A 23 de julho de 1920 nasceu em Lisboa uma mulher cujo nome ia ficar para sempre ligado a historia de Portugal: Amalia Rodrigues. Aos 14 meses, foi deixada ao cuidado dos avós maternos quando os pais regressaram à Beira Baixa. Tendo tido, ainda muito nova, várias ocupações – desde bordadeira até empregada de balcão -, cantou pela primeira vez em público em 1935, numa festa de beneficência, acompanhada por um tio.
Como profissional, estreou-se em 1939 no Retiro da Severa. Logo no ano seguinte actuou em Madrid, dando início a uma carreira nacional e internacional jamais igualada por qualquer outro artista português. Em 1944, viajou pela primeira vez para o Brasil onde o sucesso obtido foi tão grande que acabaria por lá permanecer mais tempo do que o previsto e por lá voltar muitas mais vezes.
Cantou pela primeira vez no Olympia de Paris, em 1956, numa festa de despedida de Josephine Baker, mas só no ano seguinte atuiria nesse palco como artista principal e absoluta.
A sua voz poderosa e expressiva fez-se ouvir e aplaudir em quase todo o Mundo. Amália Rodrigues tornou-se a grande divulgadora do fado além-fronteiras e é reconhecida como a maior intérprete da já longa tradição desse tipo de música.
Foram inúmeros os concertos que deu ao longo de toda a sua vida artística e foram também várias as situações em que foi venerada, como as que aconteceram no grande espetáculo de homenagem do Coliseu dos Recreios de Lisboa, onde recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada (1990); na cerimónia em que François Miterrand, Presidente da República de França, lhe concedeu a Legião de Honra (1991); e no espetáculo da Gare Marítima de Alcântara, exibido em direto pela Radiotelevisão Portuguesa (1995).
A fadista portuguesa morreu a 6 de outubro de 1999 e foi sepultada a 8, depois de umas cerimónias fúnebres que tiveram honras de estado. Tinha 79 anos. A notícia da sua morte correu mundo e comoveu o país. Cerca de 50.000 pessoas acompanharam a urna da artista no cortejo entre a basílica da Estrela e o cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
A cantora, atriz e fadista portuguesa, que muitos continuam a aclamar como a voz de Portugal e a considerar uma das mais brilhantes cantoras mundiais do século XX, hoje-em-dia está sepultada no Panteão Nacional, para onde foi transladada 21 meses depois, em julho de 2001.
Umas curiosidades que não todos sabem:
– Depois de trabalhar num ateliê de bordadura, Amália Rodrigues vai trabalhar para uma fábrica de doces, perto de casa. A futura artista descasca marmelos e embrulha rebuçados enquanto canta. As colegas elogiam-lhe a voz e, à medida que as horas vão passando, pedem-lhe mais cantigas.
– Estreou-se com um vestido amarelo às riscas verdes. Estreou-se como fadista na casa de fados O Retiro da Severa em julho de 1939. Na véspera da primeira apresentação pública, a mulher de Jorge Soriano, o proprietário do espaço, foi com a intérprete de “Gaivota” e “Barco negro” às compras. A escolha recaiu num vestido de manga curta, amarelo às riscas verdes, com peitilho de renda e uma gola dourada.
– A letra de “Foi Deus”, um dos fados mais populares de Amália Rodrigues, foi composta por um farmacêutico de Reguengos de Monsaraz no Alentejo. Orgulhoso da composição, que lhe saiu da alma à mesa de um café local, Alberto Janes anuncia, pouco depois, aos amigos que se prepara para viajar até Lisboa para a oferecer à fadista. A maioria, incrédula, ri-se. Dias depois, toca-lhe à porta. Ela lê o poema e aceita gravar o fado.
– Em 1952, Amália Rodrigues parte à conquista da América e triunfa em toda a linha. Alguns agentes propõem-lhe gravar em inglês canções de compositores como Cole Porter, George Gershwin e Samuel Barber. A fadista recusa. Em Hollywood, também são vários os produtores de cinema que a disputam. Os executivos da 20th Century Fox acenam-lhe com um contrato milionário. A artista regressa a Lisboa sem lhes dar resposta.