porque na época os alimentos estragavam pela precária conservação e tinham sua comercialização limitada ( a geladeira surgiu no século XX).  O método de salgar e secar o alimento, além de garantir a sua perfeita conservação, mantinha todos os nutrientes e apurava o paladar. A carne do bacalhau ainda facilitava a sua conservação salgada e seca, devido ao baixíssimo teor de gordura e à alta concentração de proteínas.

Um produto de tamanho valor sempre despertou o interesse comercial dos países com frotas pesqueiras. Em 1532, o controle da pesca do bacalhau na Islândia deflagrou um conflito entre ingleses e alemães conhecido como as “Guerras do Bacalhau”

Os portugueses descobriram o bacalhau no século XV, na época das grandes navegações. Precisavam de produtos que não fossem perecíveis, que suportassem as longas viagens, que levavam às vezes mais de 3 meses de travessia pelo Atlântico.

Fizeram tentativas com vários peixes da costa portuguesa, mas foram encontrar o peixe ideal perto do Pólo Norte. Foram de facto os portugueses os primeiros a ir pescar o bacalhau na Terra Nova ( Canadá ), que foi descoberta em 1497. Existem registros de que em 1508 o bacalhau correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal.

Já em 1596, no reinado de D. Manuel, se mandava cobrar o dízimo da pescaria da Terra Nova nos portos de Entre Douro e Minho. Também pescavam o bacalhau na costa da África.

O bacalhau foi imediatamente incorporado aos hábitos alimentares e é até hoje uma de suas principais tradições.

A Igreja Católica, na época da Idade Média, mantinha um rigoroso calendário onde os cristãos deveriam obedecer os dias de jejum, excluindo de sua dieta alimentar as carnes consideradas “quentes”. O bacalhau era uma comida “fria”  e seu consumo era incentivado pelos comerciantes nos dias de jejum. Com isso,  passou a ter forte identificação com a religiosidade e a cultura do povo português.

O bacalhau não escapou à máquina de propaganda do Estado Novo, que transformou as duras lides da pesca numa epopeia romanceada, nessa contradição de projetar o povo português enquanto povo valente.

O bacalhau é chamado de fiel amigo, pois está presente na vida de muitos portugueses em momentos importantes. Tal acontece, pois é um ingrediente fantástico que está na origem de diversas receitas, reivindicando para si o maior protagonismo.

Mas como preparar o bacalhau?

Depois de dessalgar a posta de bacalhau em água fria para três dias e  trocando a agua cada 5-8 horas, pode enfim ser cozido, grelhado, refogado, frito, assado no forno…Bacalhau a Brás (com batatas fritas e ovos na frigideira), Bacalhau a Gomez da Sá (cozido com ovo cozido e batatas cozidas e passado no forno), Bacalhau a Nata, (no forno misturado a batatas fritas e nata), Bacalhau a Minhota, (frito com cebolas)… e todas as receitas que a vossa imaginação sugere!