Nas montanhas do nordeste de Portugal, região de extensos olivais, onde no início da primavera (Fevereiro e Março) florescem amendoeiras e no outono (Setembro e Outubro) as vinhas se cobrem de folhas cor de fogo, corre para o rio Douro um afluente cujo nome se tornou universal. Milénio após milénio, as rochas de xisto que delimitam o leito do Côa foram-se convertendo em painéis de arte, com milhares de gravuras legadas pelo impulso criador dos nossos antepassados.
Remontando ao Paleolítico Superior, estes painéis ao ar livre e os habitat identificados são testemunhos da vitalidade e mestria que trouxeram até nós 25.000 anos de arte. Esta extensa galeria de arte oferece-nos também registos do período Neolítico e da Idade do Ferro, transpondo depois de um só fôlego dois mil anos de História para firmar na Época Moderna representações religiosas, nomes e datas, para além da arte ingénua dos moleiros nos anos quarenta e cinquenta do século passado.
Há muito conhecidas pelas pessoas da região, sobretudo os pastores ou os moleiros que trabalhavam nas margens do rio na zona da Canada do Inferno, as gravuras do Vale do Côa, foram identificadas pela primeira vez em 1991, pelo arqueólogo Nelson Rebanda, que acompanhava a construção da barragem do Côa. Tornada pública em 1994, a descoberta provocou grande discussão pois a construção da barragem provocaria a submersão daquela área.
Tendo em conta a opinião dos especialistas acerca da importância artística e científica das gravuras do Côa, o governo português decide abandonar a construção da barragem em 1996. Foi então criado o Parque Arqueológico do Vale do Côa, a fim de proteger e divulgar a riqueza artística e arqueológica do local.
Em 1998, a UNESCO classificou os núcleos de gravuras rupestres como Património Mundial, dando a conhecer ao Mundo este tesouro da Humanidade, em território português. As gravuras rupestres do Côa vieram mudar o paradigma da mais antiga expressão artística da Humanidade que, até então, se pensava estar circunscrita a grutas subterrâneas. Depois da sua identificação, em meados da última década do século XX, colocou-se a hipótese de a arte rupestre ao ar livre ter sido mais comum. Só que, devido aos diversos agentes erosivos naturais e a própria atividade humana ao longo dos milénios, os seus vestígios terão sido apagados. Daí a preservação dos sítios arqueológicos do Vale do Côa ser tão importante.
Apesar de existirem mais de 80 sítios com arte rupestre, distribuídos numa extensão de cerca de 30 kms na margem do rio Côa e cerca de 15 kms ao longo do rio Douro, estão abertos ao público apenas três núcleos de gravuras: Canada do Inferno (o primeiro local a ser identificado), Penascosa e Ribeira de Priscos.A grande maioria dos motivos rupestres localiza-se em rochas de xisto, mas também podemos encontrar gravuras e pinturas sobre granito. As técnicas utilizadas para a gravação eram comuns na altura, semelhantes a técnicas identificadas em gravuras encontradas em Espanha e França, como a incisão filiforme, picotagem, abrasão e raspagem. Quanto às temáticas representadas, os animais são as figuras mais comuns – cavalos, vacas, cabras e veados -, representados isolados ou em grupo.
Originário de Cantanhede no ano de 1974, e resultado da bem humorada imaginação de um dos seus habitantes, Luís Nuno Sérgio, o Licor de Merda é, graças ao seu escatológico nome, conhecido nacional e internacionalmente.
Nos bares e tabernas, quando o vêem em lista, a clientela pensa tratar-se de gozo ou provocação. Não é. Guardem um dia das vossas vidas para provarem o icónico Licor de Merda. Não se preocupem, o que o nome diz não faz parte dos ingredientes.
A base dele é o leite, ou o leite já transformado em licor, embora haja uma exótica fusão de outro tipo de alquimias, maioritariamente de frutos, dando-lhe uma coloração amarelada mas visivelmente aguada.
Nesse aspecto, estará mais próximo de um Licor Beirão ou de uma qualquer marca de Amêndoa Amarga. O seu rótulo, no entanto, não abre muito o livro sobre a mistura que aqui vai. Pelo contrário, lá podemos ler uma nova provocação: “É extraído a partir de diversas merdas de confiança…”. De qualquer forma, às escuras, parece ter notas de frutos do sul, sobretudo de banana e baunilha.
Um aproximado caseiro pode ser feito aquecendo leite e colocando açúcar e frutos exóticos a gosto ao mesmo tempo – deixando a fusão ganhar forma durante uns dias, enquanto fermenta com a ajuda de leveduras. No final poderá ser adicionada aguardente para aumentar o teor alcoólico e aproximar a bebida de outros quejandos licorosos.
No entanto, como é de calcular, o que mais se pergunta sobre ele nada tem a ver com a receita, mas sim com o porquê do nome. Parece haver duas explicações para ele.
Luís Nuno Sérgio, o seu criador, disse ter um garrafão de 20 litros para onde costumava mandar resíduos de outros licores que ia fazendo, e a essa compilação de restos dava o nome de licor de merda, que, obviamente, tinha um sabor variável consoante as sobras que lá estagiavam.
Este será o embrião de tudo. Depois houve uma segunda aplicação do nome quando se resolveu cristalizar a receita e avançar oficialmente com o produto.
Esta aplicação seria política, que, segundo se diz, é um repto a esta classe e à desordem partidária, quando Esquerda e Direita não se entendiam numa altura de pós-revolução (o que não deixa de ter uma certa actualidade), e o país andava a poucos metros de uma guerra civil.
O comerciante não vai de modas e dirige-se directamente ao então Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, como também pode ser lido no rótulo: “um produto de alta qualidade, cuja fórmula pertenceu no final do século XX ao Frade maluquinho Basku Gonsalbes”.
A marca foi ainda alvo de uma pequena rábula feita por dois conhecidos apresentadores televisivos espanhóis, que, ao saberem que Cantanhede tinha feito um licor com tal nome, resolveram telefonar para a pequena cidade Beirã a pedir mais informações sobre a dita merda licorosa.
E se quiserem experimentar a preparar esse licor em casa, aqui fica a receita!
Ingredientes
– 1 litro de leite
– 500 gr. de açúcar
– 150 gr. de cacau em grão
– 1 vagem de baunilha aberta ao meio
– 1 pau de canela
– 2 rodelas de laranja
– 2 rodelas de limão
– 1 litro de aguardente
Colocar todos os ingredientes num recipiente que permita vedar bem.
Mexer e tapar. Manter o recipiente fechado durante 20 dias, mexendo diariamente com uma colher de pau.
Findos os 20 dias, filtrar 2 vezes através de papel de filtro para café, colocado num coador.
D. Afonso Henriques era filho dos condes D. Henrique – segundo filho de Henrique, duque de Borgonha – e de D. Teresa, filha bastarda do rei de Leão e Castela, Afonso VI. Nasceu em 1109, provavelmente em Viseu, pois é nesta cidade beirã que, por essa altura, se pode determinar historicamente a presença de sua mãe, a infanta D. Teresa, atendendo à reconstituição do seu itinerário com base nas fontes documentais da época. O futuro rei foi educado no Entre Douro e Minho, em terras de seu aio, possivelmente D. Egas Moniz de Ribadouro. Órfão de pai em 1112, portanto com 3 anos, certamente não pôde guardar dele outras recordações que não as memórias relatadas pelos seus educadores. O casamento posterior da mãe com o magnata galego Fernão Peres de Trava, e a tentativa, por parte da nova corte de D. Teresa, de atrair o território português de regresso à órbita galega, são factores que teriam certamente contribuído para afastar o infante do convívio de sua mãe.
D. Afonso Henriques derrotara na batalha de São Mamede, em 1128, perto de Guimarães as forças antipatrióticas encabeçadas pelo amante de sua mãe, Fernão Peres de Trava, inaugurando a primeira de quatro dinastias de reis de Portugal, símbolos da nação até ao princípio do século XX. Curiosamente, sabe-se hoje que a propaganda nacionalista do século XX transformou o marido em amante para diminuir a figura do conde galego.
Foi então que, a 25 de Julho de 1139, obteve contra o Islão a mais emblemática das suas vitórias, na batalha de Ourique, mitificada pela historiografia posterior em elaborada lenda.
Em 1144, o Papa Eugénio III convocou uma nova cruzada para a Península Ibérica. A armada chegou à cidade do Porto a 16 de junho, sendo convencidos pelo bispo do Porto, Pedro II Pitões, a tomarem parte nessa operação militar. Após a conquista de Santarém (1147), sabendo da disponibilidade dos Cruzados em ajudar, as forças de D. Afonso Henriques prosseguiram para o Sul, sobre Lisboa.
O Cerco de Lisboa teve início a 1 de julho de 1147 e durou até 21 de outubro, culminando na conquista desta cidade aos mouros com o auxílio dos Cruzados que se dirigiam para o Médio Oriente, mais propriamente para a Terra Santa. Foi o único sucesso da Segunda Cruzada.
As forças portuguesas avançaram por terra, as dos cruzados por mar, penetrando na foz do rio Tejo; em junho desse mesmo ano, ambas as forças estavam reunidas, ferindo-se as primeiras escaramuças nos arrabaldes a Oeste da colina sobre a qual se erguia a cidade de então, hoje a chamada Baixa. Após violentos combates, tanto esse arrabalde, como o a Leste, foram dominados pelos cristãos, impondo-se dessa forma o cerco à opulenta cidade mercantil.
Bem defendidos, os muros da cidade mostraram-se inexpugnáveis. As semanas se passavam em surtidas dos sitiados, enquanto as máquinas de guerra dos sitiantes lançavam toda a sorte de projéteis sobre os defensores, o número de mortos e feridos aumentando de parte a parte.
No início de outubro abriram uma brecha por onde os sitiantes se lançaram. Na iminência de um assalto cristão em duas frentes, os muçulmanos, enfraquecidos pelas escaramuças, pela fome e pelas doenças, capitularam a 20 de outubro.
Mas como muitas vezes acontece, nessa parte da historia, uma lenda tomou o lugar da realidade: a lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade de Lisboa, ajudado pelos muitos cruzados que por ali passaram a caminho da Terra Santa.
Numa das tentativas de assalto a uma das portas da cidade, um cavaleiro do seu exercito, Martim Moniz, enfrentou os mouros e conseguiu manter a porta aberta. O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos entrassem na cidade.
Gravemente ferido, Martim Moniz entrou na cidade com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os inimigos, antes de cair morto.
D. Afonso Henriques quis honrar a sua valentia e sacrifício, pelo que ordenou que aquela entrada passasse a ter o nome de Martim Moniz.
A Basilica de Estrela: historia de uma promessa real.
A historia que conto hoje é a historia de uma das igrejas mais bonitas de Lisboa e talvez uma das menos visitadas. Mas é também a historia de uma rainha e de uma promessa.
A Basílica da Estrela, ou Real Basílica e Convento do Santíssimo Coração de Jesus, é um templo católico e antigo convento de freiras carmelitas. Esta vasta igreja, encimada por uma cúpula, ergue-se no alto de uma colina na zona oeste da cidade, sendo um dos marcos da zona da Lapa.
A Basílica de estrela nasceu da devoção de D Maria I, filha de D José I (rei conhecido por ter reinado na época do terrível terremoto de Lisboa do 1755) ao culto do Sagrado Coração de Jesus. Em 1760 quando D. Maria I, ainda princesa, casou com o tio o infante D Pedro (futuro D Pedro III), fez um voto ao Santíssimo Coração de lhe erguer uma igreja e convento para as religiosas da Regra de Santa Teresa, pedindo o nascimento de um filho varão para ele um dia herdar o trono. D. Pedro contribui para a causa, cedendo os terrenos do Casal da Estrela, na parte Occidental de Lisboa. No entanto, desde logo se depararam uma serie de obstáculos à devota princesa, apenas ultrapassados aquando da sua subida ao trono: dificuldades técnicas e económicas (estava em curso a reconstrução da capital após o terremoto, para a qual o Marques de Pombal havia disponibilizado todos os meios), bem como “religiosas” ja que o culto ao Sagrado Coração alem de polemico não era aceite pela ortodoxia católica, porque “revalorizava a natureza humana de Cristo sobre a divina” o que implicava uma mudança quase radical na mentalidade e modo de encarar os dogmas da Igreja da época. De facto, só o papa Pio VI, no final do século XVIII o aprovará.
O desejo de D Maria foi satisfeito e a construção do templo foi iniciada em 1779. Infelizmente, entretanto, o menino, baptizado como D. José, veio a falecer vítima de varíola, dois anos antes do término da construção, em 1790. D Maria decidiu avançar na mesma com a sua promessa e concluiu a construção da igreja.
O projeto ficou a cargo de arquitectos da Escola de Mafra. O templo apresenta características do estilo barroco final e do neoclássico.
A fachada é ladeada por duas torres gémeas e decorada ao centro com um relevo representando o Sagrado Coração de Jesus com estátuas de santos (Santo Elias, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz e Santa Maria Madalena de Pazzi) e figuras alegóricas (Fé, Devoção, Gratidão e Liberalidade), da autoria de Joaquim Machado de Castro e dos seus pupilos.
O amplo interior, de mármore cinzento, rosa e amarelo, iluminado por aberturas na cúpula, infunde respeitoso temor. Várias pinturas de Pompeo Batoni adornam o seu interior. O túmulo estilo império, de D. Maria I, que faleceu no Brasil, está no transepto direito. Encerrado numa sala ali perto, existe um extraordinário presépio de Machado de Castro, formado por mais de 500 figuras de cortiça e terracota.
Curiosidades
A Basílica da Estrela foi a primeira igreja no mundo dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.
A rainha D. Maria I é a única monarca portuguesa da dinastia de Bragança (excepção feita ao rei D. Pedro IV de Portugal, imperador do Brasil, que se encontra sepultado na cidade de São Paulo) que não se encontra no Panteão da Dinastia de Bragança, mas sim na Basílica da Estrela, que ela mesma mandou erguer.
Quando o inverno começa a acabar e a primavera prepara a sua chegada nos primeiros meses do ano, a paisagem se veste de branco. E sempre mais pessoas juntam-se a grande festa das amendoeiras em flor.
Uma rota no norte e uma no sul, que através aldeias históricas e lugares autênticos, transportam os visitantes numa viagem inesquecível.
Duas regiões em Portugal são hoje-em-dia conhecidas para poder aproveitar da Rota das amendoeiras: o Nordeste Transmontano e o Algarve.
No Nordeste Transmontano, no final do inverno (sobretudo nos meses de fevereiro e março ) o tom branco das amendoeiras em flor junta-se aos tons verdes e castanhos da paisagem.
Nesta época a região promove também a “Festa das Amendoeiras em Flor”. Para além de um programa de atividades culturais e recreativas, tem lugar uma Feira de Artesanato, onde também se pode saborear a gastronomia local.
Há a oportunidade para provar as amêndoas cobertas, uma das especialidades regionais, sobretudo se tiver a possibilidade de assistir ao original ritual da sua confecção. As amêndoas são postas a torrar, em lume brando, numa grande bacia de cobre onde as confeiteiras, com os dedos protegidos por dedais, vão pacientemente deitando açúcar e rolando os frutos secos durante várias horas. Existem três tipos de amêndoa: com açúcar branco (“amêndoa bicuda”), coberta de chocolate e canela (“amêndoa morena”) ou coberta por uma camada muito fina de açúcar (“amêndoa peladinha”).
No sul de Portugal, prenunciando a chegada da primavera, as amendoeiras em flor cobrem o Algarve de branco, num espetáculo deslumbrante e inesquecível.
Um manto frágil, rosado e branco que se espraia pelas terras do barrocal sobre os pomares do interior algarvio, onde muitas aldeias preservam os nomes de origem árabe.
Mas como chegaram as amendoeiras a Portugal? A explicação chega de uma antiga e romântica lenda.
Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos árabes, reinava em Chelb, a futura Silves, o famoso e jovem rei Ibn-Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade, conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher. Foram felizes durante algum tempo, mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A solução estava ao alcance do rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras que quando florissem as suas brancas flores dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada da sua saudade. Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo e a princesa sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão indiscritível das flores brancas que se estendiam sob o seu olhar. O rei mouro e a princesa viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.
A Romaria de Nossa Senhora da Agonia, que realiza-se em Viana do Castelo, no Minho, é uma das festas mais conhecidas do pais: é grandiosa em programação, no número de visitantes, na força da tradição do traje à vianesa, no peso do ouro que as mordomas exibem ao peito.
A história da festa junta-se à história da Igreja da Agonia. Em 1674 foi edificada, em honra da padroeira dos pescadores uma capela em invocação ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário e, um pouco acima, uma capelinha devota a Nossa Senhora da Conceição.
Hoje, o nome está associado à rainha das romarias, nascida em 1772 da devoção dos homens do mar vindos da Galiza e de todo o litoral português. Mais tarde, em 1783, a Sagrada Congregação dos Ritos permitiu que fosse celebrada nesta capela (conhecida agora como Capela de Nossa Senhora da Agonia) uma Missa Solene, todos os anos no dia 20 de agosto.
Em 1861 a Festa Solene é ultrapassada pela Romaria d’Agonia, e esta última assume mais importância e torna-se tão grandiosa que acaba por extravasar a festa religiosa. Torna-se um arraial repleto de cantares ao som de violas, de danças, um arraial extravagante.
Em 1862, a romaria assumiu tamanha popularidade que se calculava que só o fogo de artifício era já contemplado por mais de cinquenta mil pessoas. Nove anos mais tarde, foi anexado ao programa a tourada (que desde 2009 ja não faz parte da festa).
Em 1906, nesta romaria nasce a Festa do Traje e, dois anos depois, em 1908, dá-se a primeira Parada Agrícola (nos dias de hoje é o tão famoso cortejo etnográfico).
A partir de então a romaria deixou de estar limitada ao Campo da Agonia e invadiu toda a cidade de Viana do Castelo. Durante os dias da romaria o programa é completo. Todos os anos existe uma Feira de Artesanato, um espetáculo musical com artistas conhecidos, há fogo-de-artifício todos os dias às 24h00 sempre em locais diferentes da cidade, encontros de Bandas Filarmónicas, um Desfile da Mordomas que se realiza num dos dias da romaria às 10h00, o Cortejo Etnográfico que se realiza normalmente no sábado à tarde e um festival de Concertinas e Cantares ao Desafio. No dia 20 há sempre a celebração solene eucarística (no Adro da Senhora d’Agonia) seguida de procissão ao mar, sendo que no dia anterior à noite há a confecção dos “Tapetes Floridos” nas ruas da Ribeira.
As Mordomas: no Alto-Minho são as mulheres encarregadas de recolher fundos para a realização da romaria ao santo padroeiro da sua terra. Os trajes das mordomas era geralmente pretos ou azuis-escuros. Este traje serviria mais tarde como vestido da noiva (com a casaca e véu) e ainda para com eles serem enterradas. O lenço ‘tapete’ na cabeça em seda, colete, algibeira, avental (com brasão Real), chinelas pretas e saia na cintura.
Os trajes tem varias características e significado:
Traje de noiva: negro. A noiva troca o lenço de mordoma (colorido e de seda), por um lenço de fina cambraia (tecido leve feito em algodão ou em linho) bordado, cruzado à frente. Mas também (e mais usual) existe o véu de renda ou tule bordado. A vela votiva ou palma da Páscoa, são agora trocadas pelo ramo de noiva.
Traje de lavradeira: coloridos e devem os seus tons às diversas regiões do Alto-Minho. Os azuis são associados as terras viradas ao mar, os verdes das terras montanhosas e verdejantes, o traje vermelho é ‘à vianesa’ ou ‘à moda do Minho’ por excelência. É um traje de festa, o avental é franzido na parte superior. Existem dois lenços: um traçado no peito e apertado atrás, na altura da cinta; outro trespassado sobre a nuca e atado no alto da cabeça.
Traje de meia senhora/morgada: a lavradeira que, podendo já estar casada (portanto a sua posição social e económica já evoluiu) , ainda não atingiu o reconhecimento social, e assim sendo era uma ‘meia senhora’. Leva a casaca de mordoma/noiva, a saia de chita com estampado de flores, adornada com bastas e folhos, mas pode também ser de uma saia de fazenda preta com uma basta e um galão bordado a vidrilho da mesma cor, a rematar as chinelas pretas. Sobre os ombros um lenço de seda natura estampado (normalmente usado na cabeça enquanto mordoma), bem como a “casaca de confeitos” a pender-lhe das mãos a substituir a algibeira, ou um xaile.
D. Dinis é uma das grandes figuras da historia portuguesa. Era, na sua época, um dos Reis mais respeitados no mundo. Conhecido como o “Rei Poeta” (pois terá escrito 173 poemas em Galaico-português) ou o “Rei Lavrador”, D. Dinis foi o 6º monarca de Portugal e reinou durante 46 anos. É descrito como culto, justo, por vezes cruel, piedoso, decidido e inteligente. Filho de D. Afonso III e de Beatriz de Castela, nasceu em pleno dia de S. Dinis, a 9 de Outubro de 1261, em Lisboa. Em 1279, aos 17 anos, D. Dinis chega ao trono de um país que vivia tempos instáveis. Entre 1280-1287, com o intuito de estabelecer a paz em Portugal, negoceia com a Santa Sé. A relação com a igreja estava deteriorada há muitos anos, chegando ao ponto, de por exemplo, o rei D. Afonso III ter sido excomungado. Logo no início do seu reinado, em 1280, D. Dinis, pensou no casamento e possivelmente nas questões políticas. Encontrou a sua esposa ideal em Isabel de Aragão, conhecida popularmente, hoje em dia, como a “Rainha Santa”. O casamento seria feito 2 anos depois, em Barcelona, por procuração. A Rainha Isabel tinha…10 anos! Ao chegarem a Portugal, foi feita a cerimónia em Trancoso. E depois fixaram-se em Coimbra. Deste casamento tiveram dois filhos: D. Constança e D. Afonso, futuro D. Afonso IV. No entanto, D. Dinis teve várias relações extraconjugais, dos quais teve filhos, que foram educados pela Rainha Santa! D. Dinis tomou várias medidas, como por exemplo: criou um sistema de leis, criou as feiras, apostou na pesca e em outras actividades marítimas, cedeu terrenos para cultivar a quem não tinha posses.
No Entre Douro e Minho dividiu as terras em casais, cada casal vindo mais tarde a dar origem a uma povoação. Em Trás-os-Montes o rei adoptou um regime colectivista: as terras eram entregues a um grupo que repartia entre si os encargos, determinados serviços e edifícios eram comunitários, tais como o forno do pão, o moinho e a guarda do rebanho. Em 1290, fundou a primeira universidade no país, que se situava em Lisboa e posteriormente passou para Coimbra. Estabeleceu o Português como língua oficial na redacção de documentos e fez uma aliança com Aragão. Entre 1319 e 1324 esteve em guerra com o filho D. Afonso. Acabaram por fazer as pazes. Contudo, rezam as crónicas que, graças a este conflito, as relações com a sua mulher, a Rainha Santa, nunca mais foram saudáveis. Em 1290, concluída a reconquista portuguesa, o rei Dinis I de Portugal decretou que a “língua vulgar” (o galego-português falado) fosse usada em vez do latim na corte, e nomeada “português”. O rei trovador adoptara uma língua própria para o reino, tal como o seu avô fizera com o castelhano. Em 1296 o português foi adaptado pela chancelaria régia e passou a ser usado não só na poesia, mas também na redacção das leis e pelos notários.A 7 de Janeiro de 1325, aos 63 anos (uma idade muito avançada para a altura), D. Dinis faleceu em Santarém. Foi sepultado no Mosteiro de Odivelas, um edifício que foi criado por si. Análises feitas ao seu túmulo indicam que o “Rei Poeta” foi muito saudável (incrivelmente faleceu com todos os dentes), permitindo ainda concluir que media 1,65 metros e tinha cabelo e barba ruivos.
Provavelmente já ouviram falar sobre os pasteis de Belém, não é? Esse doce tipicamente português surgiu no início do século XIX e até hoje é considerado uma sobremesa atrativa, aromática e saborosa.
Com quase 200 anos, a história do Pastel de Belém ainda se baseia bastante em contos e lendas. Acredita-se que o doce, surgiu no início do século XIX, tendo sido criada pelos monges do Mosteiro dos Jerônimos, localizado em Belém, atual bairro de Lisboa.
Dizem que eles encontraram nesta receita uma maneira de aproveitar as gemas que sobravam pois eles usavam a clara de ovo como amido natural. Só eles trabalhavam na confeitaria de Belém e, por isso, somente eles sabiam como preparar o tradicional doce, sem que pudessem revelar o segredo a ninguém.
Nesse período, os clérigos do mosteiro confeccionavam e vendiam os pastéis para a população, em uma tentativa de subsistência. No entanto, no ano 1834, houve a extinção das ordens religiosas e todos os monges e freiras tiveram que sair de seus conventos. Com isso, os trabalhadores laicos que viviam no espaço, inclusive os pasteleiros, saíram à procura de novos empregos.
Por sorte, um dos doceiros do mosteiro encontrou-se com um comerciante, Domingos Rafael Alves, que tinha uma antiga refinaria de açúcar. Ele, completamente interessado pela receita, conseguiu descobrir o segredo da preparação, levando o então monge para trabalhar com ele.
O comerciante começou então a vender os doces, que receberam o nome de “Pastéis de Belém”. Inicialmente, ele os comercializava na própria refinaria e, mais tarde, em uma lojinha que se chamava “A antiga confeitaria de Belém”.
Quando Lisboa virou um roteiro turístico internacional, a fama da receita ultrapassou as fronteiras e se disseminou para outras partes do mundo, de Nova Iorque ao Japão, sempre mantendo a receita original em segredo.
O segredo da receita original
É claro que com o tempo as confeitarias e os cafés do mundo inteiro, sobretudo de Lisboa, tentaram descobrir o segredo da receita. Entretanto, até hoje ela é preservada por mestres que fizeram um acordo de confidencialidade, inclusive entre as quatro paredes da “Oficina do Segredo”.
Os atuais donos da marca da “Antiga confeitaria de Belém”, mantêm o mistério e não divulgam a receita, resistindo até mesmo a abrir filiais ou trabalhar com franquias, justamente para que o segredo não seja compartilhado. Vale mencionar que em 2011 o Pastel de Belém foi considerado uma das sete maravilhas da gastronomia de Portugal.
Atualmente, é possível comprar os pastéis de nata em muitos comércios de vários países além de Portugal, como Brasil, China, Malásia e Hong Kong, porém somente os originais recebem a denominação tradicional de “Pastel de Belém”.
Uma curiosidade:
- Diariamente são fabricados e vendidos cerca de 20 mil pastéis. Essa quantidade chega a duplicar aos finais de semana devido ao elevado número de visitantes que vão até a loja tradicional adquirir o produto.
A tradição dos azulejos em Portugal não só é antiga mas é também a mais representativa do pais. A historia conta que tive inicio quando, no ano de 1498, D Manuel I Rei de Portugal fez uma viagem a Espanha e ficou maravilhado com o esplendor dos interiores mouriscos e com as cores dos revestimentos de paredes e murais.
Na sequência da sua vontade de construir a sua residência à imagem dos palácios visitados em Sevilha, Toledo e Saragoça, o azulejo chegou em Portugal. O Palácio nacional de Sintra, que foi utilizado como sua residência, tornou-se um dos melhores e mais originais exemplos dos azulejos portugueses iniciais, na época ainda importados de fabricas de Sevilha.
Apesar das técnicas arcaicas vir do exterior, assim como a tradição da decoração islâmica nos exageros decorativos de padrões geométricos complexos, a sua entrada em Portugal denota uma influencia do gosto europeu pelos motivos vegetalistas do gótico e uma particular estética portuguesa.
Mas começamos com ordem: de onde vem a palavra azulejo? É um termo árabe, azzelij, que significa pequena pedra polida e é a designação dada a um artefacto em cerâmica com pouca espessura, normalmente quadrado, sendo uma das superfícies vidrada em consequência da cozedura do revestimento, chamado de esmalte, tornando-se desta forma brilhante e impermeável. Esta superfície pode ter uma única cor ou possuir varias cores, ser lisa ou com relevo.
Os motivos representados variam entre as narrações de circunstancias históricas, mitologia, religião e vários motivos de decoração. O império português ultramarino teve uma influencia importante na diversidade das formas; assimilou formas e e decorações de outras civilizações.
Os azulejos portugueses representam o imaginário de um povo, a sua atracão pela historia real e a sua cumplicidade pelo intercâmbio cultural.
A nova indústria do azulejo floresce com as encomendas da nobreza e do clero. Grandes painéis são fabricados à medida para preencher as paredes de igrejas, conventos, palácios, solares e jardins. A inspiração vem das artes decorativas, dos têxteis, da ourivesaria, das gravuras e das viagens dos portugueses ao oriente. Surgem grandes composições cenográficas, característica marcante do barroco, com motivos geométricos, temáticas figurativas e vegetalistas de uma fauna e flora exóticas.
Em finais do século XVII, a qualidade da produção e execução é maior, há famílias inteiras envolvidas nesta arte de fazer azulejos e, alguns pintores começam a afirmar-se enquanto artistas, passando a assinar as suas obras, dando assim início ao Ciclo dos Mestres.
Depois do terramoto de 1755, a reconstrução de Lisboa vai impor outro ritmo na produção de azulejos de padrão, hoje designados pombalinos, usados para decoração dos novos edifícios. Os azulejos são fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais. Nos finais do século XVIII, o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero, a burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios, os painéis contam por vezes a história da família e até da sua ascensão social.
A partir do século XIX, o azulejo ganha mais visibilidade, sai dos palácios e das igrejas para as fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitetura. A paisagem urbana ilumina-se com a luz reflectida nas superfícies vidradas. A produção azulejar é intensa, são criadas novas fábricas em Lisboa, Porto e Aveiro. Mais tarde, já em pleno século XX, o azulejo entra nas estações de caminho de ferro e metro, e alguns conjuntos são assinados por artistas consagrados.
Sintra foi o primeiro sítio Europeu inscrito pela UNESCO como Paisagem Cultural. O Valor Universal desta paisagem foi, então, reconhecido como paisagem romântico e percursora da interpretação desta nova forma de pensar noutros locais da Europa.
Em Sintra é possível percorrer 7.000 anos de história. Desde as comunidades do Neolítico, que se fixaram nas encostas mais abrigadas da serra, aqui se conta também a história da civilização romana, cuja memória se encontra preservada na antiga designação da serra – Mons lunae, ou Monte da Lua; a do domínio muçulmano do território, de que o castelo é o mais ilustre representante; a da reconquista cristã, presente na história daquele que viria a ser o Paço Real da Coroa Portuguesa e que teve como origem o antigo palácio mouro.
Sintra, que sobreviveu ao Terramoto de 1755, tem o seu período áureo situado entre o final do séc. XVIII e todo o séc. XIX.
Nesta altura teve início a redescoberta da magia de Sintra, cuja mais antiga forma medieval conhecida “Suntria” apontará para o indo-europeu astro luminoso ou sol. Já foi chamada de Monte Sagrado e de Serra da Lua.
Conta-se também aqui a história de como esta serra sempre despertou no Homem o desejo de contemplação, que tem a sua materialização mais pura no Convento de Santa Cruz da Serra onde, durante quase 300 anos, frades Franciscanos adoraram a natureza como expressão máxima da obra do Criador. E foi a atmosfera especial deste lugar que trouxe a esta serra, no séc. XIX, D. Fernando II da dinastia de Saxe-Coburgo-Gotha (1836-1885). Muito ligado a Sintra e à sua paisagem, este rei-artista implantaria aqui o Romantismo de uma forma esplêndida e única. O rei adquiriu o Convento da Pena situado sobre uma montanha escarpada e transformou-o num palácio fabuloso e mágico, dando-lhe a dimensão máxima que apenas um romântico de uma grande visão artística e de uma grande sensibilidade estética podia sonhar. Além disso, D. Fernando II rodeou o palácio de um vasto parque romântico plantado com árvores raras e exóticas, decorado com fontes, de cursos de água e de cadeias de lagos, de chalets, capelas, falsas ruínas, e percorrido de caminhos mágicos. O rei tomou também o cuidado de restaurar as florestas da Serra onde milhares de árvores foram plantadas, principalmente carvalhos e pinheiros mansos indígenas, ciprestes mexicanos, acácias da Austrália, e tantas outras espécies que contribuem perfeitamente para o carácter romântico da Serra.
É no terceiro quartel do séc. XVIII que o espírito romântico dos viajantes estrangeiros e da aristocracia portuguesa exultam a magia de Sintra e dos seus lugares, ao que se junta o exotismo da sua paisagem e do seu clima.