A realização de produtos en barro preto, produzidos na aldeia de Bisalhães, no concelho de Vila Real, é um processo ancestral que passa por cozer as peças feitas pelos oleiros em fornos abertos na terra.
O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães, em Vila Real, foi inscrito na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da Unesco.
A inscrição na lista da Unesco vai ainda “motivar a implementação de um amplo plano de salvaguarda que o município de Vila Real idealizou, que vai desde a formação de oleiros, passando pela certificação do processo e até ao incentivo do surgimento de novas utilizações e designs para este material único”.
O principal problema desta atividade é o envelhecimento dos oleiros. Atualmente, são cinco os que fazem desta arte a sua atividade principal e a maioria tem mais de 75 anos. Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI.
É de facto, um trabalho moroso que passa por diferentes etapas, desde o guardar e separar o barro no ‘celeiro’, ao picá-lo, peneirá-lo para a ‘gamela’, onde é misturado com água, até se formarem as “peis”, guardadas em locais húmidos e depois usadas pelos oleiros que ainda os devem amaciar e retirar o excesso de ar. Assim se consegue o ‘embolado’, colocado com perícia, no centro da roda baixa, ao ritmo pretendido pelo oleiro, que faz nascer as peças que tanto admiramos.
Depois, são colocadas ao ar a secar, para que as mulheres as possam ‘gogar’ (decorar), usando pequenas pedras, desenhando flores, folhas e linhas, ou outros motivos, cujo gosto ou a inspiração do momento, consigam representar.
Segue-se a cozedura, um dos principais passos do processo, talvez aquele que mais caracteriza a Olaria de Bisalhães, pois é durante a mesma, nos fornos abertos na terra, que a louça adquire a tão característica cor preta.
Após esta dura missão, são retiradas e arrefecidas uma a uma, pequeninas, pequenas, médias e grandes maravilhas que, com perícia e saber, são limpas do pó, com cuidadosas batedelas de farrapos. Depois, são colocadas em cestos, pelas mulheres, que incansavelmente ajudam em todo este processo, transportando-as até suas casas, a fim de as prepararem para as bancas de venda, chegando até nós dois fantásticos tipos de louça: a chamada louça ‘Churra’ (utilitária), alguidares de forno, assadeiras, talhas, e a louça ‘Fina’ (decorativa) bilhas de segredo, bilhas de rosca, pratos e pucarinhos de peito ou perna, etc.
Apesar de todas essas iniciativas, restam apenas 5 oleiros? Como manter esta arte viva e como atrair novos artesãos para esta arte?
Ao longo de décadas, a transmissão de conhecimentos às novas gerações (quer no seio das famílias da aldeia, quer nos infrutíferos cursos de formação realizados), não foi acautelada pela comunidade local. Essa é uma realidade que impede a vinda de novos artesãos para esta arte.
O árduo trabalho do processo de confeção da Louça Preta de Bisalhães (transporte, recolha da matéria prima, preparação das peças, processo de cozedura e venda), a tradicional divisão de tarefas, com a intervenção das mulheres, a pouca valorização social desta arte, levando as unidades familiares de produção, principalmente as gerações mais novas, a emigrar, procurando novos modos de vida, a progressiva substituição das peças de barro preto, por outros objetos de fabrico industrial, são também algumas das grandes razões para o abandono na produção da Louça de Bisalhães. A esperança vem de dois jovens e promissores oleiros que, com a sua perseverança, têm dado continuidade a todo esse saber e nos quais, apesar de diferentes vicissitudes, mantemos a vontade de projetar o que todos nós pretendemos, a continuidade da Olaria de Bisalhães.
O Figurado de Barcelos é uma arte incontornável, constituindo-se como uma das maiores produções tradicionais de Portugal, em virtude da relevância que o trabalho no barro adquiriu ao longo dos séculos e da sua ligação às gentes e à região.
Essa arte concentrou-se sobretudo na parte norte-este da cidade que era mais rica em barro e agua
O Figurado é uma produção certificada desde 2008. Este facto torna Barcelos o primeiro concelho a certificar esta expressão popular artística, que é a raiz identitária de um território que pretendeu valorizar e afirmar a sua arte singular.
Figurado sortido era a designação adotada para as peças de estatuária de expressão popular, produzidas na região de tradição oleira do atual concelho de Barcelos, onde cabiam desde as pequenas peças modeladas integralmente à mão, até às peças produzidas em pequenos moldes ou através de técnicas mistas usadas nesta produção. Deste grupo, ainda faziam parte as peças modeladas à mão, sem molde, como pitas, gaitas e alguns galos. Ao mesmo universo pertencem as peças iniciadas em molde e terminadas à mão, como os músicos e os bois. Do mesmo modo, inserem-se neste grupo as peças produzidas a partir de uma forma base, levantada na roda de oleiro e que eram também terminadas à mão, como os galos de roda, os rouxinóis e as cornetas. Com a mesma designação de figurado, eram ainda conhecidas as peças produzidas em molde, mas com acabamento ingénuo ou primitivo.
A diversidade desta produção nasce das habilidosas mãos dos barristas que reproduzem tudo o que veem e sentem. As temáticas nas quais se espelha esta produção são por sua vez, a religião e a festa, o bestiário, a vida quotidiana, figuras várias e miniaturas. Neste contexto, importa destacar as peças mais características dentro de cada temática. Na temática da religião e festas, predominam as representações de Cristos e as alminhas, assim como de práticas religiosas. O mundo do fantástico, representado pelo bestiário apresenta monstros, diabos e figuras disformes que unem o sagrado e o profano no Figurado. Representações de cenas da vida rural, ofícios, profissões e bonecos dominam o leque de peças do Figurado, mostrando a importância da vida quotidiana como inspiração para esta produção. Na categoria de figuras avulsas surgem as emblemáticas peças como os galos, ouriços, pombas, bois e cabras. Entre outras destaca-se o famoso Galo (podem ler o meu post do 1 de setembro 2020 https://lisbon-a-love-affair.com/2020/09/01/the-rooster-of-barcelos-how-was-this-portuguese-symbol-born/)
Quanto ao modo de produção, a modelação, a moldagem e o torneamento são as técnicas usadas na produção do Figurado de Barcelos, usadas isoladamente ou combinadas entre si, sendo a modelação a mais importante e mais valorizada, já que a intervenção pessoal do artesão é total ou praticamente total.
Por fim, considerando a identidade do Figurado, impossível será não referir um dos nomes mais carismáticos desta arte: Rosa Ramalho, a figura que chamou a atenção através do qual esta arte única se difundiu no meio mais urbano e elitista.
A Rosa Ramalho aprendeu muito cedo a trabalhar o barro mas abandonou essa arte para dedicar-se a sua família. Foi quando ficou viuva, com 68 anos e analfabeta, que começou a produzir as peças que a renderam famosa. Descoberta em 1950 para o colecionador Alexandre Alves Costa durante a sua pesquisa de arte popular. A suas obras são dramáticas e creativas e mostram ao mesmo tempo uma grande imaginação .
O Figurado de Barcelos, produto artesanal certificado, constitui atualmente uma das maiores produções artesanais do concelho. Esta produção iniciou-se como uma atividade subsidiária da olaria, nos tempos livres e aproveitando pequenas porções de barro, faziam-se pequenas peças para as crianças brincarem, nomeadamente figuras de pessoas ou animais onde se colocavam na base das mesmas um apito ou instrumentos musicais (ocarinas, rouxinóis, cucos, gaitas, entre outros). O Figurado de Barcelos distingue-se de qualquer outra produção, assumindo características únicas, quer nas formas quer nas cores. Se quiserem assistir a realização dum figurado, deixo aqui esse video.
https://youtube.com/watch?v=KcAB8Df6s8U
A ‘cantarinha dos namorados’ de Guimarães é uma prenda muito oferecida por alturas de São Valentim, mantendo-se assim viva uma tradição antiga que atualmente é alimentada pelas mãos de mestres da olearia.
Segundo a tradição, quando um rapaz se dispunha a fazer o pedido oficial de casamento oferecia primeiro à namorada uma cantarinha, moldada em barro. Se a prenda fosse aceite, estava formalizado o pedido particular, passando a depender apenas da vontade dos pais o anúncio do noivado. Uma vez dado o consentimento, a cantarinha servia então para guardar as prendas que o noivo e os pais da noiva ofereciam, designadamente peças em ouro.
Atualmente, as cantarinhas já não são propriamente usadas para pedir a mão a alguém nem para guardar jóias, mas assumem-se como “guardiãs” de segredos e de histórias de amor. “Quem as oferece, fá-lo pelo simbolismo que elas encerram”, é feita em barro vermelho polvilhada de mica branca.
Existem as Cantarinhas grandes, símbolo da abundância, do futuro, da esperança. E a Cantarinha pequena, símbolo da vida real, das incertezas do futuro e das pequenas felicidades do quotidiano.
A Cantarinha era utilizada, assim como os lenços dos namorados, (artigo do 14 de outubro) como símbolo de aceitação ou rejeição de um pedido de namoro/noivado. Se houvesse consentimento dos pais, o noivado era anunciado e o dote tratado, e as prendas oferecidas aos noivos eram colocadas na Cantarinha (cordões de ouro, tranceletes, cruzes, corações). Outra versão diz que, dentro da Cantarinha eram colocadas rifas. A rapariga, tirava depois uma ao acaso que correspondia a uma prenda. Cantarinha dos Namorados é o nome mais comum, mas acrescentem-se outros dois: Cantarinha das Prendas e Cantarinha de Guimarães.
Além do seu significado enquanto objecto casamenteiro, que é o seu atributo magno, a Cantarinha dos Namorados não deixa de ser um produto oleiro de excelência no que toca ao artesanato português. Feita em barro vermelho cozido por sete horas, e ornamentada com pequenos floreados de mica esmigalhada, há uma elegância inegável ao olharmos para ela, e percebemos o porquê de fazer derreter as meninas que recebiam tal artefacto nas mãos.
É composta por três partes: a cantarinha da base, claramente maior, representando a prosperidade do casal; a cantarinha que se sobrepõe a essa, visivelmente mais pequena, simbolizando os problemas que qualquer par de noivos ou casados tem de enfrentar; e por fim, o remate é feito com um pássaro, que alguns dizem ser o guarda-segredos da relação.
Quando visitamos uma cidade portuguesa, uma das primeiras características que observamos encontra-se em baixo dos nossos pés. Estou a falar da calçada portuguesa, verdadeira obra de arte em pedra que com vários desenhos decora as cidades lusitanas.
Mas qual é a historia e a origen?
Há uma historia que nos diz que a calçada portuguesa tem origem por causa de um rinoceronte. Lembram-se do Ganga, o rinoceronte branco de D Manuel? Se ainda não o conhecem, podem ler a sua historia no meu artigo do dia 29 de outubro (https://lisbon-a-love-affair.com/pt/2020/10/29/o-rinoceronte-do-rei/)
Ora, tudo começa então com a chegada do rinoceronte.
No aniversário do Rinoceronte que só saia uma vez por ano no inverno no dia 21 de Janeiro, era organizado um enorme cortejo que saia às ruas de Lisboa ostentando as novas riquezas do rei chegadas do oriente. Nesse cortejo não poderia faltar Ganga, obviamente e para que o rinoceronte ricamente ornamentada não chafurdasse na lama, sujando-se a si e aos que o rodeavam, D. Manuel ordenou que se calcetassem as ruas por onde o cortejo iria passar.
São as cartas régias de 20 de Agosto de 1498 e de 8 de Maio de 1500, assinadas pelo rei D. Manuel I de Portugal, que marcam o início do calcetamento das ruas de Lisboa, mais notavelmente o da Rua Nova dos Mercadores (antes Rua Nova dos Ferros)
Foi utilizado neste calcetamento granito vindo do Porto, no entanto o seu transporte tornou o trabalho dispendioso para os cofres do reino, mas o Rinoceronte merecia
Surgia assim a Calçada à portuguesa, mais irregular que a conhecemos hoje, mas era o seu inicio.
Posteriormente, o terramoto de 1755 destruiu grande parte da cidade e com ela as suas ruas calcetadas. Mas só em 1842 Lisboa voltaria a ver uma calçada reconstruída, desta vez com pedras de calcário, geralmente brancas e pretas, material abundante na região. Deste modo, aplicavam-se pedras praticamente cúbicas, que é como as conhecemos hoje em dia e em todo o mundo por onde Portugal deixou marca.
O trabalho foi realizado por presidiários (chamados grilhetas na época), a mando do Governador de armas do Castelo de São Jorge, o tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado.
O desenho utilizado nesse pavimento foi de um traçado simples (tipo zig-zag) mas, para a época, a obra foi de certa forma insólita, tendo motivado cronistas portugueses a escrever sobre o assunto.
Após o sucesso da empreitada foram concedidas verbas a Eusébio Furtado para que os reclusos pavimentassem também a Praça do Rossio, numa extensão de 8.712m². Esta obra terminou em 1848, com desenhos a homenagear os descobrimentos portugueses, e ficou conhecida como Mar Largo. Rapidamente se espalhou esta moda pelo país e pelas colónias, onde foram produzidas autênticas obras-primas nas zonas pedonais, enobrecendo o espaço público urbano, num ideal de modernização das cidades.
A Baixa de Lisboa transforma-se com a maioria das suas ruas a serem calcetadas a basalto, entre elas o Largo de Camões em 1867, o Príncipe Real em 1870, a Praça do Município em 1876, o Cais do Sodré em 1877 e o Chiado, finalizando em 1894. A abertura da Avenida da Liberdade dá-se em 1879 e em 1908 chega finalmente ao Marquês de Pombal com largos passeios onde foram introduzidos belos e deslumbrantes tapetes de desenhos, que fazem de Lisboa a cidade referência deste tipo de pavimento artístico.
Mas a calçada não se encontra só em Portugal. No séc. XV os territórios de além-mar de influência portuguesa também viram a pedra da mesma origem revestir os seus arruamentos
Isto deveu-se ao facto de muitos dos navios que partiam para esses destinos irem vazios, a fim de regressarem carregados de bens e mercadorias locais, e por isso terem necessidade de aumentar a sua carga e assim garantir a sua estabilidade de navegação – o chamado lastro. A solução encontrada foi carregar as embarcações de pedra portuguesa à partida de Lisboa.
Um exemplo longínquo desta expansão da calçada portuguesa é Macau – antigo território administrativo português e talvez o território fora de Portugal com a maior área de calçada. Os motivos dos desenhos são, na maioria, de caravelas, rosas-dos-ventos, conchas, peixes, estrelas ou ondas do mar. Nem mesmo depois de 1999, aquando a transferência de soberania para a República Popular da China, essa área diminuiu, antes pelo contrário, ainda hoje este tipo de pavimento é implementado, até por calceteiros chineses, formados por mestres portugueses.
Actualmente, podemos ainda encontrar antigos pavimentos de calçada portuguesa no Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Índia ou Timor. Ou até encontrar novos exemplos, como acontece em Espanha ou nos E.U.A.
A técnica
Os calceteiros com o auxílio de um martelo, fazerem pequenos ajustes na forma da pedra, e utilizam moldes para marcar as zonas de diferentes cores, de forma a que repetem os motivos em sequência linear (frisos) ou nas duas dimensões do plano (padrões). A geometria do século XX demonstrou que há um número limitado de simetrias possíveis no plano: 7 para os frisos e 17 para os padrões. Um trabalho de jovens estudantes portugueses registou, nas calçadas de Lisboa, 5 frisos e 11 padrões, atestando a sua riqueza em simetrias.
Destacam-se as técnicas de aplicação de calçada mais comuns: a antiga calçada à portuguesa, que se caracteriza pela forma irregular de aplicação das pedras; o malhete, semelhante mas com mais espaço entre as pedras; a calçada portuguesa clássica, que tem uma aplicação em diagonal, segundo um alinhamento de 45 graus com os muros ou lancis; a calçada à fiada, com as pedras alinhadas em filas paralelas; a calçada circular; a calçada sextavada; a calçada artística, que se caracteriza pela aplicação de pedras com formatos específicos e/ou pelo contraste de cores; o Mar Largo; o leque segmentado; o leque florentino; e o rabo de pavão.
Os desenhos
Durante muito tempo os desenhos foram elaborados por amadores com muita perícia, tendo geralmente como base motivos tradicionais ligados ao grande feito dos portugueses – os Descobrimentos.
A partir dos anos 50, alguns artistas foram convidados a desenhar motivos destinados à calçada portuguesa.
Nos dias de hoje o papel dos arquitetos é fundamental na concepção de motivos a aplicar a espaços em recuperação, como nas zonas antigas das cidades portuguesas.
São os próprios mestres que criam e desenvolvem novos tipos de aplicação da pedra consoante o gosto e estilo profissional.
Em 1986, foi criada pela Câmara Municipal de Lisboa, uma Escola de Calceteiros com o único objetivo de formar profissionais, e ensinar-lhes os saberes de velhos mestres e assim assegurar a “sobrevivência” da calçada portuguesa.
A origem da filigrana remonta ao terceiro milénio antes de Cristo, na Mesopotâmia. As peças mais antigas datam de 2500 a.C. e foram descobertas no atual Iraque. Outras peças, descobertas na Síria, são de aproximadamente 2100 a.C.
Chegou à Europa através das rotas comerciais no mar Mediterrâneo, onde se tornou relativamente popular nas civilizações Grega e Romana. As descobertas mais antigas de joalharia em filigrana foram feitas na atual Itália e estima-se que sejam do séc. XVIII a.C. No entanto, a filigrana continuou a sua viagem e cruzou fronteiras até à Índia e à China. No extremo Oriente, era usada sobretudo como elemento decorativo e não como joalharia.
Mas em que a filigrana distingue-se das outras artes de joalharia?
Na forma como diferentes fios finos desenham padrões e são soldados conjuntamente de maneira a criar uma peça muito maior. Nenhuma outra arte de joalharia usa uma técnica de fusão semelhante para juntar fios de ouro. Hoje – como há milhares de anos – os diferentes fios que compõem cada peça unem-se apenas pelo calor, sem recorrer a nenhum outro material ou liga.
As peças mais antigas em filigrana descobertas na Península Ibérica remontam a 2000 – 2500 a.C., mas a sua origem não é clara. Possivelmente, estas peças pertenciam a comerciantes ou navegadores originários do Médio Oriente e não foram fabricadas aqui.
Só durante o domínio dos romanos, durante o séc. II a.C., começou a existir na Península exploração mineira.
Mas apenas milhares de anos depois, no séc. VIII d.C., conseguimos assegurar com certeza que a filigrana estava a ser desenvolvida e produzida em Portugal. Foi com a chegada de povos Árabes que surgiram novos padrões e que, pouco a pouco, a filigrana da Península se começou a diferenciar da filigrana de outras partes do mundo.
A filigrana portuguesa representa maioritariamente a natureza, a religião e o amor:
- o mar é representado com peixes, conchas, ondas e barcos;
- a natureza é a inspiração das flores, dos trevos e das grinaldas;
- com motivos religiosos, encontramos as cruzes, como a cruz de Malta, e os relicários. o amor, claro, é a inspiração de todos os corações em filigrana.
Outros símbolos icónicos da filigrana portuguesa:
– O coração de Viana: um símbolo de dedicação e de culto do Sagrado Coração de Jesus. Terá sido a rainha D. Maria I que, grata pela “bênção” de lhe ter sido concedido um filho varão, mandou executar um coração em ouro.
Com o passar do tempo, o coração acabou por começar a ser relacionado com o “amor profano”, símbolo da ligação entre dois seres humanos. Tornou-se tão popular que as cornucópias e as linhas do Coração de Viana começaram a ser reproduzidas em lenços e bordadas em todo o tipo de tecidos. Eventualmente, isto trouxe ao Coração de Viana o reconhecimento e a popularidade que se mantém até aos dias de hoje.
– Os brincos da Rainha: é quase unânime que os brincos rainha apareceram em Portugal durante o reinado da Rainha D. Maria I (1734 – 1816). A origem do nome, essa, parece remontar ao reinado de D. Maria II (1819 – 1853), que usou um par destes brincos numa visita a Viana do Castelo em 1852. Depois desta visita, popularizaram-se como símbolo de riqueza e de status e ganharam o nome “brincos rainha”.
– As arrecadas: começaram por ser os brincos da população mais humilde e que as classes mais privilegiadas começaram a imitar. Na sua origem estavam as arrecadas Castrejas, com inspiração no quarto crescente da lua.
Hoje, o fabrico de filigrana em Portugal concentra-se sobretudo nas zonas de Gondomar e da Póvoa do Lanhoso. A proximidade da matéria prima – proveniente, por exemplo, das serras de Pias e Banjas – fizeram da região um dos núcleos mais notáveis da Ourivesaria Portuguesa. Ainda hoje, em 2018, Gondomar é responsável por 60% da produção de ourivesaria nacional.
Uma curiosidade: o ouro português tem 19,2 quilates (o ouro puro tem 24).
A região do Minho, ao norte de Portugal, é conhecida pela qualidade de seus bordados, portanto, não é de se admirar que tenha sido o local em que a tradição do Lenço dos Namorados tenha começado.
Diz-se que antigamente, as moças minhotas em idade de se casar tinham por hábito bordar o seu enxoval, mas entre uma peça e outra, elas bordavam às escondidas um pequeno quadrado, geralmente com versinhos de amor e alguns desenhos.
O dito quadradinho ficava guardado com ela até que tivesse a oportunidade de fazê-lo chegar ao rapaz que amava. Isso geralmente acontecia nas missas de domingo, quando ela “distraidamente”, deixava-no cair próximo ao rapaz. Depois de bordado, o lenço era entregue ao namorado ou “conversado” e o fato dele usar publicamente ou não, que se decidia o namoro. Se ele aceitasse, poria o lenço por cima do seu casaco domingueiro, colocava-o ao pescoço com o nó voltado para a frente, usava-o na aba do chapéu.
Caso contrário, o lenço voltaria às mãos da menina. Se por acaso, ele aceitasse mas, mais tarde, trocasse de parceira, fazia chegar à sua antiga pretendida o lenço, e outros objetos que lhe pertencessem, como fotografias, cartas.
Os lenços, representam o sentimento da menina em relação ao rapaz, no qual ela escreve pequenos versos de amor, ou símbolos.
O auge dessa prática foi entre 1850 e 1950, em especial nas cidades de Viana do Castelo, Guimarães, Vila Verde, Telões e Aboim da Nóbrega. A escrita era marcada pelos erros ortográficos, visto que, em sua grande maioria, as raparigas que os bordavam eram de famílias humildes e com poucos estudos.
Hoje o lenço dos namorados virou um engraçado souvenir e alguns mais antigos, quando não são relíquias de família, encontram-se expostos em museus.
Basicamente o Lenço dos Namorados é um lenço fabricado a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados.
Damos conta muitas vezes, de erros ortográficos nestes lenços, que denunciam a falta de instrução da época.
Sendo bordados a ponto cruz, estes lenços eram muito trabalhosos e morosos, obrigando a “bordadeira” a ser muito paciente e cuidadosa na sua confecção. Com o passar dos tempos, foram-se adotando outros tipos de pontos mais fáceis e rápidos de bordar. Com esta alteração a decoração inicial dos lenços modifica, as originais cores de preto e vermelho, vão dar origem a uma série de outras cores e outros motivos de decoração. Porém, não se perdendo nunca, o objetivo principal.
Pensa-se que foi a partir destes lenços que surgiram mais tarde os Lenços de Casamento, muito maiores, que a noiva levava na cabeça, ou que envolviam o ramo, bem como as algibeiras usadas à cintura bordadas com missangas e fitas de veludo.
Felizmente este património não foi esquecido e, nos dias de hoje, mantém-se como um dos símbolos da cultura e tradição portuguesa.
A tradição dos azulejos em Portugal não só é antiga mas é também a mais representativa do pais. A historia conta que tive inicio quando, no ano de 1498, D Manuel I Rei de Portugal fez uma viagem a Espanha e ficou maravilhado com o esplendor dos interiores mouriscos e com as cores dos revestimentos de paredes e murais.
Na sequência da sua vontade de construir a sua residência à imagem dos palácios visitados em Sevilha, Toledo e Saragoça, o azulejo chegou em Portugal. O Palácio nacional de Sintra, que foi utilizado como sua residência, tornou-se um dos melhores e mais originais exemplos dos azulejos portugueses iniciais, na época ainda importados de fabricas de Sevilha.
Apesar das técnicas arcaicas vir do exterior, assim como a tradição da decoração islâmica nos exageros decorativos de padrões geométricos complexos, a sua entrada em Portugal denota uma influencia do gosto europeu pelos motivos vegetalistas do gótico e uma particular estética portuguesa.
Mas começamos com ordem: de onde vem a palavra azulejo? É um termo árabe, azzelij, que significa pequena pedra polida e é a designação dada a um artefacto em cerâmica com pouca espessura, normalmente quadrado, sendo uma das superfícies vidrada em consequência da cozedura do revestimento, chamado de esmalte, tornando-se desta forma brilhante e impermeável. Esta superfície pode ter uma única cor ou possuir varias cores, ser lisa ou com relevo.
Os motivos representados variam entre as narrações de circunstancias históricas, mitologia, religião e vários motivos de decoração. O império português ultramarino teve uma influencia importante na diversidade das formas; assimilou formas e e decorações de outras civilizações.
Os azulejos portugueses representam o imaginário de um povo, a sua atracão pela historia real e a sua cumplicidade pelo intercâmbio cultural.
A nova indústria do azulejo floresce com as encomendas da nobreza e do clero. Grandes painéis são fabricados à medida para preencher as paredes de igrejas, conventos, palácios, solares e jardins. A inspiração vem das artes decorativas, dos têxteis, da ourivesaria, das gravuras e das viagens dos portugueses ao oriente. Surgem grandes composições cenográficas, característica marcante do barroco, com motivos geométricos, temáticas figurativas e vegetalistas de uma fauna e flora exóticas.
Em finais do século XVII, a qualidade da produção e execução é maior, há famílias inteiras envolvidas nesta arte de fazer azulejos e, alguns pintores começam a afirmar-se enquanto artistas, passando a assinar as suas obras, dando assim início ao Ciclo dos Mestres.
Depois do terramoto de 1755, a reconstrução de Lisboa vai impor outro ritmo na produção de azulejos de padrão, hoje designados pombalinos, usados para decoração dos novos edifícios. Os azulejos são fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais. Nos finais do século XVIII, o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero, a burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios, os painéis contam por vezes a história da família e até da sua ascensão social.
A partir do século XIX, o azulejo ganha mais visibilidade, sai dos palácios e das igrejas para as fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitetura. A paisagem urbana ilumina-se com a luz reflectida nas superfícies vidradas. A produção azulejar é intensa, são criadas novas fábricas em Lisboa, Porto e Aveiro. Mais tarde, já em pleno século XX, o azulejo entra nas estações de caminho de ferro e metro, e alguns conjuntos são assinados por artistas consagrados.
Pensando nos produtos típicos de Portugal, pensamos imediatamente no vinho, como o Porto ou o vinho da Madeira, ou nas esplêndidas cerâmicas, os azulejos pintados à mão que decoram casas e jardins.
Contudo, nem todos sabem que Portugal está em primeiro lugar no mundo no processamento de cortiça, com 53% da produção mundial. Na região do Alentejo, entre Lisboa e a costa atlântica, concentra-se 72% da produção total de todo o país e artesãos qualificados trabalham aqui.
O que obtém do processamento de casca? Praticamente tudo: bonés, acessórios para casa, acessórios de moda, roupas e sapatos, mas também bolsas e mochilas, móveis e revestimentos para pisos ou paredes.
A cortiça é um produto 100% natural, macio, resistente, versátil, recicláveis, hipoalergénico e com propriedades térmicas que mantêm o calor e o frio.
A cortiça é um elemento tão enraizado na história de Portugal que encontramos vestígios dela em muitos monumentos:
– O Convento de Santa Cruz do Buçaco e o Convento dos Capuchos de Sintra, por exemplo, onde os monges usavam cortiça para cobrir as paredes e tornar o ambiente mais confortável e é assim que encontramos algumas células e algumas áreas comuns com as paredes cobertas cortiça.
– Na Basílica da Estrela, em Lisboa, você pode admirar os berços do século XVIII com figuras de teracota em cenários de cortiça.
– Os batentes das portas, janelas e vigias do Chalet da Condessa d´Edla em Sintra estão decorados com elementos de cortiça.
– São Brás de Alportel (Algarve) deve o seu desenvolvimento à indústria da cortiça e hoje está localizada no centro da Rota da Cortiça, no meio de belas florestas de cortiça.
O cultivo de plantas de cortiça é uma arte que requer tempo e muita paciência. Um sobreiro leva 25 anos para ser produtivo e capaz de fazer a primeira “decapagem” (extração de cortiça). Entre um descortiçamento e outro devem passar 9 anos e somente a partir do terceiro teremos uma cortiça bastante compacta e utilizável. As placas de cortiça são empilhadas ao ar livre, depois são fervidas e divididas de acordo com a espessura e a qualidade. Com as melhores pranchas, as rolhas naturais são obtidas enquanto as pranchas inferiores são usadas para solas para sapatos ou rolhas para vinhos comuns. As árvores podem viver até 400 anos e garantir colheitas por 200 anos