Se lisboetas e portuenses são os nomes oficiais dos habitantes de Lisboa e do Porto, é como alfacinhas e tripeiros que eles são conhecidos.
Mas porquê é que os lisboetas são alfacinhas e os portuenses tripeiros?
As alfaces estão na origem de uns e as tripas na origem de outros e se a razão de serem tripeiros é clara, histórica e honrosa, parece que a dos alfacinhas é menos clara, apesar de igualmente histórica.
Uma das explicações diz que os lisboetas são alfacinhas porque, há muitos séculos, as colinas de Lisboa se enchiam desta planta que era usada para a culinária, para a medicina e também para a perfumaria. Terão sido os árabes a cultivá-la, quando ocuparam esta zona da Península Ibérica, no século 8 d.C.
A planta tinha, em árabe, o nome “Al-Hassa” que resultou na palavra “alface”, em português.
Outra teoria diz que foram os habitantes das zonas circundantes de Lisboa – a quem os lisboetas denominaram de “saloios” – que “devolveram” a alcunha aos lisboetas apelidando-os de “alfacinhas”, numa espécie de troca de galhardetes.
E porquê? Porque os lisboetas domingueiros, a partir do século 19, começaram a adotar o hábito de se passearem pela zona saloia, com laços farfalhudos da moda que mais pareciam alfaces ao pescoço.
Há ainda quem diga ainda que a alcunha “alfacinhas” se prende com o facto de os lisboetas não se movimentarem muito para além da sua cidade e se pareçam, por isso, com as alfaces, presas à terra…
A alcunha “tripeiros” tem uma origem não só honrosa como muito patriótica e que demonstra a dedicação da Invicta a causas que envolveram a dignidade e a independência de Portugal.
Na verdade, o epíteto nasceu de um grande espírito de sacrifício e de uma enorme firmeza de caráter do povo do Porto.
No século 15, o rei D. João I e o Infante D. Henrique organizaram em segredo a tomada de Ceuta (1415) e, embora ignorassem qual o destino de todos os preparativos e a razão da construção de tantas embarcações, no estaleiro de Miragaia, os habitantes do Porto uniram-se incondicionalmente para ajudar o Infante D. Henrique, nascido naquela cidade e responsável por todos todos aqueles preparativos.
E de tal forma se empenharam na ajuda a esta empreitada que fizeram um gigante sacrifício!
Forneceram toda a frota com as carnes que conseguiram arranjar, restando para os habitantes apenas as tripas com as quais se deviam alimentar. É motivo de honra e orgulho ter a denominação de “tripeiros”.
As rivalidades entre os Tripeiros e os Alfacinhas já têm séculos de história..
Diz o ditado que “Santos da casa não fazem milagres” mas o casamenteiro Santo António sempre foi bem recebido nas ruas da capital. Os nortenhos, por sua vez, não dispensam festejar o São João, que pela sua fama de sedutor é conhecido como o menos confiável entre os santos.
Quando se fala em festas fala-se em diversão. E diversão é sinónimo de sair à rua… “Da Ribeira até à Foz” – já diz a canção, quem é do Porto gosta de sentir a noite junto ao Douro. Os “loucos de Lisboa” viram-se mais para o Tejo e cantam “estou bem, na boa, esta manhã em Lisboa”.
As rixas entre o norte e o sul já foram pintadas, cantadas, faladas e escritas… mas a maior de todas elas vive-se em campo. O verdadeiro patriotismo dos dias de hoje vê-se no futebol e nada melhor que assistir a um jogo dos eternos rivais Benfica e Porto, para perceber que as relações não melhoraram com o passar do tempo.
Discussões regionalistas à parte, há um ponto em comum entre lisboetas e portuenses: todas as discussões acabam num qualquer café de esquina a beber uma cerveja, pedindo no Porto um fino ou em Lisboa uma imperial. E si no Porto, para pedir um café, falamos “cimbalino”, isso em Lisboa, é chinês. Aconselho a que peças uma “bica“. Já agora, o cimbalino também tem a ver com uma marca, Cimbali, de máquinas de café. E bica? Fica para a próxima historia.