Situado a 30 km a noroeste de Lisboa, o Palácio foi construído em 1711 por iniciativa do Rei D. João V e concebido como uma representação da monarquia e do Estado. Este impressionante edifício quadrangular inclui os Palácios do Rei e da Rainha, a Basílica em estilo barroco italiano, o Convento franciscano e a Biblioteca com 36,000 volumes. O conjunto monumental inclui ainda o Jardim do Cerco em composição geométrica e a Tapada. O Real Edifício de Mafra é uma das obras mais admiráveis realizadas pelo Rei João V, que ilustra o poder e a alcance do Império Português. João V adotou modelos arquiteturais e artísticos em estilo barroco italiano e encomendou obras de arte que tornam Mafra um exemplo excecional deste estilo de arquitetura.
Os trabalhos da sua construção iniciaram-se em 1717 por iniciativa do rei D. João V, em virtude de uma promessa que fizera em nome da descendência que viesse a obter da rainha D. Maria Ana de Áustria.
O edifício de autoria do arquitecto mor do reino, João Frederico Ludovice, ocupa uma área aproximada de quatro hectares (37 790 m²). Construído em pedra lioz abundante na região de Mafra é constituído por 1 200 divisões, mais de 4 700 portas e janelas, 156 escadarias e 29 pátios e saguões.
Por vontade real, o projecto inicial de um convento para 13 frades foi sucessivamente alargado para 40, 80 e finalmente 300 frades, uma Basílica e um Paço Real.
O conjunto monumental de Mafra, reconhecido pela UNESCO como patrimonio da humanidade, é um exemplo extraordinário da arte e arquitectura portuguesa e uma obra verdadeiramente magnifica.
Desde a escolha do arquiteto (Johann Friedrich Ludwig, conhecido como Ludovice, formado em Roma) o projeto se instituiu como uma afirmação internacional da casa reinante portuguesa. O contínuo fascínio que o monarca sentiu por Roma levou-o a contratar importantes artistas para Mafra, que, assim, se transformou num dos mais relevantes locais do Barroco italiano fora de Itália.
Aquando da sagração da Basílica, no dia 22 de outubro de 1730, dia de aniversário do rei, o conjunto não estava ainda concluído, nem todas as obras de arte haviam chegado, mas há muito que o plano estava delineado: um Palácio Real dotado de dois torreões que, funcionando independentemente, eram as câmaras do casal régio; uma Basílica decorada com estátuas dos melhores artistas romanos e com um conjunto inusitado de paramentaria francesa e italiana sem paralelo no país; duas torres na fachada que albergam dois carrilhões mandados construir na Flandres e que constituem um património sineiro único no mundo; uma Biblioteca constituída por obras de grande interesse científico e das poucas que previa a incorporação de “livros proibidos”, bem como um acervo bibliográfico dos séculos XV ao XIX.
Considerada uma das mais belas do mundo, esta biblioteca nasceu no reinado de D. João V, o rei que privilegiava a cultura e o saber.
A maior sala do convento de Mafra está forrada com mais de 40 mil livros, arrumados e alinhados nas estantes em estilo rococó. Encadernações em couro, gravadas a ouro. Numerosas obras foram encomendadas por D. João V, porque o rei queria concentrar neste palácio, que lhe era muito especial, o que de melhor se imprimia no reino e no estrangeiro.
A biblioteca com 88 metros de comprimento e uma planta em cruz, tem um pouco de tudo: obras de medicina, filosofia, literatura, direito, gramáticas e dicionários, enciclopédias de costumes, livros de viagens. Na ala mais a sul estão os temas religiosos, e a norte, no lado oposto, arrumam-se os profanos das ciências puras. Exemplares únicos ou de grande raridade são manuseados com mil cuidados, como é o caso da primeira edição do Alcorão de 1543, da Bíblia poliglota de 1514 ou ainda de uma primeira edição de “Os Lusíadas”. Já a preservação destas obras antiquíssimas está a cargo de um exército de minúsculos morcegos que, durante a noite, caçam os insetos que comem papel, tinta e cola.
O Palácio continuou a desempenhar as funções de Paço Real até ao final da monarquia, tendo mesmo sido em Mafra que D. Manuel II, último rei de Portugal, passou a noite antes de embarcar para o exílio. O Convento foi extinto em 1834 e, desde então, albergou diversas unidades militares que constituem, por si só, outro capítulo da história deste conjunto, pois estão ligadas aos grandes confrontos militares em que Portugal participou e à própria memória do exército português.
A vida de Corte no Palácio de Mafra ao tempo de D. João V foi relativamente escassa, pois o Rei adoeceu gravemente em 1742 e morreu em 1750.
O seu filho D. José I manteve o hábito de vir a Mafra, quase sempre para caçar na Tapada. Mas, como desde o terramoto de 1755 não gostava de habitar em edifícios de pedra, toda a Família Real se instalava numa Barraca edificada junto ao Palácio.
Já no reinado de D. Maria I, as vindas da corte a Mafra prendiam-se com a celebração de festas religiosas ou com o gosto que a Rainha tinha por passear a cavalo na Tapada, hábito que manteve até adoecer, em 1792.
Primitivamente decorado com tapeçarias flamengas, tapetes orientais, o Paço irá sofrer uma profunda modificação por vontade de D. João VI, ainda Príncipe Regente, que encomenda uma campanha de decoração mural em várias salas.
Aqui se instalou toda a Corte no ano de 1806/1807, na atribulada época que precedeu as Invasões Francesas. A necessidade de tornar mais habitáveis os grandes espaços do Palácio levou ainda à divisão de alguns dos grandes espaços em salas mais pequenas, divididas por tabiques de madeira do Brasil “ricamente pintados”.
A partida da Família Real para o Brasil, em 27 de Novembro de 1807, dias antes da chegada das tropas francesas a Lisboa, teve como consequência o empobrecimento de grande parte do recheio do Palácio, transportado para a colónia para serviço da Casa Real e aí tendo sido deixados quando a Corte regressou a Portugal, em Junho de 1821.
Em Dezembro de 1807, as tropas francesas alojaram-se no Palácio sendo, alguns meses depois, substituídos por uma pequena fracção do exército inglês que aqui ficou até Março de 1828.
Após o conturbado período das Lutas Liberais, no reinado de D. Maria II, a Corte retoma o hábito de voltar a Mafra. Seu marido, D. Fernando, verdadeiro pioneiro da defesa do património nacional, realizou diversas obras de recuperação no Real Edifício.
O edifício tem uma presença monumental imponente, fruto do seu projecto arquitectónico excepcional, particularmente a parte central, a Basílica, e uma escolha criteriosa de materiais e de elementos decorativos, que forneceu-lhe um esplendor quase único na Europa do seu dia: mármores policromáticos de diferentes origens; o grupo notável de esculturas no pórtico da Igreja – o maior de seu tipo no mundo, com 58 estátuas de mármore comissionados aos principais escultores romanos de seu tempo; os dois carrilhões, cada um com 48 sinos, de Antuérpia; o agrupamento exclusivo de seis órgãos, com o seu próprio repertório, projectado e construído para o mesmo espaço, entre 1792 e 1807; o Parque de Caça Real, um vasto recinto, amuralhado, com um perímetro de 21 km, em torno de terras agrícolas e florestais, que hoje é uma importante reserva genética ostentando uma diversidade biogenética e variedade de espécies, fruto da considerável quantidade de trabalho que tem sido investido na sua gestão.
No palácio, pode-se visitar a farmácia, com belos potes para medicamentos e alguns instrumentos cirúrgicos, o hospital, com dezasseis cubículos privados de onde os pacientes podiam ver e ouvir missa na capela adjacente, sem saírem das suas camas. No andar de cima, as sumptuosas salas do palácio estendem-se a todo o comprimento da fachada ocidental, com os aposentos do rei numa extremidade e os da rainha na outra, a 232 m de distância, separados por um corredor que é o maior de Europa.
Ao centro, a imponente fachada é valorizada pelas torres da basílica coberta com uma cúpula. O interior da basílica é forrado a mármore e equipado com seis órgãos do princípio do século XIX, com um repertório exclusivo que não pode ser tocado em mais nenhum local do mundo. O átrio da basílica é decorado por belas esculturas italianas. Aqui existiu ainda a Escola de Escultura de Mafra, criada por D. José em 1754, foram muitos os artistas portugueses e estrangeiros que aí estudaram sob a orientação do escultor italiano Alessandro Giusti.
E se a arte aqui exposta não for bastante, ao palácio de Mafra está também ligada uma obra literária do premio Nobel português, José Saramago. Memorial do convento, obra conhecida internacionalmente, onde o escritor cruza a historia, a ficção e o fantastico, com personagens inventadas e figuras históricas com o cenário da construção do Convento de Mafra.