By : Outubro 17th, 2020 Gastronomia 0 Comments

A história dos Ovos Moles tem origem conventual no século XVI. Terá sido no Convento de Jesus de Aveiro que este doce típico terá sido elaborado pela primeira vez. Enquanto que as claras dos ovos eram usadas para tarefas domésticas — para engomar a roupa, por exemplo —, às gemas não se sabia que uso dar. Até ao dia em que lhe juntaram o açúcar!

A cana de açúcar foi trazida para Portugal pelos árabes no século VIII e depressa começaram a tentar plantá-la. No entanto, só após alguns séculos descobriram que o local ideal para o fazer era a ilha da Madeira. Dessa produção, uma parte ia directamente para a casa real que, por sua vez, distribuía outra parte como esmola por várias instituições e conventos. 

Doceiras prendadas, as freiras do convento rapidamente criaram um delicioso doce de ovos que, mais tarde, resultaria nos Ovos Moles de Aveiro.

Os Ovos Moles são servidos em hóstia (obreia), por influência conventual, em formas que remetem para a cidade de Aveiro e a sua tradição piscatória e proximidade com o mar — os peixes, os búzios ou as conchas. Mas também são apresentados dentro de pequenas barricas pintadas à mão.

Desde a implantação da linha de caminho de ferro Porto-Lisboa que é tradicional a venda de ovos moles na paragem dos comboios da estação de Aveiro, por mulheres vestidas com trajes regionais. O doce é tradicionalmente comercializado em barricas de madeira pintadas exteriormente com barcos moliceiros e outros motivos da Ria de Aveiro. 

Já Eça de Queiroz n’Os Maias fazia referencia aos Ovos Moles de Aveiro!

Na capital, esta iguaria também tem lugar de destaque — A Casa dos Ovos Moles em Lisboa. Em hóstia ou nas barricas decoradas a rigor, os Ovos Moles fazem parte de uma lista de doces conventuais que aqui são servidos com toda a tradição e onde os ovos são reis. Fidalgo, Trouxas de Ovos, Celestes ou Toucinho do Céu acompanhados por uma Ginjinha, um Vinho do Porto ou um Moscatel.

E como fazer ovos moles? É só espreitar a receita já a seguir…

 

Ingredientes: (24 unidades)

  • 12 gemas
  • 12 colheres (sopa) de açúcar
  • 12 colheres (sopa) de água
  • 4 folhas de hóstia com moldes
  • claras p/ selar as folhas

Confecção:

  1. Coloque as as gemas, o açúcar e a água num tacho e leve ao lume, mexendo sempre até o creme espessar. Deixe arrefecer.
  2. Deite pequenas porções do creme de ovos, já frio, em 2 folhas de hóstia (deixe um pouco de creme para barrar as outras folhas). Com uma faca, espalhe bem o creme, de forma a preencher os espaços entre os moldes.
  3. Barre os moldes das outras folhas de hóstia e coloque-as por cima das anteriores.
  4. Recorte os moldes de hóstia já cheios.
  5. Molhe os dedos polegar e indicador em clara para unir bem as bordas. Corte as aparas dos moldes e terá prontos os seus ovos-moles de Aveiro.

Agora é só colocar em prática! Bom apetite!

By : Outubro 8th, 2020 Tradições 0 Comments

O nosso post de hoje nos leva para a cidade de Aveiro, no centro de Portugal, também conhecida como a Veneza portuguesa pelo seus canais e pelas suas “gôndola” muito especiais: os moliceiros. 

Como italiana, percebo os pontos em comum das duas cidades mas acho que os moliceiros, pela sua historia e pela sua tradição, merecem um lugar além da sua comparação com as gôndola veneziana. E vamos descobrir porque.

 O Moliceiro, como o seu nome indica, era um barco de trabalho utilizado para a apanha do moliço, uma alga aquática utilizada para adubar os terrenos agrícolas de quase toda a região de Aveiro. O seu recurso predominava desde Ovar até Mira, variando as suas dimensões consoante a zona navegada.

Correndo o risco de desaparecer devido à quase extinção do uso do moliço, o moliceiro foi recentemente preservado. Reinventado como símbolo cultural da ria de Aveiro, é agora orientado pelo sector turístico.

É na Murtosa que estas criações nascem. Em média, são necessários cerca de 25 dias e 2 homens para a construção de um moliceiro. É essencialmente construído em madeira de pinheiro manso e bravo, espécie predominante na região de Aveiro. O seu tempo médio de vida é de 7 anos.

Actualmente há pouquíssimos construtores navais dedicados à construção de moliceiros.  

O barco moliceiro tem cerca de 15 metros de comprimento e 2,5m de largura. A sua borda baixa facilitava o carregamento do moliço, mas são as suas elegantes proa e ré que, com as suas pinturas, o distinguem das demais embarcações portuguesas. São decorados com pinturas que abordam temas que se alteram com os tempos. Estes motes são devidos às transições socio-culturais na História de Portugal.

As pinturas dos moliceiros são sempre compostas por texto e imagem. Começaram por ser uma espécie de jornal da Ria, uma plataforma para expressar a opinião e os acontecimentos entre as pessoas de Ovar, Murtosa, São Jacinto, Ílhavo, Mira… O que se passava nestas localidades era representado nestas pinturas. Eram e são uma forma de comunicação que relata a actualidade, homenageia figuras queridas ou satiriza outras indesejada.

Antigamente, era o próprio construtor naval quem pintava os moliceiros. Depois, por questões de poupança, passaram a ser os proprietários a fazê-lo. Actualmente, é um trabalho encomendado a artistas da região que primam pela preservação desta tradição.

As várias temáticas abordadas abrangem conteúdos religiosos, burlescos, sociais, históricos e lúdicos, consoante a actualidade e o mediatismo. Comentam-se os trabalhos e as vidas dos envolvidos nas embarcações, as instituições e figuras públicas, as festas e cerimónias, os descobrimentos, os militares… As mais recentes pinturas falam, por exemplo, de equipas e jogadores de futebol, do fado, da política, da União Europeia, do Big Brother ou da crise económica… Nada escapa à visão crítica de um pintor de moliceiros!

Então fica a dica: quando visitarem Aveiro, ponham no programa uma viagem de moliceiro, para descobrir a cidade de um ponto de vista diferente. Um passeio de circa 45 minutos para duas pessoas custa entre 20 e 30 euros. E se preferirem ficar com os pes no chão, não perca a possibilidade de ir observar os moliceiros por perto para descobrir as suas interessantes pinturas.