A Igreja de São Domingos, uma igreja barroca situada no centro histórico de Lisboa, junto à Praça do Rossio, data do século XIII e, além de ter sido uma igreja importante pois aqui celebravam-se os casamentos reais, é também protagonista de uma historia que ainda hoje nos faz arrepiar.
A primeira pedra da Igreja de São Domingos foi lançada no ano de 1241 sendo que, desde então, esta tem sofrido sucessivas campanhas de restauro e ampliação.
O estilo arquitetónico da Igreja de São Domingos é uma mescla dos diferentes períodos e influências que a moldaram, entre as quais em 1748, com a reforma implementada por Frederico Ludovice à capela-mor, assim como a posterior obra de reconstrução de Manuel Caetano Sousa e as obras de reconstrução que se deram após o grande incêndio de 1959. Dos vários elementos que a constituem sobressaem os Maneiristas e Barrocos.
Esta igreja barroca encontra-se classificada como Monumento Nacional. Contém traços maneiristas, de nave única em cruz latina, transepto saliente, capela-mor rectangular, cripta circular, claustro e sacristia. O exterior caracteriza-se pela simplicidade de linhas e o interior é rico e eclético, destacando-se as suas colunas de grandes dimensões, os mármores e azulejos.
Mas é uma historia que aqui aconteceu a mais de 500 anos que marcou a história desta igreja para sempre.
Foi na Igreja de São Domingos que começou um dos episódios mais negros da história de Lisboa: o massacre dos judeus da cidade, em 1506.
O dia 19 de Abril de 1506 os fiéis enchiam a igreja, pedindo o fim da seca e da peste, quando uma luz entrou na igreja e alguém disse ter visto o rosto de Cristo iluminado. Logo todos começaram a gritar que era um milagre. Houve, no meio disto, uma voz discordante: um cristão-novo, ou seja, um judeu que fora obrigado a converter-se, tentou argumentar que se tratava apenas de um fenómeno físico, provocado pelo reflexo da luz. Enfurecida, a multidão voltou-se contra ele e espancou-o até à morte.
Foi o início de três dias de matança pela cidade de Lisboa. Reza a história que os frades dominicanos clamavam contra os judeus e incitavam o povo a matar os “hereges”. Muita gente tinha já saído da cidade por causa da peste, mas os que ficaram, aos quais se juntaram muitos marinheiros de passagem – “de naus vindas da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens”, escreveu Damião de Góis -, não pouparam os judeus que se lhes atravessaram pelo caminho. Homens, mulheres e crianças foram torturados, massacrados e queimados em fogueiras, muitas delas ali mesmo junto à Igreja de São Domingos. Terão morrido entre 2 mil e 4 mil judeus.
Conta Damião de Góis: “E, por já nas ruas não acharem cristãos-novos, foram assaltar as casas onde viviam e arrastavam-nos para as ruas, com os filhos, mulheres e filhas, e lançavam-nos de mistura, vivos e mortos, nas fogueiras, sem piedade.”
25 anos depois, em 1531, um terrível terremoto danificou a igreja que foi restaurada. Em 1755 o grande terremoto de Lisboa danificou a igreja mais uma vez e duramente. E não foi a ultima tragédia. Um incendio ocorreu a 13 de Agosto de 1959.
Quando a igreja foi reconstruída (reabriu em 1994), decidiu-se deixar as marcas do que tinha acontecido. Hoje as paredes queimadas nos fazem lembrar é a história do massacre de 1506 – como se ainda ecoassem as palavras de ódio dos frades dominicanos e o som da multidão enfurecida, e os gritos dos judeus.