Olaria negra de Bisalhães.

By : Janeiro 17th, 2021 Artesanato 0 Comments

A realização de produtos en barro preto, produzidos na aldeia de Bisalhães, no concelho de Vila Real, é um processo ancestral que passa por cozer as peças feitas pelos oleiros em fornos abertos na terra.

O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães, em Vila Real, foi inscrito na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da Unesco. 

A inscrição na lista da Unesco vai ainda “motivar a implementação de um amplo plano de salvaguarda que o município de Vila Real idealizou, que vai desde a formação de oleiros, passando pela certificação do processo e até ao incentivo do surgimento de novas utilizações e designs para este material único”.

O principal problema desta atividade é o envelhecimento dos oleiros. Atualmente, são cinco os que fazem desta arte a sua atividade principal e a maioria tem mais de 75 anos. Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI.

É de facto, um trabalho moroso que passa por diferentes etapas, desde o guardar e separar o barro no ‘celeiro’, ao picá-lo, peneirá-lo para a ‘gamela’, onde é misturado com água, até se formarem as “peis”, guardadas em locais húmidos e depois usadas pelos oleiros que ainda os devem amaciar e retirar o excesso de ar. Assim se consegue o ‘embolado’, colocado com perícia, no centro da roda baixa, ao ritmo pretendido pelo oleiro, que faz nascer as peças que tanto admiramos.

Depois, são colocadas ao ar a secar, para que as mulheres as possam ‘gogar’ (decorar), usando pequenas pedras, desenhando flores, folhas e linhas, ou outros motivos, cujo gosto ou a inspiração do momento, consigam representar.

Segue-se a cozedura, um dos principais passos do processo, talvez aquele que mais caracteriza a Olaria de Bisalhães, pois é durante a mesma, nos fornos abertos na terra, que a louça adquire a tão característica cor preta.

Após esta dura missão, são retiradas e arrefecidas uma a uma, pequeninas, pequenas, médias e grandes maravilhas que, com perícia e saber, são limpas do pó, com cuidadosas batedelas de farrapos. Depois, são colocadas em cestos, pelas mulheres, que incansavelmente ajudam em todo este processo, transportando-as até suas casas, a fim de as prepararem para as bancas de venda, chegando até nós dois fantásticos tipos de louça: a chamada louça ‘Churra’ (utilitária), alguidares de forno, assadeiras, talhas, e a louça ‘Fina’ (decorativa) bilhas de segredo, bilhas de rosca, pratos e pucarinhos de peito ou perna, etc. 

Apesar de todas essas iniciativas, restam apenas 5 oleiros? Como manter esta arte viva e como atrair novos artesãos para esta arte?

Ao longo de décadas, a transmissão de conhecimentos às novas gerações (quer no seio das famílias da aldeia, quer nos infrutíferos cursos de formação realizados), não foi acautelada pela comunidade local. Essa é uma realidade que impede a vinda de novos artesãos para esta arte.

O árduo trabalho do processo de confeção da Louça Preta de Bisalhães (transporte, recolha da matéria prima, preparação das peças, processo de cozedura e venda), a tradicional divisão de tarefas, com a intervenção das mulheres, a pouca valorização social desta arte, levando as unidades familiares de produção, principalmente as gerações mais novas, a emigrar, procurando novos modos de vida, a progressiva substituição das peças de barro preto, por outros objetos de fabrico industrial, são também algumas das grandes razões para o abandono na produção da Louça de Bisalhães. A esperança vem de dois jovens e promissores oleiros que, com a sua perseverança, têm dado continuidade a todo esse saber e nos quais, apesar de diferentes vicissitudes, mantemos a vontade de projetar o que todos nós pretendemos, a continuidade da Olaria de Bisalhães.

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