Já alguma vez se indagou porque razão o Rei D. Pedro era conhecido como “o justiceiro” ou como “o cruel”? Este Rei, que ficou famoso na História de Portugal por ter mandado arrancar o coração dos homens que assassinaram a sua amante Inês de Castro (post do 10 agosto 2020) e por ter exigido que beijassem o seu cadáver estando ela sentada no trono, costumava fazer justiça pelas próprias mãos, um pouco por todo o país.
D. Pedro I deslocava-se frequentemente por Portugal e gostava de ouvir as histórias e as queixas de quem tinha sido injustiçado e, em vez de recorrer aos tribunais, era ele próprio quem proferia as sentenças e, muitas vezes, praticava as mesmas. São várias as histórias de justiça pelas próprias mãos a ele atribuídas.
Em Santarém habitava um lavrador rico com quem o rei se dava. Um dia, estando nessa cidade e como não visse o homem, perguntou por ele e apurou que o filho o atacara à facada, deixando-lhe uma cicatriz na cara. O rei ordenou então que o chamassem e pediu-lhe que contasse como as coisas se tinham passado.
O lavrador narrou a discussão que tivera com o filho e a agressão de que fora vítima, na presença da mulher. “Ora, manda-me cá a tua mulher e o teu filho”, ordenou o monarca. Quando a mulher chegou, perguntou-lhe: “Ouve lá, de quem é o filho?” Ela gaguejou: “Meu e do meu marido, senhor.” O rei cofiou a barba. “Hum!, não acredito. Se o teu marido fosse o verdadeiro pai, ele não o teria acutilado daquela forma.”
A lavradora acabou por admitir que o rapaz era filho de um frade confessor que a teria violado. No dia seguinte, D. Pedro foi ouvir missa na igreja onde em tempos ocorrera a violação. Concluída a cerimónia, mandou chamar o religioso.
Após curta troca de palavras, o rei mandou meter o violador num caixote e serrá-lo ao meio. Como o rei não era um ilusionista daqueles que serram mulheres sem que estas sofram beliscadura, o desgraçado teve uma morte horrorosa.
O episódio do bispo do Porto ainda é bastante recordado. Constou a D. Pedro, sem ter provas, que o prelado mantinha relações íntimas com uma mulher casada. Tanto bastou para que entrasse pelo paço episcopal e, pegando no chicote, o punisse. De outra vez, ao saber que uma mulher enganava o marido, condenou-a à morte. E de nada valeu ao enganado implorar de joelhos o perdão da esposa, que decerto amava.
Mas há um aspecto da vida de D. Pedro I menos conhecido. Narra o cronista Fernão Lopes que o arrebatado soberano teve uma assolapada paixão… pelo escudeiro Afonso Madeira, ao qual “amava mais do que se deve aqui dizer”.
Como este tivesse um caso com uma tal Catarina Tosse, o rei, furioso, “mandou-lhe cortar aqueles membros que os homens em maior apreço têm, de modo que não ficou carne até aos ossos que tudo não fosse cortado”. O pobre Afonso, segundo Lopes, foi tratado, “curou-se, engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos engelhado de rosto e sem barba e morreu depois de sua natural morte”.
Hoje vamos falar de um petisco português delicioso e com uma historia muito original: Os peixinhos da horta
No século XVI, mais concretamente em 1543, um navio chinês com três marinheiros portugueses a bordo, António da Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto, dirigia-se a Macau. Quis o destino meteorológico, traduzido numa tempestade, que o navio se afastasse para a ilha do sul do Japão, Tanegashima. A dupla de antónios e Francisco foram os primeiros europeus a pisar no solo japonês.
O país enfrentava uma guerra civil e começou a efetuar trocas comerciais com os portugueses.
Dessa forma, foi criado um posto no país, onde eram comercializadas armas, tabaco, sabão, lã… e receitas!
Em 1639 quando os nossos antepassados foram banidos do Japão haviam deixado uma marca indelével na cozinha local, uma receita de feijão-verde, envolto em polme e, depois, frito, os nossos peixinhos da horta. Um preparo que, nas longas travessias oceânicas, permitia aos navegadores conservar os vegetais por períodos mais dilatados.
E a coisa pegou no Japão, tanto que hoje se chama tempura.
O termo “tempura” tem origem no latim “tempora”, que dizia respeito a um período de jejum imposto pela Igreja.
Os católicos não podiam comer carne e assim surgiu o prato.
Na época em que entravam no Japão os nossos peixinhos já traziam carreira feita em território luso. Não se conhece, contudo, a origem deste petisco arreigado à região da Estremadura, singelo na confeção, o que é exemplo de uma cozinha criativa tendo por base poucos ingredientes.
Um preparo que substituiria o peixe em períodos de restrições alimentares e que terá ido cunhar o nome precisamente ao formato semelhante ao de espécies marítimas.
Peixinho da Horta é um um prato que tanto serve para petisco como para uma refeição.
Basicamente é feijão verde tenro frito num polme, podemos fazer assim bem crocante e fino ou podemos fazer peixinhos da horta com colheradas de polme como se fosse uma patanisca.
Receita
Ingredientes
- 400g de feijão-verde
- 150g de farinha com fermento
- 2 ovos
- 1 dl de agua com gás bem gelada
- 1 c .s de azeite
- Sal Marinho
- Pimenta q. b
- Óleo para fritar
Preparação
Limpe o feijão-verde, retire o fio e leve-o a cozer em água temperada com sal durante 5 minutos.
Depois, escorra e deixe arrefecer.
Prepare o polme.
Deite a farinha para uma tigela, tempere com sal e pimenta, junte os ovos, o azeite e a água em fio, mexendo sempre até ficar um polme liso.
Leve ao lume um tacho com óleo abundante e deixe aquecer.
Mergulhe o feijão-verde, um a um, no polme, deixe escorrer um pouco, deite no óleo e deixe fritar até ficarem douradinhos.
Retire e deixe escorrer.
A Festa dos Tabuleiros realiza-se de 4 em 4 anos no princípio de julho. A sua origem remonta ao Culto do Espirito Santo, instituído no Séc. XIV, mas nela se vislumbram as origens remotas das antigas festas das colheitas, seja pela profusão de flores, seja pela presença do pão e das espigas de trigo nos tabuleiros.
A Festa inicia-se no Domingo de Páscoa, com a Saída das Coroas e Pendões de todas as freguesias em procissão animado por gaiteiros, tamborileiros, fogueteiros e bandas de música.
A partir daí, repetir-se-á sete vezes tal Procissão, apresentando apenas as Coroas e Pendão da Cidade e algumas das freguesias. Vedada a participação das crianças no Grande Cortejo, o Cortejo dos Rapazes é a solução encontrada para que às crianças seja dada a possibilidade de viverem intensamente a sua Festa. O Cortejo dos Rapazes é um cortejo à imagem da Grande Cortejo, que ocorre na domingo anterior a este, nele participando os alunos dos Jardins de Infância e Escolas Básicas.
Na sexta-feira anterior ao Cortejo dos Tabuleiros tem lugar o Cortejo do Mordomo, o qual simboliza a entrada na cidade dos bois do sacrifício que, no passado, viriam a ser abatidos para distribuição da carne.
Antigamente chamava-se Cortejo dos Bois do Espírito Santo; hoje é um importante cortejo de carruagens e cavaleiros, com as parelhas de bois à cabeça.
As ruas do Centro Histórico são ornamentadas com milhões de flores de papel confeccionadas durante muitos meses de labor apaixonado.
No sábado anterior ao do Grande Cortejo, de manhã, chegam das freguesias, nos Cortejas Parciais, as centenas de Tabuleiros que no dia seguinte irão desfilar. À tarde têm lugar os jogos Populares Tradicionais (corrida de bilhas e pipas, tração de cordas, subida do pau ensebada, chinquilho,…).
O Cortejo é um caudal imenso e serpenteante de cor e música. Centenas de pares fazem o cortejo: o traje feminino compõe-se de vestido comprido, com uma fita colorida a cruzar o peito, levando no alto os Tabuleiros; o traje masculino é uma simples camisa branca e mangas arregaçadas, calças escuras, barrete ao ombro e gravata na cor da fita da rapariga.
A fechar o Cortejo vão os carros triunfais do pão, da carne e do vinho puxados pelos bois do sacrifício simbólico.
O Tabuleiro é o Símbolo e principal alfaia da Festa dos Tabuleiros. Deve ter a altura da rapariga que o carrega. Ornamenta-se com flores de papel, verdura e espigas de trigo. É constituído por 30 pães de formato especial e 400 gramas cada, enfiados equitativamente em 5 ou 6 canas.
Na base, um lençol branco símbolo de pureza, os 30 pães representam as 30 moedas de Judas
Os Flores representam fertilidade e colheita (agora são realizados em papel)
Estas saem de um cesto de vime envolvido em pano bordado e são rematadas, no topo, por uma coroa encimada pela Cruz de Cristo ou Pomba do Espírito Santo.
Só as mulheres podem trazer o tabuleiro sobre à cabeça. Se o rapaz quiser ajudá-la, pode levar o tabuleiro mas tem que ser no ombro.
A realização de produtos en barro preto, produzidos na aldeia de Bisalhães, no concelho de Vila Real, é um processo ancestral que passa por cozer as peças feitas pelos oleiros em fornos abertos na terra.
O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães, em Vila Real, foi inscrito na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da Unesco.
A inscrição na lista da Unesco vai ainda “motivar a implementação de um amplo plano de salvaguarda que o município de Vila Real idealizou, que vai desde a formação de oleiros, passando pela certificação do processo e até ao incentivo do surgimento de novas utilizações e designs para este material único”.
O principal problema desta atividade é o envelhecimento dos oleiros. Atualmente, são cinco os que fazem desta arte a sua atividade principal e a maioria tem mais de 75 anos. Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI.
É de facto, um trabalho moroso que passa por diferentes etapas, desde o guardar e separar o barro no ‘celeiro’, ao picá-lo, peneirá-lo para a ‘gamela’, onde é misturado com água, até se formarem as “peis”, guardadas em locais húmidos e depois usadas pelos oleiros que ainda os devem amaciar e retirar o excesso de ar. Assim se consegue o ‘embolado’, colocado com perícia, no centro da roda baixa, ao ritmo pretendido pelo oleiro, que faz nascer as peças que tanto admiramos.
Depois, são colocadas ao ar a secar, para que as mulheres as possam ‘gogar’ (decorar), usando pequenas pedras, desenhando flores, folhas e linhas, ou outros motivos, cujo gosto ou a inspiração do momento, consigam representar.
Segue-se a cozedura, um dos principais passos do processo, talvez aquele que mais caracteriza a Olaria de Bisalhães, pois é durante a mesma, nos fornos abertos na terra, que a louça adquire a tão característica cor preta.
Após esta dura missão, são retiradas e arrefecidas uma a uma, pequeninas, pequenas, médias e grandes maravilhas que, com perícia e saber, são limpas do pó, com cuidadosas batedelas de farrapos. Depois, são colocadas em cestos, pelas mulheres, que incansavelmente ajudam em todo este processo, transportando-as até suas casas, a fim de as prepararem para as bancas de venda, chegando até nós dois fantásticos tipos de louça: a chamada louça ‘Churra’ (utilitária), alguidares de forno, assadeiras, talhas, e a louça ‘Fina’ (decorativa) bilhas de segredo, bilhas de rosca, pratos e pucarinhos de peito ou perna, etc.
Apesar de todas essas iniciativas, restam apenas 5 oleiros? Como manter esta arte viva e como atrair novos artesãos para esta arte?
Ao longo de décadas, a transmissão de conhecimentos às novas gerações (quer no seio das famílias da aldeia, quer nos infrutíferos cursos de formação realizados), não foi acautelada pela comunidade local. Essa é uma realidade que impede a vinda de novos artesãos para esta arte.
O árduo trabalho do processo de confeção da Louça Preta de Bisalhães (transporte, recolha da matéria prima, preparação das peças, processo de cozedura e venda), a tradicional divisão de tarefas, com a intervenção das mulheres, a pouca valorização social desta arte, levando as unidades familiares de produção, principalmente as gerações mais novas, a emigrar, procurando novos modos de vida, a progressiva substituição das peças de barro preto, por outros objetos de fabrico industrial, são também algumas das grandes razões para o abandono na produção da Louça de Bisalhães. A esperança vem de dois jovens e promissores oleiros que, com a sua perseverança, têm dado continuidade a todo esse saber e nos quais, apesar de diferentes vicissitudes, mantemos a vontade de projetar o que todos nós pretendemos, a continuidade da Olaria de Bisalhães.
Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária e heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, teria morto sete castelhanos que encontrara escondidos num forno.
Brites de Almeida teria nascido em Faro, em 1350, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna.
A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos.Teria seis dedos nas mãos, o que teria alegrado os pais, pois julgaram ter em casa uma futura mulher muito trabalhadora. Contudo, isso não teria sucedido, sendo que Brites teria amargurado a vida dos seus progenitores, que faleceriam precocemente.
Aos 26 anos ela estaria já órfã, facto que se diz não a ter afligido muito. Vendeu os parcos haveres que possuía, resolvendo levar uma vida errante, negociando de feira em feira. Muitas são as aventuras que supostamente viveu, da morte de um pretendente no fio da sua própria espada, até à fuga para Espanha a bordo de um batel assaltado por piratas que a venderam como escrava a um senhor poderoso da Mauritânia.
Acabaria, entre uma lendária vida pouco virtuosa e confusa, por se fixar em Aljubarrota, onde se tornaria dona de uma padaria e tomaria um rumo mais honesto de vida. Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha entre portugueses e castelhanos.
Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha para se albergarem nas redondezas. Encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque Brites teria saído para ajudar nas escaramuças que ocorriam. Quando Brites voltou, tendo encontrado a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou alvoroçada à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os.
Diz-se também que, depois do sucedido, Brites teria reunido um grupo de mulheres e constituído uma espécie de milícia que perseguia os inimigos, matando-os sem dó nem piedade.
Quando estiveres em Portugal, não esquece d’experimentar os petiscos tradicionais. Come-se à mão, com garfo ou colher, pão ao lado e copo servido. De preferencia uma cerveja bem fresca.
E por favor não os chamem de tapas – uma expressão espanhola, e não portuguesa. Os portugueses têm muito orgulho do seus petiscos, porque a comida é acerca das pessoas – o tipo de experiência que inclui lamber dedos, refrescar a alma com cerveja, provar vinhos e conviver até dizer chega.
O povo português é petisqueiro, não há nada a fazer e quem lhe tira essa etapa inaugural que vai de uma ou duas coisas a vinte, tira-lhe a boa disposição. Os cozinheiros portugueses sabem perfeitamente como uns bons peixinhos da horta, fritos na perfeição, põem os portugueses felizes. Dois imperativos apenas para que se cumpra a prática lusa: mesa e companhia. Um voo rasante pelo muito que nos é posto na mesa, com os olhos postos nas harmonizações felizes.
A lista dos petiscos pode ser mesmo muito comprida, mas vamos tentar conhecer os mais famosos.
-Caracóis – os caracóis de Lisboa são, sem dúvida, algo a provar no verão. Encontrarás doses de diversos tamanhos em várias petisqueiras, pequenos restaurantes familiares e alguns cafés
-“Iscas” – fígado de porco salteado com alho e vinho branco denominado “Iscas com elas”, por vezes encontra uma versão com cebolada. Geralmente servido com batata frita ou cozida.
-Favas – quando chega a época da fava, basta uma tigela desta iguaria simplesmente guisada para saber bem. Sejam elas cozidas a sós, ou enriquecidas com rodelas de chouriço e outras carnes, é uma delícia.
-Peixinhos da Horta – um petisco vegetariano, nada mais nada menos que feijão verde panado e frito.
-Ovos verdes – ovos cozidos, cortados ao meio, recheados, panados e fritos. A receita tradicional consiste na gema emulsionada com azeite, vinagre, temperos e salsa.
-Sardinhas – a partir de Junho é a altura ideal para saboreá-las. É a altura delas, por chegarem à nossa costa bem gordas e, por consequência, mais saborosas.
-Pasteis/bolinhos de bacalhau: As pequenas queneles fritas, feitas de proporções variáveis de batata e bacalhau, ligadas com azeite e ovo batido, são uma das grandes glórias da cozinha portuguesa. Estes pastéis tanto se comem à mão como acompanhados com arroz. Quentes, mornos ou frios não perdem a identidade.
-Presunto: O fumeiro nacional é uma instituição e num pratinho de presunto bem cortado assentamos a conversa e o convívio para uma tarde inteira.
-Torresmos: Normalmente feitos a partir de partes do porco ricas em gordura e com o propósito principal de extrair a fabulosa banha que felizmente permanece viva no receituário quotidiano. Em nada ameaça o igualmente fabuloso azeite virgem extra que veneramos na cozinha e na mesa. Os pedaços crocantes e compactos que se extraem são petisco incontornável
-Pataniscas de bacalhau: Chama-se patanisca a diversas preparações hoje em dia, mas quando aqui lhe chamamos petisco é aquela que pela fritura das lascas finas de bacalhau em ovo e polme ganha estrutura firme e come-se à mão.
-Gambas a guilho: Ou lhes chamamos gambas al ajillo, como os espanhóis, ou simplesmente gambas com alho. Sabemos que corruptelas como “guilho” são disparates que nada significam e devemos ser-lhes indiferentes, honrando este petisco de garfo e pão pondo-nos em festa quando vem no azeite ainda fervente, o aroma do alho e coentros a oferecer um exercício respiratório fundador e reparador.
-Queijo curado: Quanto mais pequeno e seco, melhor configura petisco o queijo. Nisa e Évora fatiam bem e fininho, com o sabor concentrado pela evaporação lenta da água retida, ao mesmo tempo que por efeito directo concentram o sal. Serpa e Serra da Estrela também envelhecem muito bem e prestam-se ao petisco horas a fio.
– Salada fria de polvo:Gostamos de polvo de todas as formas, mas picar com o garfinho ou palito os toros de tentáculo cozidos no ponto e bem regados de azeite é assunto quase transcendental.
-Morcela de arroz assada: Uma delícia que é praticamente uma refeição inteira, terá nascido entre Leiria e Santarém, mas hoje é petisco nacional, ombreando com a morcela de sangue da grande tradição. Assa-se no forno, e há quem a coza, isso já fica a cargo de cada um e em casa a liberdade é total.
-Choriço frito:Faz-se em tachinhos de barro a linguiça frita, que pinga e cheira um pouco por todo o território nacional. Ataca-se de palito e é sempre partilhado logo que o fogo se extingue à mesa. Precisa de pão de trigo cortado grosso, para se impregnar com o suado do enchido.
Pica Pau: O pica pau é um prato de origem bem portuguesa composto por ingredientes simples: carne de porco frita – embora também possa ser feito com carne de vaca – e picles. Pode ainda incluir azeitonas e piripiri. Originária do Ribatejo, a carne deste petisco deve ter uma textura macia. O petisco é uma das especialidades de muitas tascas e tasquinhas na generalidade do país. Mais saboroso em boa companhia, não dispensa o pão para aproveitar o molho.
-Pregos e bifanas: A bifana é um prato típico com origem em Vendas Novas. Integram este petisco, febras de porco, cozinhadas à base de alho e vinho. A febra deve depois ser colocada num pão aquecido. Podem ser temperadas com mostarda ou molho picante. Este é um dos pratos que não faltam nas festas populares, em particular no Verão, um pouco por todo o país. As variantes são muitas e podem em alguns casos incluir queijo e fiambre ou outros complementos. Semelhante, mas de carne de vaca é o prego. Outo petisco típico de Portugal. Tal como a bifana é normalmente é temperado com mostarda ou molho picante.
– Alheiras: Alheira, tabafeira ou “chouriço judeu” são os nomes para um enchido com uma história de mais de 500 anos. Com origem em Trás-os-Montes é um prato que os portugueses comem em qualquer altura do ano como petisco ou como prato principal. É um clássico das gastronomia portuguesa, em particular a versão da Mirandela.
– Pipis: “Há moelas e pipis”. Lê-se nas portas e montras de dezenas de tascas, cafés e restaurantes da capital e de todo o país. Os pipis são miúdos de galinha estufados com molho rico de tomate, cebola e alho.
-Moelas estufadas: As moelas estufadas são uma iguaria que tem por base um pequeno refogado de cebola e tomate a que se juntam as moelas de galinha ou de pato. Para alguns são uma versão reduzida dos pipis, dizem alguns. Tal como os pipis, para acompanhar este petisco, só um bom pãozinho para aproveitar o molho.
E qual é o teu favorito?
No séc. XVI, vivia em Cinco Vilas um homem de nome Bartolomeu, mais conhecido por Fidalgo das Cinco Vilas. Um dia conheceu D. Guiomar, senhora de uma importante família de Pinhel e resolveram casar, tendo escolhido o dia 8 de Dezembro, data natalícia dos dois noivos. Um ano depois, nasceu-lhe um filho que baptizaram com o nome de Luís.
Quando o pequenino fazia 7 anos, o pai resolveu partir para a Índia, em busca de fama e riqueza, incorporando-se na armada de D. Afonso de Albuquerque. Na grandiosa campanha, que o Vice-Rei desenvolveu em terras do Oriente, o Fidalgo de Cinco Vilas distinguiu-se em heroicidade, ao ponto de se tornar num dos principais fidalgos da comitiva de D. Afonso de Albuquerque.
Entretanto, D. Guiomar esmerava-se na educação do filho, arranjando-lhe os melhores mestres que o instruíram na arte de esgrimir, cavalgar e nas letras. Quando o pequeno Luís dominava sem dificuldade os ensinamentos ministrados, a mãe armou-o em cavaleiro, mas sentia-se triste por o marido não estar presente nesta altura tão importante na vida do filho.
A notícia de que Luís tinha sido armado cavaleiro, reavivou em D. Bartolomeu as saudades da família que o começavam a atormentar. Feitos os preparativos necessários, resolveu regressar a Portugal. Porém, na viagem, foi atacado pela febre, vindo a falecer sem ter a felicidade de ver os entes queridos pela última vez. A viúva, inconsolável, vestiu-se de luto pesado para toda a vida, dedicando-se por inteiro ao filho.
Entretanto, em Espanha fora decretada a expulsão dos Judeus. Muitos procuraram em Portugal o refúgio de que careciam, sendo Castelo Rodrigo uma das cinco regiões destinadas pelo nosso rei para se instalarem. Entre os muitos refugiados que a esta região acorreram, vinha um de nome Zacuto, muito rico, que comprou o alto da serra, a Poente de Castelo Rodrigo, e toda a encosta até ao rio Côa.
No cimo da serra, o judeu mandou construir uma casa onde passou a morar e, um pouco mais abaixo, uma vacaria, dedicando-se à produção de bezerros. Numa zona um pouco mais afastada, dedicou parte do terreno para o cultivo de forragens, cereais e outros géneros agrícolas, mandando reparar as oliveiras, plantar vinhas e instalar um grande rebanho de ovelhas e cabras. Zacuto era viúvo e vivia acompanhado pela única filha, Ofa, que fez herdeira de todos os bens adquiridos na terra que os acolhera. Por essa razão, começaram a chamar àquelas terras, a Serra da Moura Ofa.
A boa administração que Zacuto dedicava às terras e rebanhos, depressa lhe aumentou a fortuna. Luís, que vivia a escassos quilómetros do local, soube do acontecimento, e sentiu desejo de conhecer a bela judia, herdeira de tão avultada fortuna.
Quando se encontraram, os dois jovens sentiram-se de imediato atraídos um pelo outro, nascendo entre eles um desejo ardente de unirem as suas vidas. Quando o novo Fidalgo de Cinco Vilas contou à mãe a paixão que lhe incendiava o coração, a senhora sentiu-se muito triste, pois era grande a barreira que se levantava à realização do sonho do filho amado, uma vez que os dois jovens tinham religião diferente.
Pouco tempo depois, o rei de Portugal, D. Manuel I, ordenou a expulsão do Reino de todos os judeus que se não convertessem ao cristianismo. Para grande alegria de Luís, o velho judeu e a filha acataram a decisão real. O fidalgo correu para junto da mãe a contar-lhe a grande novidade. A senhora, autorizou-o a ir junto de Zacuto e pedir-lhe a mão de Ofa em casamento.
Sempre que a mãe ou os amigos lhe perguntavam onde ia, o Fidalgo de Cinco Vilas, enchia o peito de alegria e respondia: “vou a amar Ofa“, ou ”Vou ver o meu amor Ofa“.
Algum tempo depois, a 8 de Dezembro, o enlace matrimonial teve lugar no Mosteiro de Santa Maria de Aguiar. Deste casamento nasceram muitos filhos que se tornaram herdeiros de muitas terras daquém e além Côa.
Diz a tradição que a serra passou a ser conhecida por serra da Marofa na inocente imitação da resposta do Luís, quando dizia que “ia amar Ofa“.
A Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo conserva, até aos nossos dias, várias referências que nos transportam à época medieval. Descobrem-se ainda vestígios que atestam a presença de uma importante comunidade de cristãos-novos (judeus obrigados a conversão)
Do topo de uma colina, a pequena aldeia de Castelo Rodrigo domina o planalto que se estende para Espanha, a leste, até ao vale profundo do Douro, a norte. Segundo a tradição, fundou-a Afonso IX de Leão, para doá-la ao conde Rodrigo Gonzalez de Girón, que a repovoou e lhe deu o nome. Com o Tratado de Alcanices, assinado em 1297 pelo rei D. Dinis, e que definiu as fronteiras entre Espanha e Portugal, passou para a coroa portuguesa.
Castelo Rodrigo conserva as marcas de alguns episódios de disputa territorial. O primeiro deu-se menos de cem anos após a sua integração em Portugal, durante a crise dinástica de 1383-1385. D. Beatriz, única filha de D. Fernando de Portugal estava casada com o rei de Castela. Por morte de seu pai, e com a sua subida ao trono, Portugal perderia a sua independência a favor de Castela. Castelo Rodrigo tomou partido por D. Beatriz, mas D. João, Mestre de Avis veio a vencer os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, em 1385 e por esse feito foi coroado rei de Portugal com o nome de D. João I. Como represália pelos senhores de Castelo Rodrigo terem tomado o partido por Castela, o novo rei ordenou que o escudo e as armas de Portugal fossem representados em posição invertida no seu brasão de armas.
Mais tarde, no s. XVI, quando Filipe II de Espanha anexou a Coroa Portuguesa, o Governador Cristóvão de Mora tornou-se defensor da causa de Castela, vindo a sofrer a vingança da população que lhe incendiou o enorme palácio em 10 de Dezembro de 1640 logo que lá chegou notícia da Restauração (ocorrida a 1 de Dezembro) , ficando desta história antiga as ruínas no alto do monte, junto ao castelo.
Lugar de passagem dos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela, contam as lendas que o próprio S. Francisco de Assis aqui teria pernoitado na sua peregrinação ao túmulo do Santo.
Estando na rota de peregrinos a Compostela, aqui se ergueu a Igreja de Nossa Senhora de Rocamador, fundada por uma confraria de frades hospitaleiros vindos de França no século 13. Dispõe de cachorrada românica e no seu interior destacam-se um púlpito renascentista em granito, imaginária dos séculos 14 e 17, o tecto em caixotões com pintura barroca e um retábulo rococó.
Nesta igreja está guardada uma imagem de Santiago Matamouro e uma de São Sebastião do século XIV que, segundo a tradição, as mulheres mais velhas e ainda solteiras rezam para ter sorte no amor.
O Figurado de Barcelos é uma arte incontornável, constituindo-se como uma das maiores produções tradicionais de Portugal, em virtude da relevância que o trabalho no barro adquiriu ao longo dos séculos e da sua ligação às gentes e à região.
Essa arte concentrou-se sobretudo na parte norte-este da cidade que era mais rica em barro e agua
O Figurado é uma produção certificada desde 2008. Este facto torna Barcelos o primeiro concelho a certificar esta expressão popular artística, que é a raiz identitária de um território que pretendeu valorizar e afirmar a sua arte singular.
Figurado sortido era a designação adotada para as peças de estatuária de expressão popular, produzidas na região de tradição oleira do atual concelho de Barcelos, onde cabiam desde as pequenas peças modeladas integralmente à mão, até às peças produzidas em pequenos moldes ou através de técnicas mistas usadas nesta produção. Deste grupo, ainda faziam parte as peças modeladas à mão, sem molde, como pitas, gaitas e alguns galos. Ao mesmo universo pertencem as peças iniciadas em molde e terminadas à mão, como os músicos e os bois. Do mesmo modo, inserem-se neste grupo as peças produzidas a partir de uma forma base, levantada na roda de oleiro e que eram também terminadas à mão, como os galos de roda, os rouxinóis e as cornetas. Com a mesma designação de figurado, eram ainda conhecidas as peças produzidas em molde, mas com acabamento ingénuo ou primitivo.
A diversidade desta produção nasce das habilidosas mãos dos barristas que reproduzem tudo o que veem e sentem. As temáticas nas quais se espelha esta produção são por sua vez, a religião e a festa, o bestiário, a vida quotidiana, figuras várias e miniaturas. Neste contexto, importa destacar as peças mais características dentro de cada temática. Na temática da religião e festas, predominam as representações de Cristos e as alminhas, assim como de práticas religiosas. O mundo do fantástico, representado pelo bestiário apresenta monstros, diabos e figuras disformes que unem o sagrado e o profano no Figurado. Representações de cenas da vida rural, ofícios, profissões e bonecos dominam o leque de peças do Figurado, mostrando a importância da vida quotidiana como inspiração para esta produção. Na categoria de figuras avulsas surgem as emblemáticas peças como os galos, ouriços, pombas, bois e cabras. Entre outras destaca-se o famoso Galo (podem ler o meu post do 1 de setembro 2020 https://lisbon-a-love-affair.com/2020/09/01/the-rooster-of-barcelos-how-was-this-portuguese-symbol-born/)
Quanto ao modo de produção, a modelação, a moldagem e o torneamento são as técnicas usadas na produção do Figurado de Barcelos, usadas isoladamente ou combinadas entre si, sendo a modelação a mais importante e mais valorizada, já que a intervenção pessoal do artesão é total ou praticamente total.
Por fim, considerando a identidade do Figurado, impossível será não referir um dos nomes mais carismáticos desta arte: Rosa Ramalho, a figura que chamou a atenção através do qual esta arte única se difundiu no meio mais urbano e elitista.
A Rosa Ramalho aprendeu muito cedo a trabalhar o barro mas abandonou essa arte para dedicar-se a sua família. Foi quando ficou viuva, com 68 anos e analfabeta, que começou a produzir as peças que a renderam famosa. Descoberta em 1950 para o colecionador Alexandre Alves Costa durante a sua pesquisa de arte popular. A suas obras são dramáticas e creativas e mostram ao mesmo tempo uma grande imaginação .
O Figurado de Barcelos, produto artesanal certificado, constitui atualmente uma das maiores produções artesanais do concelho. Esta produção iniciou-se como uma atividade subsidiária da olaria, nos tempos livres e aproveitando pequenas porções de barro, faziam-se pequenas peças para as crianças brincarem, nomeadamente figuras de pessoas ou animais onde se colocavam na base das mesmas um apito ou instrumentos musicais (ocarinas, rouxinóis, cucos, gaitas, entre outros). O Figurado de Barcelos distingue-se de qualquer outra produção, assumindo características únicas, quer nas formas quer nas cores. Se quiserem assistir a realização dum figurado, deixo aqui esse video.
https://youtube.com/watch?v=KcAB8Df6s8U