By : Novembro 28th, 2020 Lugares e Monumentos 0 Comments

Situado a 30 km a noroeste de Lisboa, o Palácio foi construído em 1711 por iniciativa do Rei D. João V e concebido como uma representação da monarquia e do Estado. Este impressionante edifício quadrangular inclui os Palácios do Rei e da Rainha, a Basílica em estilo barroco italiano, o Convento franciscano e a Biblioteca com 36,000 volumes. O conjunto monumental inclui ainda o Jardim do Cerco em composição geométrica e a Tapada. O Real Edifício de Mafra é uma das obras mais admiráveis realizadas pelo Rei João V, que ilustra o poder e a alcance do Império Português. João V adotou modelos arquiteturais e artísticos em estilo barroco italiano e encomendou obras de arte que tornam Mafra um exemplo excecional deste estilo de arquitetura.

Os trabalhos da sua construção iniciaram-se em 1717 por iniciativa do rei D. João V, em virtude de uma promessa que fizera em nome da descendência que viesse a obter da rainha D. Maria Ana de Áustria.

O edifício de autoria do arquitecto mor do reino, João Frederico Ludovice, ocupa uma área aproximada de quatro hectares (37 790 m²). Construído em pedra lioz abundante na região de Mafra é constituído por 1 200 divisões, mais de 4 700 portas e janelas, 156 escadarias e 29 pátios e saguões.

Por vontade real, o projecto inicial de um convento para 13 frades foi sucessivamente alargado para 40, 80 e finalmente 300 frades, uma Basílica e um Paço Real.

O conjunto monumental de Mafra, reconhecido pela UNESCO como patrimonio da humanidade, é um exemplo extraordinário da arte e arquitectura portuguesa e uma obra  verdadeiramente magnifica. 

Desde a escolha do arquiteto (Johann Friedrich Ludwig, conhecido como Ludovice, formado em Roma) o projeto se instituiu como uma afirmação internacional da casa reinante portuguesa. O contínuo fascínio que o monarca sentiu por Roma levou-o a contratar importantes artistas para Mafra, que, assim, se transformou num dos mais relevantes locais do Barroco italiano fora de Itália.

Aquando da sagração da Basílica, no dia 22 de outubro de 1730, dia de aniversário do rei, o conjunto não estava ainda concluído, nem todas as obras de arte haviam chegado, mas há muito que o plano estava delineado: um Palácio Real dotado de dois torreões que, funcionando independentemente, eram as câmaras do casal régio; uma Basílica decorada com estátuas dos melhores artistas romanos e com um conjunto inusitado de paramentaria francesa e italiana sem paralelo no país; duas torres na fachada que albergam dois carrilhões mandados construir na Flandres e que constituem um património sineiro único no mundo; uma Biblioteca constituída por obras de grande interesse científico e das poucas que previa a incorporação de “livros proibidos”, bem como um acervo bibliográfico dos séculos XV ao XIX.

Considerada uma das mais belas do mundo, esta biblioteca nasceu no reinado de D. João V, o rei que privilegiava a cultura e o saber.

A maior sala do convento de Mafra está forrada com mais de 40 mil livros, arrumados e alinhados nas estantes em estilo rococó. Encadernações em couro, gravadas a ouro. Numerosas obras foram encomendadas por D. João V, porque o rei queria concentrar neste palácio, que lhe era muito especial, o que de melhor se imprimia no reino e no estrangeiro.

A biblioteca com 88 metros de comprimento e uma planta em cruz, tem um pouco de tudo: obras de medicina, filosofia, literatura, direito, gramáticas e dicionários, enciclopédias de costumes, livros de viagens. Na ala mais a sul estão os temas religiosos, e a norte, no lado oposto, arrumam-se os profanos das  ciências puras. Exemplares únicos ou de grande raridade são manuseados com mil cuidados, como é o caso da primeira edição do Alcorão de 1543, da Bíblia poliglota de 1514 ou ainda de uma primeira edição de “Os Lusíadas”. Já a preservação destas obras antiquíssimas está a cargo de um exército de minúsculos morcegos que, durante a noite, caçam os insetos que comem papel, tinta e cola.

O Palácio continuou a desempenhar as funções de Paço Real até ao final da monarquia, tendo mesmo sido em Mafra que D. Manuel II, último rei de Portugal, passou a noite antes de embarcar para o exílio. O Convento foi extinto em 1834 e, desde então, albergou diversas unidades militares que constituem, por si só, outro capítulo da história deste conjunto, pois estão ligadas aos grandes confrontos militares em que Portugal participou e à própria memória do exército português.

A vida de Corte no Palácio de Mafra ao tempo de D. João V foi relativamente escassa, pois o Rei adoeceu gravemente em 1742 e morreu em 1750.

 

O seu filho D. José I manteve o hábito de vir a Mafra, quase sempre para caçar na Tapada. Mas, como desde o terramoto de 1755 não gostava de habitar em edifícios de pedra, toda a Família Real se instalava numa Barraca edificada junto ao Palácio.

Já no reinado de D. Maria I, as vindas da corte a Mafra prendiam-se com a celebração de festas religiosas ou com o gosto que a Rainha tinha por passear a cavalo na Tapada, hábito que manteve até adoecer, em 1792.

Primitivamente decorado com tapeçarias flamengas, tapetes orientais, o Paço irá sofrer uma profunda modificação por vontade de D. João VI, ainda Príncipe Regente, que encomenda uma campanha de decoração mural em várias salas.

Aqui se instalou toda a Corte no ano de 1806/1807, na atribulada época que precedeu as Invasões Francesas. A necessidade de tornar mais habitáveis os grandes espaços do Palácio levou ainda à divisão de alguns dos grandes espaços em salas mais pequenas, divididas por tabiques de madeira do Brasil “ricamente pintados”.

A partida da Família Real para o Brasil, em 27 de Novembro de 1807, dias antes da chegada das tropas francesas a Lisboa, teve como consequência o empobrecimento de grande parte do recheio do Palácio, transportado para a colónia para serviço da Casa Real e aí tendo sido deixados quando a Corte regressou a Portugal, em Junho de 1821.

Em Dezembro de 1807, as tropas francesas alojaram-se no Palácio sendo, alguns meses depois, substituídos por uma pequena fracção do exército inglês que aqui ficou até Março de 1828.

Após o conturbado período das Lutas Liberais, no reinado de D. Maria II, a Corte retoma o hábito de voltar a Mafra. Seu marido, D. Fernando, verdadeiro pioneiro da defesa do património nacional, realizou diversas obras de recuperação no Real Edifício.

O edifício tem uma presença monumental imponente, fruto do seu projecto arquitectónico excepcional, particularmente a parte central, a Basílica, e uma escolha criteriosa de materiais e de elementos decorativos, que forneceu-lhe um esplendor quase único na Europa do seu dia: mármores policromáticos de diferentes origens; o grupo notável de esculturas no pórtico da Igreja – o maior de seu tipo no mundo, com 58 estátuas de mármore comissionados aos principais escultores romanos de seu tempo; os dois carrilhões, cada um com 48 sinos, de Antuérpia; o agrupamento exclusivo de seis órgãos, com o seu próprio repertório, projectado e construído para o mesmo espaço, entre 1792 e 1807; o Parque de Caça Real,  um vasto recinto, amuralhado, com um perímetro de 21 km, em torno de terras agrícolas e florestais, que hoje é uma importante reserva genética ostentando uma diversidade biogenética e variedade de espécies, fruto da considerável quantidade de trabalho que tem sido investido na sua gestão.

No palácio, pode-se visitar a farmácia, com belos potes para medicamentos e alguns instrumentos cirúrgicos, o hospital, com dezasseis cubículos privados de onde os pacientes podiam ver e ouvir missa na capela adjacente, sem saírem das suas camas. No andar de cima, as sumptuosas salas do palácio estendem-se a todo o comprimento da fachada ocidental, com os aposentos do rei numa extremidade e os da rainha na outra, a 232 m de distância, separados por um corredor que é o maior de Europa.

Ao centro, a imponente fachada é valorizada pelas torres da basílica coberta com uma cúpula. O interior da basílica é forrado a mármore e equipado com seis órgãos do princípio do século XIX, com um repertório exclusivo que não pode ser tocado em mais nenhum local do mundo. O átrio da basílica é decorado por belas esculturas italianas. Aqui existiu ainda a Escola de Escultura de Mafra, criada por D. José em 1754, foram muitos os artistas portugueses e estrangeiros que aí estudaram sob a orientação do escultor italiano Alessandro Giusti.

E se a arte aqui exposta não for bastante, ao palácio de Mafra está também ligada uma obra literária do premio Nobel português, José Saramago. Memorial do convento, obra conhecida internacionalmente, onde o escritor cruza a historia, a ficção e o fantastico, com personagens inventadas e figuras históricas com o cenário da construção do Convento de Mafra.

By : Novembro 25th, 2020 Gastronomia 0 Comments

Não podemos falar de gastronomia portuguesa sem falar dos  enchidos. Desde o chouriço à morcela, passando pela farinheira, ninguém recusa uma boa salsicha. 

Mas entre os vários enchidos, existem dois que podemos encontrar só em Portugal: a alheira e a farinheira. A diferencia com os outros enchidos está no facto que, quando foram inventadas, essas duas salsichas foram produzidas sem carne de porco. Hoje em dia a receita original não sempre é respeitada, mas na sua origem a farinheira era preparada com farinha, vinho e especiarias e a alheira com carne de caça ou de aves, pão e especiarias. 

Mas qual é a origem da ideia de produzir um chouriço sem carne de porco?  

A história começa em 1492, quando Fernando de Aragão e a mulher, a rainha Isabel de Castela, conquistam o último bastião mouro da Península Ibérica – Granada – e invadiram o Palácio da Alhambra. Profundos católicos, os reis acreditavam que os judeus praticantes podiam incentivar aqueles que se converteram ao cristianismo a regressar à sua religião original. Contrataram interrogadores para perseguir judeus no seu reino: estamos a falar da Inquisição espanhola.

Diante da Inquisição Espanhola, os judeus espanhóis fugiram para Portugal, onde o rei D. João II deu-lhe hospitalidade até o século XVI. Na época das Grandes Navegações, os judeus exerciam em Portugal um papel importante nos descobrimentos, colaborando com a abertura de novas rotas marítimas e comerciais.

Esse foi o motivo principal para que D. João II permitisse a entrada dos refugiados em território português. O número superou 120 mil pessoas, segundo o site oficial da Rede de Judiarias do país. Alguns foram para ficar e outros utilizaram Portugal como local de passagem.

Sem ter para onde ir, os judeus da península ibérica encontraram uma forma de burlar as punições dos reis fingindo-se cristãos. Assim, participavam das missas, discutiam trechos da Bíblia e escreviam os seus textos em hebreu, nunca em aramaico. A partir de 1496, os judeus portugueses também foram forçados a converter-se ou, em alternativa, sair do país. Durante os dez anos seguintes, cidadãos mais conservadores, matavam judeus diariamente. Em 1536, a Inquisição chegou formalmente a Portugal e tanto judeus como judeus convertidos eram capturados e queimados vivos na pira, diante de um mar de gente, no Rossio.

Os judeus começaram a esconder-se e a formar comunidades em que se faziam passar por cristãos: escreviam em hebreu e fingiam rituais católicos para não levantar suspeitas. 

Mas em Trás-os-Montes, o disfarce foi mais original. 

Uma das principais maneiras que os membros da Inquisição tinham para descobrir os fugitivos era perceber se estes comiam carne de porco ou não – porque a religião judaica proíbe o seu consumo. Em Mirandela, a 426 km de Lisboa, era comum que as famílias deixassem ao ar livre cachos de linguiças de porco e, assim, era fácil identificar os “estrangeiros”. Os judeus criaram, então, uma “linguiça” feita com pão e frango, que se parecia com a tradicional linguiça de porco, a alheira, que enganou por muitos anos os oficiais da realeza.

As receitas originais exigem muitos pedaços de pão, porque era a forma encontrada pelos judeus para dar consistência à linguiça. Dentro dele, iam carne bovina, de frango, de coelho, de peru ou de pato. Depois, quando a inquisição acabou, a linguiça alternativa teria caído no gosto dos próprios cristãos ibéricos, que passaram a comê-la e incorporaram-na aos pratos típicos — hoje, é considerada uma das sete maravilhas gastronómicas de Portugal.

E das montanhas de Trás-os-Montes difundiu-se para o resto do país.

Hoje-em-dia, a alheira é servida acompanhada de batatas fritas, arroz e um ovo estrelado encima. 

By : Novembro 22nd, 2020 Lugares e Monumentos 0 Comments

Conhecida pelas encostas decoradas a neve e pela Torre que remata o ponto mais alto de Portugal Continental, a Serra da Estrela é um dos ex-libris nacionais. Ao longo do Parque Natural, há inúmeros locais de beleza inesquecível para descobrir em todas as estações do ano.

O primeiro impacte da Serra da Estrela é de imensidão. Com perto de 90 mil hectares de território classificado como Parque Natural, a serra esconde segredos da era glacial, lagoas e um mosaico variado de paisagem e biodiversidade. 

Dada a sua altitude – 1993 metros acima do nível do mar – a Serra da Estrela concentra espécies de montanha que são únicas em Portugal Continental. A riqueza da fauna e flora da região valeu-lhe, além da classificação como Parque Natural, o reconhecimento como Reserva Biogenética pelo Conselho da Europa.

No inverno, as arestas geológicas da serra suavizam-se em camadas de neve. Na primavera, a natureza reclama um leque mais variado de cores e a vegetação de montanha está no seu auge. No verão, as inúmeras lagoas e barragens convidam a um mergulho. E, no outono, os dourados e castanhos dão uma outra beleza a esta serra. Os encantos de montanha estão disponíveis todo o ano e, em cada estação, há algo diferente para aproveitar.

A sul da serra, a Covilhã é uma das mais importantes portas da Estrela. Mais a norte, poderá começar o passeio pela Guarda ou Celorico da Beira. A oeste, as principais opções são Oliveira do Hospital, Gouveia ou Seia. Esta última oferece-lhe uma amostra da hospitalidade local e uma passagem pelo CISE – Centro de Interpretação da Serra da Estrela, para saber mais sobre o património ambiental do Parque Natural.

 

Entre os lugares que podem visitar na Serra:

– Nossa Senhora do Desterro. Nas duas margens do rio Alva, um conjunto de 10 pequenas capelas (séculos XVII a XIX) compõe o Santuário de Nossa Senhora do Desterro. Além disso, as águas calmas do rio estão protegidas pelas copas das árvores e dão origem a uma das praias fluviais mais procuradas da região, a praia “Dr. Pedro”. Nas imediações é também possível visitar a Central da Senhora do Desterro (uma das primeiras centrais hidroelétricas de Portugal, que hoje alberga o Museu Natural da Eletricidade) e a “Cabeça da Velha”, uma pedra com uma curiosa fisionomia humana.

– Vale do Rossim: Foi uma das finalistas das sete maravilhas nacionais no que diz respeito a praias de lagoas e albufeiras. Está a cerca de 1300 metros de altitude, sendo considerada a praia mais alta de Portugal. Todos os verões, os habitantes dos concelhos que aqui confluem (Gouveia, Seia e Manteigas) rumam à albufeira do Vale do Rossim para estender a toalha de praia e ir a banhos: águas límpidas a perder de vista, emolduradas pelos blocos graníticos e pela vegetação em redor.

– Manteigas: Em pleno vale glacial do Zêzere, esta pitoresca vila encontra-se graciosamente encaixada nos declives da região. De pequena dimensão, mas com uma longa história ligada à tradição têxtil (que agora renasce à boleia da revitalização do burel, um tecido 100% lã, típico da região), vale a pena visitar o antigo solar no centro da vila (Casa das Obras), as pequenas capelas que marcam a paisagem edificada e ainda a estância termal com águas que chegam aos 42,8ºC. No céu, é comum avistarem-se aves de rapina.

– Poço do Inferno: É um dos pontos mais visitados da Serra da Estrela. Uma cascata de 10 metros, com bons acessos (mas escondida o suficiente para ser também um lugar reservado, tranquilo e romântico) e rodeada por áreas de floresta densa, que convidam a uma visita.

– Covão d’Ametade: Parece saído de um cenário cinematográfico e a verdade é que, em cima da ponte que se eleva sobre o rio Zêzere, mesmo no meio das árvores que ladeiam o curso de água, é difícil não se sentir o protagonista de um qualquer filme romântico. Pela sua beleza, é um ponto incontornável de muitos percursos pela serra, como esta rota das Aldeias do Xisto.

– Salgadeiras: a Lagoa das Salgadeiras, que, na verdade, se trata de uma sequência de várias pequenas lagoas. 

– Rota das Lagoas da Torre: o percurso pelas seis lagoas é de baixa dificuldade, embora extenso. 

– Loriga: Ao longo da estrada que lhe dá acesso, a vista desta pequena vila serrana rodeada de montanhas surge-nos em todo o seu esplendor. Loriga é frequentemente chamada de “Suíça Portuguesa” pela sua localização geográfica e pela paisagem que a envolve. A sua antiguidade é lendária, sendo ainda visíveis a ponte e a estrada romana.

– Cabeça: a aldeia de Cabeça, também esta encaixada num vale de declives acidentados. Tem como particularidade as casas em pedra de xisto e cobertura de lousa, naquele que foi em tempos um traço típico da região. Na época natalícia, quando as montanhas se enchem de neve, a aldeia destaca-se pela originalidade das suas decorações. Os enfeites das ruas são criados a partir de materiais naturais recolhidos no território envolvente, como giestas, pinhas ou videiras. A iniciativa é chamada de “Cabeça – Aldeia Natal” e orgulha-se de ser um evento 100% sustentável.

By : Novembro 19th, 2020 Historias e lendas, Tradições 0 Comments

Em Portugal, existem dois santos casamenteiros. Um com o seu trono em Lisboa que é Santo António, e outro situado a norte, S. Gonçalo de Amarante. Para não haver concorrência desleal entre os dois, Santo António encarrega-se das mais novas, enquanto S. Gonçalo trata das “velhas”. É esta a crença popular, mas não é só por esse motivo que a igreja de São Gonçalo é local de paragem obrigatória.

S. Gonçalo tem honras de Padroeiro de Amarante e a sua memória é festejada em duas ocasiões no ano: a 10 de janeiro data do seu falecimento e no primeiro fim de semana de junho, com as grandiosas festas da cidade.

Oriundo da nobre família dos Pereira, Gonçalo nasceu no Paço de Arriconha, por volta de 1187 e herda de seus pais a nobreza no sangue e a grandeza na Fé.

É educado nos bons princípios cristãos e, quando atinge a mocidade, opta pela vida eclesiástica, estudando as primeiras letras, crê-se, no mosteiro beneditino de Santa Maria de Pombeiro de Ribavizela, prosseguido estudos no Paço Arcebispal de Braga, onde viria a ser ordenado sacerdote. Não satisfeito com a vida paroquial e ardendo no desejo de conhecer os lugares mais Santos do Cristianismo, decide encetar uma longa peregrinação a Roma, para estar junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, seguindo, depois, para a Palestina.

Após catorze anos, Gonçalo regressa à sua paróquia de S. Paio de Vizela que, durante a sua ausência, fora dirigida por um sobrinho que, o não reconhecendo, o expulsa de casa. Desiludido com a vida opulenta e faustosa do seu substituto e deparando-se com o desrespeito aos ensinamentos e à humildade cristã, decide abandonar a vida paroquial e opta por um modus vivendi mais contemplativo, eremítico e evangelizador. Toma o hábito da Ordem de S. Domingos.

Foi através desta nova forma de vida que chegou ao vale do Tâmega. Deparando-se com uma ermida arruinada dedicada a Nossa Senhora da Assunção, localizada num local ermo, junto ao rio e nas imediações de uma ponte devoluta, aí se instala e recupera o velho templo.

Calcorreando as povoações do vale do Tâmega e da Serra do Marão, Frei Gonçalo, evangeliza e abençoa uniões matrimoniais, apoia e protege os mais desfavorecidos e realiza alguns prodígios, que lhe vão conferindo aura de santidade. No decorrer destas ações pastorais, depara-se com as dificuldades e com o perigo que os seus fiéis corriam ao aventurarem-se a atravessar o rio, principalmente nas alturas em que este se apresentava mais caudaloso e, na falta de alternativas, decide empreender, ele próprio, o restauro ou a reedificação da velha ponte romana, nos idos de 1250.

Para a sua reconstrução terá contado com a participação de todos, desde os mais abastados que contribuíram com alguns numerários e matéria-prima e os mais pobres que, com o seu esforço, executaram a obra. Consta que o arquiteto fora o próprio santo. A ponte medieval haveria de perdurar até ao dia 10 de fevereiro de 1763, altura em que sucumbe face à turbulência das águas do Tâmega, durante uma cheia, desmoronando-se por completo, tendo apenas sobrevivido o cruzeiro biface de Nossa Senhora da Ponte.

Após a construção da ponte e do restabelecimento do tráfego, o frade dominicano continuou com a sua vida de pregador até ao dia da sua morte, ocorrida a 10 de janeiro de 1259.

A partir de então, muitos foram aqueles que acorreram ao seu túmulo, instalado na mesma ermida onde residiu para, junto aos seus restos mortais, pedirem ou agradecerem a sua intercessão.

Em 1540, D. João III manda construir, no lugar da velha ermida medieval, um convento que entrega aos frades pregadores de S. Domingos, Ordem à qual o Santo estava vinculado.

No dia 16 de setembro de 1561, Gonçalo de Amarante é beatificado pelo papa Pio IV e, algum tempo depois, já no reinado de D. Filipe I de Portugal (II de Espanha), inicia-se o seu processo de canonização, que acaba por ficar sem efeito.

O Papa Clemente X, em 1671, estende o ofício da sua festa litúrgica a toda a Ordem Dominicana, que é celebrada no dia do seu falecimento, a 10 de Janeiro.

Daí para cá o seu culto jamais parou de se difundir e propagar em Portugal e nos países lusófonos, destacando-se o Brasil, onde várias localidades o têm por padroeiro.

São Gonçalo então não é santo. Para a Igreja Católica é considerado beato, Beato Gonçalo de Amarante. Mas para a população é santo e a devoção por ele não é menor, seja qual for a denominação utilizada. O seu túmulo, onde se acredita estar o seu corpo sepultado, pode ser visitado na capela-mor do mosteiro.

São Gonçalo é considerado o “casamenteiro das velhas”, o que parece não agradar às mais jovens que não querem esperar, e terá sido por isso que nasceu a famosa quadra popular de Amarante:

S. Gonçalo de Amarante,

Casamenteiro das velhas,

Porque não casas as novas?

Que mal te fizeram elas?

Na igreja, ainda existe a estátua de São Gonçalo, do século XVI, em que existe a famosa corda de São Gonçalo. A corda rodeia a cintura da estátua e, segundo crença popular, “as encalhadas” deveriam puxar a corda três vezes, para pedir um casamento ao santo. 

Em conclusão se ja passaste a idade para pedir a ajuda a Santo Antonio, aqui tens a oração de casamento para São Gonçalo:

“São Gonçalo do Amarante, Casamenteiro que sois, Primeiro casais a mim; As outras casais depois.

São Gonçalo ajudai-me, De joelhos lhe imploro, Fazei com que eu case logo, Com aquele que adoro.”

Uma curiosidade: 

São Gonçalo de Amarante está enraizado na cultura da Princesa do Tâmega, com doces peculiares com formas fálicas, com quadras picantes que e com uma história rica de conquistas e actos heróicos importantes na construção da história de Portugal. Segundo a lenda popular, São Gonçalo é casamenteiro e é, por isso, que durante as festas são vendidos e apreciados “os doces fálicos” de S. Gonçalo, de todos os tamanhos e feitios.

By : Novembro 16th, 2020 Artesanato, Tradições 0 Comments

Quando visitamos uma cidade portuguesa, uma das primeiras características que observamos encontra-se em baixo dos nossos pés. Estou a falar da calçada portuguesa, verdadeira obra de arte em pedra que com vários desenhos decora as cidades lusitanas.

Mas qual é a historia e a origen?

Há uma historia que nos diz que a calçada portuguesa tem origem por causa de um rinoceronte. Lembram-se do Ganga, o rinoceronte branco de D Manuel? Se ainda não o conhecem, podem ler a sua historia no meu artigo do dia 29 de outubro (https://lisbon-a-love-affair.com/pt/2020/10/29/o-rinoceronte-do-rei/)

Ora, tudo começa então com a chegada do rinoceronte.

No aniversário do Rinoceronte que só saia uma vez por ano no inverno no dia 21 de Janeiro, era organizado um enorme cortejo que saia às ruas de Lisboa ostentando as novas riquezas do rei chegadas do oriente. Nesse cortejo não poderia faltar Ganga, obviamente e para que o rinoceronte ricamente ornamentada não chafurdasse na lama, sujando-se a si e aos que o rodeavam, D. Manuel ordenou que se calcetassem as ruas por onde o cortejo iria passar. 

São as cartas régias de 20 de Agosto de 1498 e de 8 de Maio de 1500, assinadas pelo rei D. Manuel I de Portugal, que marcam o início do calcetamento das ruas de Lisboa, mais notavelmente o da Rua Nova dos Mercadores (antes Rua Nova dos Ferros)

Foi utilizado neste calcetamento granito vindo do Porto, no entanto o seu transporte tornou o trabalho dispendioso para os cofres do reino, mas o Rinoceronte merecia

Surgia assim a Calçada à portuguesa, mais irregular que a conhecemos hoje, mas era o seu inicio.

Posteriormente, o terramoto de 1755 destruiu grande parte da cidade e com ela as suas ruas calcetadas. Mas só em 1842 Lisboa voltaria a ver uma calçada reconstruída, desta vez com pedras de calcário, geralmente brancas e pretas, material abundante na região. Deste modo, aplicavam-se pedras praticamente cúbicas, que é como as conhecemos hoje em dia e em todo o mundo por onde Portugal deixou marca.

O trabalho foi realizado por presidiários (chamados grilhetas na época), a mando do Governador de armas do Castelo de São Jorge, o tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado.

O desenho utilizado nesse pavimento foi de um traçado simples (tipo zig-zag) mas, para a época, a obra foi de certa forma insólita, tendo motivado cronistas portugueses a escrever sobre o assunto.

Após o sucesso da empreitada foram concedidas verbas a Eusébio Furtado para que os reclusos pavimentassem também a Praça do Rossio, numa extensão de 8.712m². Esta obra terminou em 1848, com desenhos a homenagear os descobrimentos portugueses, e ficou conhecida como Mar Largo. Rapidamente se espalhou esta moda pelo país e pelas colónias, onde foram produzidas autênticas obras-primas nas zonas pedonais, enobrecendo o espaço público urbano, num ideal de modernização das cidades.

A Baixa de Lisboa transforma-se com a maioria das suas ruas a serem calcetadas a basalto, entre elas o Largo de Camões em 1867, o Príncipe Real em 1870, a Praça do Município em 1876, o Cais do Sodré em 1877 e o Chiado, finalizando em 1894. A abertura da Avenida da Liberdade dá-se em 1879 e em 1908 chega finalmente ao Marquês de Pombal com largos passeios onde foram introduzidos belos e deslumbrantes tapetes de desenhos, que fazem de Lisboa a cidade referência deste tipo de pavimento artístico.

Mas a calçada não se encontra só em Portugal. No séc. XV os territórios de além-mar de influência portuguesa também viram a pedra da mesma origem revestir os seus arruamentos

 

Isto deveu-se ao facto de muitos dos navios que partiam para esses destinos irem vazios, a fim de regressarem carregados de bens e mercadorias locais, e por isso terem necessidade de aumentar a sua carga e assim garantir a sua estabilidade de navegação – o chamado lastro. A solução encontrada foi carregar as embarcações de pedra portuguesa à partida de Lisboa.

 

Um exemplo longínquo desta expansão da calçada portuguesa é Macau – antigo território administrativo português e talvez o território fora de Portugal com a maior área de calçada. Os motivos dos desenhos são, na maioria, de caravelas, rosas-dos-ventos, conchas, peixes, estrelas ou ondas do mar. Nem mesmo depois de 1999, aquando a transferência de soberania para a República Popular da China, essa área diminuiu, antes pelo contrário, ainda hoje este tipo de pavimento é implementado, até por calceteiros chineses, formados por mestres portugueses.

Actualmente, podemos ainda encontrar antigos pavimentos de calçada portuguesa no Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Índia ou Timor. Ou até encontrar novos exemplos, como acontece em Espanha ou nos E.U.A.

A técnica

Os calceteiros com o auxílio de um martelo, fazerem pequenos ajustes na forma da pedra, e utilizam moldes para marcar as zonas de diferentes cores, de forma a que repetem os motivos em sequência linear (frisos) ou nas duas dimensões do plano (padrões). A geometria do século XX demonstrou que há um número limitado de simetrias possíveis no plano: 7 para os frisos e 17 para os padrões. Um trabalho de jovens estudantes portugueses registou, nas calçadas de Lisboa, 5 frisos e 11 padrões, atestando a sua riqueza em simetrias.

Destacam-se as técnicas de aplicação de calçada mais comuns: a antiga calçada à portuguesa, que se caracteriza pela forma irregular de aplicação das pedras; o malhete, semelhante mas com mais espaço entre as pedras; a calçada portuguesa clássica, que tem uma aplicação em diagonal, segundo um alinhamento de 45 graus com os muros ou lancis; a calçada à fiada, com as pedras alinhadas em filas paralelas; a calçada circular; a calçada sextavada; a calçada artística, que se caracteriza pela aplicação de pedras com formatos específicos e/ou pelo contraste de cores; o Mar Largo; o leque segmentado; o leque florentino; e o rabo de pavão.

Os desenhos

Durante muito tempo os desenhos foram elaborados por amadores com muita perícia, tendo geralmente como base motivos tradicionais ligados ao grande feito dos portugueses – os Descobrimentos.

A partir dos anos 50, alguns artistas foram convidados a desenhar motivos destinados à calçada portuguesa.

Nos dias de hoje o papel dos arquitetos é fundamental na concepção de motivos a aplicar a espaços em recuperação, como nas zonas antigas das cidades portuguesas.

São os próprios mestres que criam e desenvolvem novos tipos de aplicação da pedra consoante o gosto e estilo profissional.

Em 1986, foi criada pela Câmara Municipal de Lisboa, uma Escola de Calceteiros com o único objetivo de formar profissionais, e ensinar-lhes os saberes de velhos mestres e assim assegurar a “sobrevivência” da calçada portuguesa.

By : Novembro 13th, 2020 Historias e lendas 0 Comments

O meu artigo de hoje nasce do livro “A rainha adultera” de Marsilio Cassoti, onde pela primeira vez fala-se da teoria de uma inseminação assistida realizada pela infanta D Joana de Portugal, no século XV, que deu origem ao nascimento de D Juana de Castela, considerada, pela epoca em que nasceu, fruto de uma relação adultera. 

D. Joana de Avis (1439 -1475), infanta de Portugal, foi rainha de Castela enquanto esposa do rei Enrique IV de Castela. Apesar deste último ter recebido o cognome de “o Impotente”, o casal régio teve descendência legítima na pessoa de D. Juana de Castela.

O problema que causava a impotência a Henrique IV está bem documentado por descrições de exames urológicos feitos em vida do monarca e por análises aos seus restos mortais efectuadas também no século XX.

O rei de Castela não conseguia consumar o acto sexual por um constrangimento físico na anatomia funcional do seu órgão genital.

Mas a necessidade de assegurar descendência legítima, levou a que medidas “excepcionais” fossem tomadas.

Havia uma indicação anterior inscrita na “Lei de Partidas” de Alfonso X de Castela, o Sábio, que autorizava a praticar nos reis de Castela “as mestrias que se façam” para resolver os seus problemas reprodutivos, mas sempre no respeito pelo direito natural tal como proclamado pela Igreja Católica.

E quais seriam essas “mestrias”? Enrique IV recorreu à “concepção sem cópula” para engravidar D. Joana de Portugal. Para isto fez chamar um físico (médico) judeu, especialista que terá efectuado essa “mestria” no casal monarca. Estas práticas eram proibidas pela Igreja Católica, mas não pela lei judaica.

Como descobrimos no livro de Cassoti, está bem documentada o reconhecimento da concepção sem cópula como sendo possível e legítima “pelos sábios judeus da antiguidade, a primeira vez no século V d. C., no Talmud da Babilónia” e existem referências precisas a este tema “nas obras de rabinos judeus dos séculos XIII e XIV da área mediterrânica”.

Nesta biografia de D. Joana de Portugal, o historiador apresenta, facto após facto, argumento após argumento, a tese de que D. Joana de Portugal terá sido inseminada artificialmente, ou pelo menos de forma assistida, com sémen de Enrique IV de Castela, através de uma “mestria” conduzida provavelmente pelo físico judeu de nome Yusef bem Yahia.

A inseminação decorreu com sucesso, e a 28 de Fevereiro de 1462 nasceria D. Juana de Castela, legitimada pelo Papa Pio II como descendente de Enrique IV de Castela.

De facto, D. Joana foi afastada da corte e repudiada por Enrique IV de Castela pelas suas relações extraconjugais. 

O passo seguinte seria a análise genética comparada de D. Juana e Enrique IV, a partir dos seus restos mortais, para confirmar que a primeira é filha biológica do monarca.

Infelizmente, ambos os restos mortais de mãe e filha desapareceram em infortunas demolições dos edifícios em que estavam sepultadas, não permitindo uma analise que poderia esclarecer ainda mais essa interessante teoria. 

By : Novembro 10th, 2020 Gastronomia 0 Comments

Hoje falamos de uma sopa tipica da gastronomia portuguesa, bem nutritiva e perfeita sobretudo durante o inverno. Una sopa que nasceu em Almeirim, no distrito de Santarem. Essa sopa tem um nome bastante curioso, a sopa de pedra, e ainda mais curiosa é a lenda que está a origem deste nome. 

Conta-se que um dado dia um monge se encontrou numa terra que desconhecia. Estava cheio de fome, mas não tinha qualquer dinheiro consigo. Pediu esmola aqui e ali, mas naquele triste dia ninguém estava interessado em ajudá-lo. Então, pegou numa qualquer pedra que viu no caminho e, aproximando-se de um popular que ainda não tinha interpelado antes, disse-lhe que estava a planear fazer uma sopa da pedra.

A expressão na cara do veraneante foi de grande confusão. “Sopa da pedra? Isso existe?” Por três vezes o monge lhe disse que sim, e por três vezes o homem se mostrou incrédulo. Então, o religioso ofereceu-se para cozinhar essa sopa, de forma a provar-lhe a completa veracidade da mesma. O homem, na maior das curiosidades, naturalmente que aceitou.

Então, o monge começou por aquecer uma panela com água e colocou a pedra no seu interior. Esperando alguns minutos, provou um pouco do caldo com uma colher de pau e disse “Hum… está muito boa, esta sopa da pedra, mas ficaria ainda melhor com um pouco de feijão.” O homem deu-lhe o feijão. Minutos depois a cena repetiu-se – “Sabe o que ficaria fantástico aqui? Uma orelha de porco.” Novamente, o homem concedeu-lhe esse sugestão. E assim se repetiram os pedidos, uma e outra vez, com o monge a pedir outros ingredientes – um pouco de chouriço, umas gramas de toucinho, cebolas e alho, umas batatinhas, fatias de pão, uma pitada de sal… 

Dentro de pouco tempo a panela começou a ferver e a deixar sair um aroma delicioso.

Depois do frade a comer, os donos da casa, agora com um ar desconfiado, perguntam no fim da panela estar limpa até ao fundo.

– Então e a pedra?

Responde o frade meio manhoso:

– A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.!

Curiosos de experimentar essa sopa em casa? Aqui vai a receita. Bom apetite!

Sopa da pedra

Ingredientes

– 750 g de batatas

– 150 g de toucinho entremeado

– 1 kg de feijão encarnado

– 2 cebolas

– 2 dentes de alho

– 1 chouriço negro

– 1 chouriço de carne

– 1 folha de louro

– 1 molho de coentros

– sal e pimenta

Modo de Preparação

– Demolhe o feijão.

– Leve o feijão a cozer em bastante água, juntamente com a orelha, os chouriços, o toucinho, as cebolas, os alhos e o louro. Tempere com sal e pimenta.

– Se for necessário, junte mais água fervente.

– Quando a carne estiver cozida, retire e introduza na panela as batatas, cortadas aos quadradinhos e os coentros picados. Deixe cozer a batata.

 

– Assim que se retirar a panela do lume, introduza as carnes previamente cortadas aos bocadinhos e uma pedra bem lavada.

By : Novembro 7th, 2020 Lugares e Monumentos 0 Comments

Portugal, apesar de um país não muito grande, é rico em sítios arqueológicos: entre eles  de salientar é a região do Alentejo. É aqui, numa freguesia do concelho de Évora, que podemos encontrar o enigmático Cromeleque dos Almendres.

O Cromeleque dos Almendres é o maior círculo de menires alguma vez encontrado em Portugal e na Península Ibérica. Constituído por 95 monolitos, ou menires, e remontando ao milénio VII a.C., é um dos mais importantes monumentos megalíticos e mais antigos de toda a Europa.

Insere-se no Circuito Megalítico de Évora, juntamente com outros monumentos: antas, necrópoles, cromeleques menores e povoações pré-históricas.

O cromeleque dos Almendres foi descoberto em 1964 pelo investigador Henrique Leonor de Pina, quando se procedia ao levantamento da Carta Geológica de Portugal. Aparentemente, um trabalhador da zona ter-lhe-á dito que tinha estado num sítio onde se encontravam várias “daquelas pedras”. Após limpeza da vegetação não só se descobriu o Cromeleque dos Almendres, como também peças de cerâmica, um machado de pedra polida, e ainda um menir relacionado com o cromeleque, chamado de Menir dos Almendres.

A cronologia do Cromeleque dos Almendres revela as mudanças que foram acontecendo, nos três milénios em que foi edificado. E os estudos arqueológicos indicam que o conjunto megalítico dos Almendres tenha sido formado em três etapas.

A primeira fase de formação do cromeleque dos Almendres ter-se-á dado no final do período Neolítico, a final do milénio VI a.C., quando se levantou um conjunto de monólitos de menor tamanho, em três círculos concêntricos.

No Neolítico Médio, durante o quinto e quarto milénios a.C, foi acrescentado um novo recinto a oeste da construção, na forma de duas elipses concêntricas.

A terceira e última fase de construção do Cromeleque dos Almedres terá ocorrido no Neolítico Final, no milénio III a.C. As disposições mais ou menos regulares dos monólitos foram alteradas, de modo a que o recinto menor se tornasse um átrio maior. É possível que tenham ainda sido acrescentados nesta altura alguns monólitos com gravuras.

O Cromeleque dos Almendres é cerca de 2.000 anos mais antigo que o Stonehenge, em Inglaterra. O Stonehenge, também ele um cromeleque, data de cerca de 3000 a.C.

As diferenças começam logo na idade, já que se pensa que o Cromeleque dos Almendres tenha sido abandonado na transição do Neolítico Final para a Idade do Cobre (circa 3000 a.C.), altura em que o Stonehenge começou a ser erigido.

Há, no entanto, evidências que mostram que os dois são mais parecidos do que parecem. Estão alinhados de modo a que os seus eixos imaginários coincidam com os eixos dos pontos cardeais, e com os solstícios e equinócios. Se, na madrugada do solstício de junho, alinhar o seu olhar com o Menir dos Almendres, a partir do Cromeleque, conseguirá ver a posição onde o Sol nasce.

Há também indícios de que os cromeleques tenham sido usados como lugares de culto pagão, além de observações de astronomia – que como sabemos, na altura, não era uma ciência tão afastada da espiritualidade.

Em suma, o propósito, quer do Stonehenge, quer do nosso Cromeleque dos Almendres, não é perfeitamente claro, e continua a ser um mistério. O que se sabe é que o Cromeleque dos Almendres, sítio carregado de simbologia, e de, dizem alguns, misticismo, é um sítio que nos faz entrar numa máquina do tempo

By : Novembro 4th, 2020 Historias e lendas 0 Comments

Há quem diga que atirou 70 pessoas do Aqueduto das Águas Livres, que a bebida e o vício o levaram a cometer assaltos grotescos ou que era simplesmente louco. De qualquer das formas, o “Pancada” ficou para a história como um dos maiores criminosos de Lisboa do século XIX.

Diogo Alves nasceu na Galícia, na Espanha, em 1810. Algum tempo depois, foi tentar a vida em Lisboa, onde passou a cometer crimes, ninguém sabe por qual motivo. Historiadores dizem que ele era analfabeto e rude. 

O “Pancada”, um dos apelidos atribuídos a Diogo Alves, começou como criado, mas chegou à posição de servente, tratando de cavalos em várias casas senhoriais e ganhando a confiança dos seus patrões, que chegaram a emprestar-lhe largas quantias de dinheiro. A sua companheira Gertrudes Maria, a “Parreirinha”, com a ajuda do jogo, das apostas em corridas de cavalo e o álcool, encaminhou o “Pancada” por caminhos menos nobres.

Em 1836, Diogo começou a matar. O seu lugar de ação era o Aqueduto das Águas Livres, um sistema de captação e transporte de água construído no século 18 e que tem 58 km de extensão – com o ponto mais alto de 65 m de altura.  As vítimas eram viajantes, comerciantes e estudantes que usavam um caminho estreito no alto do aqueduto como atalho para o centro de Lisboa 

Diogo surpreendia as vítimas, roubava as seus pertences e as matava, atirando-as do alto do aqueduto. Como eram pessoas pobres, a polícia não se esforçava para investigar, e as mortes geralmente eram tratadas como suicídios. 

Acredita-se que Diogo Alves atirava os indivíduos que assaltava das galerias do Aqueduto das Águas Livres, para que não pudessem denunciá-lo. O número de vítimas é incerto, uma vez que se associaram estes repetidos acontecimentos a uma vaga de suicídios; no entanto, pensa-se que ultrapassaram as 70 mortes.  O aqueduto depois de tantos crimes por resolver, ficou fechado ao trânsito de pessoas, em 1837 e durante várias décadas. Foi por isso que, a partir de então, o galego não matou mais ninguém no aqueduto. Ajudado pela sua “quadrilha” continuou a roubar e a matar pessoas, como o massacre cometido na família de um conhecido médico da época Pedro de Andrade. O suspeito foi entregue às autoridades, três anos depois, por alguém do seu próprio grupo e nunca foi aberta uma investigação contra ele pelas mortes no vale de Alcântara.

Alves foi condenado à morte pelo massacre da família do médico e decapitado em fevereiro de 1841, no Cais do Tojo de Lisboa, sendo um dos últimos a quem se aplicou a pena de morte em Portugal.

Depois de ser enforcado, a cabeça do criminoso foi entregue a prestigiosos médicos da época, da Escola Médico-Cirúrgica. Os investigadores queriam estudar o que se escondia por detrás daquela frieza e crueldade. A cabeça de Diogo Alves, conservou-se em perfeito estado, graças ao formol.

A cabeça foi conservada na Faculdade de Medicina de Lisboa.

By : Novembro 1st, 2020 Senza categoria 0 Comments

O primeiro de novembro 1755 uma catástrofe chocou o mundo: o terramoto de Lisboa. O desastre monumental inspirou poetas, interessou filósofos, irou profetas e motivou políticos. O epicentro do Império Português era reduzido à insignificância da obra humana: num sopro, todas as maravilhas da técnica e do progresso aluíam como construções de crianças.

A Lisboa do século XVIII era uma cidade com ares de cidade medieval, cheio de ruas pequenas, sinuosas e sujas. Os relatos contam que, por volta das 9h30, a cidade foi sacudida por um terremoto de grandes proporções.

O efeito do terremoto em uma cidade nessa condição foi devastador, e os relatos contam que os tremores estenderam-se por até sete minutos, embora existam relatos que sugerem que podem ter se estendido por 15 minutos. O epicentro desse terremoto estava cerca de 200 km a 300 km de Lisboa, mais precisamente a sudoeste de Portugal continental, no meio do Oceano Atlântico. Estudos atuais calculam que o tremor de 1755 tenha alcançado  o nível 8.9 na escala Richter (a escala vai até 10).

A magnitude desse terremoto contribuiu para a destruição total da cidade.

E como se não for bastante, pois era o dia de todos os Santos, nas igrejas, preparadas com as velas para as cerimonias do dia, começaram incêndios que acabaram para queimar na cidade para cinco dias. 

Como é obvio, ninguém consegui uma explicação cientifica ao que estava a acontecer, e o que pensaram foi na ira divina. A unica possibilidade era fugir.

Muitas pessoas em meio ao desespero e fugindo dos desabamentos e incêndios que atingiam outras partes da cidade fugiram para Baixa de Lisboa. Lá, essas pessoas foram atingidas para três tsunami que afetaram toda aquela região.

Assim, muitos dos que não morreram nos desabamentos e nos incêndios morreram com o efeito do tsunami que alagou essa parte de Lisboa. A respeito do terremoto, o historiador João Lúcio de Azevedo narrou o seguinte:

Nos altares oscilam as imagens; as paredes bailam; dessoldam-se traves e colunas; ruem as paredes com o som calvo da caliça que esboroa, e de corpos humanos esmagados; no chão onde os mortos repousam aluem os covais, para tragar os vivos […]. O horror todo do inferno em ais e tormentos. Fuga desordenada com atropelos fatais, e o tropeçar continuo em pedras e cadáveres […]. Por toda a parte ruínas|1|.

Na época, Lisboa possuía cerca de 200 mil habitantes e o número de mortos varia bastante, pois existem os que apontam cerca de 10 mil mortos, enquanto outros sugerem mais de 50 mil mortos no desastre.

Além das vidas humanas, a destruição material foi enorme. A Biblioteca Real foi destruída com mais de 70 mil volumes de itens lá armazenados. A Ópera do Tejo, inaugurada naquele ano, foi destruída e foram enumeradas a destruição de 35 igrejas, 55 palácios e em toda a cidade acredita-se que cerca de 10 mil edifícios foram reduzidos a ruínas.

Reconstrução de Lisboa

As ações de emergência após o terremoto foram tomadas de imediato por meio da ação de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal. As obras de reconstrução da cidade estenderam-se até meados do século XIX.

A primeira grande ação tomada era a de evitar a proliferação de doenças e, assim, era necessário enterrar os mortos. Grande parte dos corpos foi incinerado com os gigantescos incêndios que espalharam-se por Lisboa, mas muitos ficaram abaixo das ruínas. Para se livrar dos corpos, os mortos foram enterrados em valas comuns e muitos foram lançados no mar com pesos atados para que afundassem.

Uma providência tomada para conter a proliferação do caos trazido pelo terremoto foi o de evitar os saques. Isso inclusive fazia parte de uma lista de catorze providências adotadas por ordem de Carvalho e Melo. Os que fossem capturados saqueando alguma residência eram enforcados pelas tropas do Reino.

Os prédios que foram reconstruídos tinham diretrizes rígidas a serem seguidas com previsão de multa para o caso de não cumprimento.

A Baixa de Lisboa, a área mais destruída, ficou conhecida como Baixa Pombalina e recebeu uma grande inovação para a época: os edifícios projetados receberam uma estrutura antissísmica. Essa estrutura ficou conhecida como “gaiola pombalina”. Essa técnica consistia em incorporar uma estrutura de madeira junto das paredes de alvenaria.

O rei português – d. José I – passou a sofrer o resto dos seus dias com claustrofobia. Ele sobreviveu ao desastre, porque na hora do terremoto estava nos arredores de Lisboa , em Belém. A visão da destruição e os relatos de milhares de pessoas mortas soterradas fizeram com que o rei temesse viver em locais fechados.

D. José I foi rei de Portugal até 1777 e até o fim de seus dias viveu em um complexo de tendas construído em um local de Lisboa chamado Alto da Ajuda. Esse local foi escolhido por ser elevado e ter sofrido pouca destruição e as tendas construídas lá ficaram conhecidas como Real Barraca da Ajuda. Esse complexo existiu até o fim do século XVIII, quando um incêndio o destruiu.

No video aqui em baixo uma reconstrução do que aconteceu neste mesmo dia, há 265 anos. 

https://tvi24.iol.pt/videos/sociedade/reconstituicao-do-sismo-de-1755-com-imagens-que-parecem-reais/5c7837a90cf2f1892ed6db0f?jwsource=cl