Em 1514, Afonso de Albuquerque, fundador do Império Português no Oriente e governador das Índias Portuguesas, quis construir uma fortaleza em Diu, cidade situada no reino de Cambaia, governado pelo rei Modofar. Afonso de Albuquerque foi autorizado pelo rei D. Manuel I, a enviar uma embaixada ao rei de Cambaia, solicitando autorização para construir a fortaleza. O rei Modofar não cedeu ao pedido mas, apreciando as oferendas recebidas, deu a Afonso de Albuquerque um rinoceronte. Como era impossível mantê-lo em Goa, Afonso de Albuquerque decidiu enviar o rinoceronte ao rei D. Manuel I, como presente.
A chegada do animal a Lisboa causou muita curiosidade, não só em Portugal como no resto da Europa sobretudo pelo seu aspeto – o rinoceronte pesava mais de duas toneladas e tinha uma pele espessa e rugosa formando três grandes pregas que lhe davam a estranha aparência de uma armadura. Era o primeiro rinoceronte vivo em solo europeu desde o séc. III.
O rinoceronte, que foi chamado Ganda, ficou instalado no parque do Palácio da Ribeira. Lembrando ao rei as histórias romanas sobre o ódio mortal entre elefantes e rinocerontes, D. Manuel I, que tinha como animal de estimação um pequeno elefante, decidiu verificar se tal historia era verdade. Assim, foi organizado um combate entre os dois animais, a que assistiram o rei, a rainha e as suas damas de companhia, bem como muitos outros convidados importantes. O evento foi organizado no terreiro do paço, hoje-em-dia praça do commercio e foram montados palcos para assistir a este espectáculo.
Quando os dois animais se encontraram frente a frente, o elefante, que parecia ser o mais nervoso, entrou em pânico e fugiu mal o rinoceronte se começou a aproximar, destruindo os palcos e difundindo o panico entre as pessoas.
Em 1515, o rei D. Manuel I decidiu organizar uma nova embaixada extraordinária a Roma, para garantir o apoio do Papa, na sequência dos crescentes sucessos dos navegadores portugueses no Oriente, e com vista a consolidar o prestígio internacional do reino. Entre as ofertas decidiu enviar o rinoceronte, que usava uma coleira em veludo verde com rosas e cravos dourados. A nau partiu de Lisboa em Dezembro de 1515.
Ao largo de Génova surgiu uma violenta tempestade, tendo o navio afundado, perecendo toda a tripulação. O rinoceronte, embora soubesse nadar, acabou por se afogar, por causa das amarras. No entanto, foi possível recuperar o seu corpo. Ao saber da notícia, D. Manuel I ordenou que o rinoceronte fosse empalhado e enviado ao Papa, como se nada tivesse acontecido. Mas este animal não fez tanto sucesso junto do Papa como anteriormente tinha feito o elefante!
Em Portugal o rinoceronte foi imortalizado, encontrando-se representado no Mosteiro de Alcobaça, onde existe uma representação naturalista do animal de corpo inteiro, com função de gárgula, no Claustro do Silêncio. Foi também desenhado pelo grande mestre impressor Albrecht Dürer, baseando-se numa carta de um mercador português que continha um desenho do rinoceronte.
E um pequeno rinoceronte está também imortalizado na torre de Belém. Onde? Vens comigo visitá-la e iremos descobrir-lo.