O Real Paço de Nossa Senhora da Ajuda foi mandado erguer por D. José I (1714-1777) no alto da colina da Ajuda. Este edifício, construído em madeira para melhor resistir a abalos sísmicos, ficou conhecido por Paço de Madeira ou Real Barraca. Substituía o sumptuoso Paço da Ribeira que fora destruído no Terramoto que arrasou Lisboa em Novembro de 1755.
O novo Paço, habitável desde 1761, veio a ser a residência da Corte durante cerca de três décadas. Em 1794, no reinado de D. Maria I (1734-1816), um incêndio destruiu por completo esta habitação real e grande parte do seu valioso recheio.
O projeto de construção dum novo palácio de pedra e cal, iniciou em 1796 sob a regência do príncipe real D. João, mas foi suspenso decorridos cinco anos de construção, quando, em 1802, Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva, arquitectos formados em Itália, foram encarregues de o adaptar à nova corrente neoclássica.
A partida da Corte para o Brasil, em 1807, na sequência das invasões napoleónicas, e a falta periódica de recursos financeiros não permitiram ao projeto de continuar de maniera regular.
Os confrontos entre liberais e absolutistas mergulharam o país numa frágil estabilidade e, em 1833, a construção paralisou por completo. Após a vitória liberal, D. Pedro assumiu o Governo como regente, na menoridade da filha, D. Maria da Glória, e jurou a Carta Constitucional na Sala do Trono do Paço da Ajuda, em 1834.
Foi com a subida ao trono de D. Luís I (1838-1889), que uma nova etapa se iniciou, adquirindo finalmente a verdadeira dimensão de paço real ao ser escolhido para residência oficial da corte. As verdadeiras alterações na decoração dos interiores começaram em 1862, ano do casamento do rei com a princesa de Sabóia, D. Maria Pia (1847-1911). Foi então iniciado um longo trabalho de reformulação que se estendeu a diversos níveis: das paredes aos tectos – forrados, estucados ou pintados de novo –, ao revestimento dos soalhos com parquets e alcatifas, à escolha do mobiliário para as salas. Tudo encomendado a casas especializadas, portuguesas ou estrangeiras, fornecedoras da Casa Real. Os presentes de casamento e bens trazidos de Itália pela rainha ajudaram á decoração dos apartamentos remodelados.
Os espaços queriam-se agora mais íntimos e resguardados. Introduziram-se novas dependências no piso térreo: a Sala de Jantar, para as refeições diárias da família, uma sala de estar – a Sala Azul – e zonas de lazer, de que são exemplo a Sala de Mármore e a de Bilhar; por fim, as casas de banho dotadas de água corrente, quente e fria. O andar nobre fora reservado para as recepções de gala e o piso térreo, a partir da Sala de Música e ao longo da fachada poente, destinado aos aposentos privados. O Palácio foi-se tornando palco das reuniões do conselho de Estado, dos dias de grande gala – os banquetes e as recepções oficiais – e do quotidiano familiar: aqui nasceram os príncipes D. Carlos (1863-1908) e D. Afonso (1865-1920).
Após a morte de D. Luís I, em 1889, a vida agitada do Palácio da Ajuda alterou-se profundamente. No novo reinado, a Corte dividira-se entre três Paços: a Ajuda, onde D. Maria Pia permaneceu com D. Afonso; Belém – onde nasceram os príncipes D. Luís Filipe (1887-1908) e D. Manuel (1889-1932) – e as Necessidades, residências alternativas de D. Carlos I e D. Amélia (1865-1951). O andar nobre da Ajuda manteve-se reservado para a realização de cerimónias oficiais.
Em 1910, quando da instauração da República e consequente exílio da Família Real, o Palácio foi encerrado.
Em 2007, o Palácio, juntamente com os outros palácios nacionais passou a integrar o conjunto de imóveis tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação.
Hoje é cenário das cerimónias protocolares de representação de Estado.
Filho de Dona Maria II e D Fernando II, D. Pedro V teve uma educação moral e intelectual esmerada, estudando entre outras disciplinas, ciências naturais, filosofia, escrita e línguas. Desde cedo demonstrou ter notável inteligência, aos dois anos falava alemão e francês e aos doze anos dominava o grego e o latim sabendo também falar inglês.
Viajou para diversos países e tentou trazer para Portugal a modernidade e evolução que encontrava nestas viagens, era liberal e inovador mas também caridoso e preocupado com o seu povo. Inaugurou o primeiro telégrafo em Portugal e também o caminho de ferro entre Lisboa e Carregado e foi chamado “O rei Santo” porque se recusou a sair de Lisboa durante as epidemias de cólera e febre amarela de 1853 a 1857 onde prestou auxilio direto às vitimas e criou o asilo D. Pedro V para acolher os seus órfãos , dando-lhes instrução primária e ensinando-lhes um oficio.
D. Pedro V não tinha grandes interesses matrimoniais, recusando a sua primeira prometida esposa mas aceitando por fim a segunda, Estefânia de hohenzollern-Sigmaringen.
Em Abril de 1858, o rei D. Pedro V e a rainha D. Estefânia casaram-se por Procuração, mas só se conheceram um mês depois.
O casamento foi a 18 de maio de 1858, na Igreja de São Domingos, em Lisboa. Toda a cidade estava pronta para receber o evento.
Para agradar a sua futura esposa D. Pedro V manda fazer uma das jóias mais caras da Coroa Portuguesa em seu nome e propositadamente para o seu casamento. Um diadema com mais de 4.000 diamantes e é aqui, que segundo o povo, o infortúnio desta historia de amor começa.
Na época os diamantes não deveriam ser utilizados por mulheres virgens no casamento e como se isso não fosse já um presságio, a jóia era de tal maneira pesada que fez uma ferida aberta na testa da Rainha. Ao sair do seu casamento com sangue a escorrer o povo ditou a sua sentença: “Ai coitadinha…vai morrer!
No entanto, para D Pedro V, depois de conhecer D. Estefânia, tudo mudou: o casal parecia apaixonado, passeavam de mãos dadas pelos jardins de Sintra e Benfica.
Mas faltava a rainha engravidar. Um ano depois do casamento, a rainha sentiu-se mal e foi internada. Com apenas 22 anos de idade a rainha faleceu de difteria que terá sido contraída numa inauguração de caminhos de ferro no Alentejo.
O marido ficou à cabeceira da sua cama, sem dormir, durante dois dias inteiros. Os médicos da casa real fizeram uma autópsia, mas o seu resultado só foi tornado público 50 anos mais tarde num artigo do famoso médico Ricardo Jorge: a rainha morreu virgem!
No dia do enterro D. Estefânia levava consigo a tão preciosa jóia que à chegada ao local foi trocada por uma coroa de flores de laranjeira… a jóia, no valor de 86.953,645 reis nunca mais foi vista.
D. Pedro não conformado com a perda do seu grande amor acabou por morrer a 11 de novembro de 1861, aos 24 anos. Morreu de febre-tifóide que contraiu por beber água contaminada durante uma caçada.
Durante o reinado de D. João V, depois da assinatura de um tratado de paz entre vários países europeus (1713), seguiu-se uma política de aproximação entre Portugal e Espanha.
Foi então negociado um duplo casamento entre os príncipes herdeiros dos dois reinos: a princesa portuguesa Maria Bárbara (filha de D. João V) casaria com o herdeiro ao trono espanhol, príncipe Fernando; o futuro rei D. José I casaria com a princesa D. Mariana Vitória (filha de D. Filipe V, 1.º rei da dinastia de Bourbon, em Espanha).
Era também uma forma de procurar garantir a paz entre os dois reinos.
Os documentos para este contrato foram assinados em Lisboa e Madrid, em 1727, tendo-se iniciado os preparativos para a cerimónia dos casamentos, que ficou conhecida como a “troca das princesas”.
No dia 10 de janeiro de 1723 se assinaram no paço da Ribeira, de Lisboa, as capitulações do contrato matrimonial da princesa com o príncipe das Astúrias D. Fernando, filho de Felipe V, de Espanha, o primeiro da dinastia dos Bourbon, e de sua primeira mulher, D. Maria Luísa Gabriela de Sabóia. À noite houve no Terreiro do Paço fogos de artifício, todos os navios surtos no Tejo se embandeiraram e se iluminaram com brilhantismo, sendo igualmente brilhantes as iluminações por toda a cidade. No dia seguinte realizou-se o casamento, em Lisboa, por procuração na igreja Patriarcal.
A troca das princesas devia ocorrer num terreno neutro. Por esse motivo, foi construída uma ponte com um palácio em madeira sobre o rio Caia, rio que assinala a fronteira entre Portugal e Espanha na região de Elvas/Badajoz. O palácio, muito bem decorado, acolheria as famílias reais e os principais convidados.
O cortejo real saiu de Lisboa a 8 de Janeiro, seguido dos séquitos da rainha D. Maria Ana Josefa e do patriarca, D. Tomás de Almeida.
D. João V chegou a Évora no dia 10, acompanhado por D. José, e logo tratou de ordenar uma “recepção solene e festiva” para a sua esposa, que viajava na companhia da filha, Maria Bárbara de Bragança, e do infante D. Pedro. A recebê-los estavam as autoridades da cidade, incluindo a nobreza e clero, dois batalhões de infantaria e dois regimentos de cavalaria, além do povo que acorreu às portas da Lagoa, “da parte de fora dos muros”.
A cerimónia da troca das princesas, casadas com os herdeiros de duas coroas, efectuou-se com a maior pompa, fazendo-se a viagem com toda a magnificência.
O enxoval da princesa D. Maria Bárbara foi grandioso e deslumbrante. D. João V, para dar mais assombroso realce à cerimónia, mandou construir o palácio de Vendas Novas, que ainda hoje existe, com o único fim de dar pousada durante duas noites, uma à ida e outra à volta, à comitiva portuguesa e espanhola. Em 1746 faleceu Filipe V, e o príncipe das Astúrias subiu ao trono com o nome de Fernando VI, cingindo assim a princesa D. Maria Bárbara a coroa de rainha de Espanha.
A comitiva da princesa D. Maria Bárbara era composta por vários coches encomendados de propósito para a cerimónia. Seguiam ainda 185 carroças e 6 mil soldados.
Muita gente acorreu às margens do rio para assistir, na medida do possível, aos acontecimentos públicos das cerimónias.
Os casamentos tiveram lugar a 19 de janeiro de 1729.
Há 291 anos.
Após o golpe militar de 1926, foi estabelecida uma ditadura no país. Em 1932, Antônio de Oliveira Salazar tornou-se o ministro das finanças e ditador e instaurou um regime inspirado no fascismo italiano.
Vivia-se num País onde tudo era censurado e proibido: as professoras primárias e enfermeiras não podiam casar; o biquíni era perseguido nas praias; as senhoras na missa não podiam levar os braços descobertos; para usar um isqueiro era preciso uma licença; os jornais, livros, filmes, peças de teatro, canções e músicas tinham de passar pela censura, eram cortados e proibidos.
Não havia liberdade de expressão, de imprensa, de reunião, de manifestação, à greve, sindical, de partidos políticos e era muito reduzido e controlado o direito de associação. Não existia o direito à Saúde, à protecção social, ao Ensino ou à Habitação e, por isso, um elevado número de portugueses vivia sem água canalizada, eletricidade ou esgotos.
A polícia política (PIDE) vigiava, controlava e registava a vida dos cidadãos. Interceptava correio, telefones, vigiava contactos, viagens, participação em actividades de lazer, culturais, desportivas e especialmente sociais e políticas. Desde a chegada dos fascistas ao poder, em 28 de Maio de 1926, os que se opuserem e lutaram pela liberdade e a democracia, sofreram a maior repressão.
O aparelho de Estado foi adaptado como instrumento repressivo do regime fascista.
A emigração clandestina foi o escape, nos anos sessenta, para mais de um milhão de portugueses procurarem o emprego e condições de vida que não tinham em Portugal. No ano de 1968 o ditador sofreu um derrame cerebral, que resultou em sua substituição por seu ex-ministro Marcelo Caetano, que deu continuidade à sua política. No entanto, a decadência econômica que o país sofreu, em conjunto com o desgaste de 13 anos de guerra colonial, provocou descontentamento na população e nas forças armadas, o que resultou na aparição de um movimento contra a ditadura.
É nesta conjuntura efervescente que os militares do Movimento das Forças Armadas (MFA), que se vinham organizando e conspirando desde 1973, concretizam em 25 de Abril de 1974, um golpe militar que derruba o regime, que cai sem oferecer resistência significativa e quase sem tiros e vítimas.
Mas porque esta revolução ficou na historia como revolução dos cravos?
Celeste Caeiro era empregada de mesa no restaurante Franjinhas.
Naquele dia era o aniversário de inauguração do restaurante Franjinhas com um serviço inovador de self-service, o primeiro de Lisboa. Uma festa onde não podiam faltar flores. Quando chegou ao trabalho, Celeste encontrou a porta fechada e foi informada pelo patrão de que não iria abrir porque estava em marcha uma revolução. Mas que não se desperdiçassem as flores.
Levou os cravos consigo até ao Rossio, onde os tanques militares aguardavam novas ordens de Salgueiro Maia. Um soldado pediu um cigarro a Celeste, mas esta não era fumadora e tudo o que tinha para lhe dar era um dos cravos que tinha trazido do restaurante. O soldado aceitou a flor e colocou-a no cano da espingarda, sinal de uma revolução sem armas, e logo os companheiros lhe seguiram os passos, levando Celeste a distribuir todos os cravos que tinha nos braços.
Um gesto insólito, uma imagem que deu a volta ao mundo e instalou-se no imaginário dos sonhadores. Horas mais tarde, várias floristas se esforçavam para que ninguém ficasse sem cravos, contribuindo para os imortalizar como um símbolo de liberdade.