Os Moliceiros

By : Outubro 8th, 2020 Tradições 0 Comments

O nosso post de hoje nos leva para a cidade de Aveiro, no centro de Portugal, também conhecida como a Veneza portuguesa pelo seus canais e pelas suas “gôndola” muito especiais: os moliceiros. 

Como italiana, percebo os pontos em comum das duas cidades mas acho que os moliceiros, pela sua historia e pela sua tradição, merecem um lugar além da sua comparação com as gôndola veneziana. E vamos descobrir porque.

 O Moliceiro, como o seu nome indica, era um barco de trabalho utilizado para a apanha do moliço, uma alga aquática utilizada para adubar os terrenos agrícolas de quase toda a região de Aveiro. O seu recurso predominava desde Ovar até Mira, variando as suas dimensões consoante a zona navegada.

Correndo o risco de desaparecer devido à quase extinção do uso do moliço, o moliceiro foi recentemente preservado. Reinventado como símbolo cultural da ria de Aveiro, é agora orientado pelo sector turístico.

É na Murtosa que estas criações nascem. Em média, são necessários cerca de 25 dias e 2 homens para a construção de um moliceiro. É essencialmente construído em madeira de pinheiro manso e bravo, espécie predominante na região de Aveiro. O seu tempo médio de vida é de 7 anos.

Actualmente há pouquíssimos construtores navais dedicados à construção de moliceiros.  

O barco moliceiro tem cerca de 15 metros de comprimento e 2,5m de largura. A sua borda baixa facilitava o carregamento do moliço, mas são as suas elegantes proa e ré que, com as suas pinturas, o distinguem das demais embarcações portuguesas. São decorados com pinturas que abordam temas que se alteram com os tempos. Estes motes são devidos às transições socio-culturais na História de Portugal.

As pinturas dos moliceiros são sempre compostas por texto e imagem. Começaram por ser uma espécie de jornal da Ria, uma plataforma para expressar a opinião e os acontecimentos entre as pessoas de Ovar, Murtosa, São Jacinto, Ílhavo, Mira… O que se passava nestas localidades era representado nestas pinturas. Eram e são uma forma de comunicação que relata a actualidade, homenageia figuras queridas ou satiriza outras indesejada.

Antigamente, era o próprio construtor naval quem pintava os moliceiros. Depois, por questões de poupança, passaram a ser os proprietários a fazê-lo. Actualmente, é um trabalho encomendado a artistas da região que primam pela preservação desta tradição.

As várias temáticas abordadas abrangem conteúdos religiosos, burlescos, sociais, históricos e lúdicos, consoante a actualidade e o mediatismo. Comentam-se os trabalhos e as vidas dos envolvidos nas embarcações, as instituições e figuras públicas, as festas e cerimónias, os descobrimentos, os militares… As mais recentes pinturas falam, por exemplo, de equipas e jogadores de futebol, do fado, da política, da União Europeia, do Big Brother ou da crise económica… Nada escapa à visão crítica de um pintor de moliceiros!

Então fica a dica: quando visitarem Aveiro, ponham no programa uma viagem de moliceiro, para descobrir a cidade de um ponto de vista diferente. Um passeio de circa 45 minutos para duas pessoas custa entre 20 e 30 euros. E se preferirem ficar com os pes no chão, não perca a possibilidade de ir observar os moliceiros por perto para descobrir as suas interessantes pinturas. 

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